João Otávio Nogueira Leiria nasceu no dia 5 de junho de 1908, em São Francisco de Assis. Era filho do tropeiro Lodônio Nogueira Leiria e Isolete Nogueira Leiria. Sua mãe, que sofria de tuberculose, faleceu quando ele tinha apenas cinco anos de idade, trauma esse que o marcou durante toda a sua vida.
Aos 11 de idade, saiu do espaço rural idealizado, vindo morar em Porto Alegre para estudar no Colégio Júlio de Castilhos, sempre voltando à São Francisco de Assis no período de férias escolares.
Anos mais tarde, passou a morar em uma pensão, época em que conheceu grandes personalidades do meio literário, como Cyro Martins, Aureliano de Figueiredo Pinto, José Salgado Martins, Manoelito de Ornellas e Lila Ripoll, com os quais manteve laços de amizade.
No ano de 1924, publicou seu primeiro livro, Campos de areia: poesia crioula, obra editada pela Livraria do Globo, sendo dedicada a seu pai e aos amigos Antero Marques, Aureliano de Figueiredo Pinto e Cyro Martins; composta por 36 versos, divididos em duas partes: “Escaramuças” e “Ao tranco”.
Nessa mesma época, o poeta conheceu Marina Constança Cézar Barradas, aquela que seria sua companheira por toda a vida. Aos 25 anos de idade, casou-se com ela e, ao longo dos anos, teve cinco filhos.
Em São Francisco de Assis, trabalhou no cargo administrativo de Secretário do Município. Concomitante ao exercício de Secretário Municipal, iniciou seus estudos de Direito em Porto Alegre, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No ano de 1938, mudou-se com a família para Porto Alegre, vindo a trabalhar, um ano mais tarde, no cargo de Inspetor Federal de Ensino pelo Ministério da Educação.
Em 1940, Nogueira Leiria formou-se em Direito, atuando por um período como advogado, sendo designado mais tarde à Procurador Fiscal do Estado do Rio Grande do Sul. No mesmo ano, J. O. ingressou na Companhia Jornalística Caldas Júnior, trabalhando inicialmente como repórter, passando a redator e jornalista do então denominado Correio do Povo durante aproximadamente 30 anos, publicando textos opinativos sobre os principais acontecimentos da época, assuntos ligados à literatura, história, às suas memórias e poesias. Além do Correio do Povo, publicou também publicou seus versos em outros importantes periódicos da época, como na Revista do Globo.
Devido ao seu empenho no trabalho como Procurador Fiscal, no ano de 1967, Nogueira Leiria passa ao cargo de Diretor da Procuradoria, ocupando essa função até a sua aposentadoria.
No ano de 1968, Nogueira Leiria publica seu segundo livro Rincões perdidos, pela Livraria Sulina Editora, no qual trata novamente da temática campeira ao longo de 97 poemas, distribuídos em cinco conjuntos, quais sejam: “Estância velha”, “Canto do Ibicuí”, “Teiniaguá”, ”Querência” e “Irapuá”.
Apaixonado pelos temas ligados à terra, o poeta era um admirador da obra Martin Fierro, escrita pelo argentino José Hernández. Profundo conhecedor do dialeto gauchesco, Nogueira Leiria passou cerca de 20 anos traduzindo a obra argentina. Sua tradução foi fruto de imensa pesquisa, estudo e interpretação, sendo considerada a melhor tradução do poema épico de José Hernández para o português, vindo a ser editada, postumamente, em 1972, pela Editora Bels, e, mais tarde, em 1987, em quinta edição, primeira bilíngue, pela Martins Livreiro Editor.
Ao longo de toda a sua vida, sofreu de um grave problema na coluna dorsal, descobrindo anos mais tarde que se tratava de um câncer. Uma cirurgia foi realizada em agosto de 1971, ficando internado durante seis meses no Hospital Ernesto Dornelles. No dia 15 de fevereiro de 1972, o poeta faleceu.
Publicações
LEIRIA, João Otávio Nogueira. Campos de areia: poemas gaúchos. Porto Alegre: Globo, 1932.
LEIRIA, João Otávio Nogueira. Rincões perdidos. Porto Alegre: Sulina, 1968.
Sites que falas de João Otávio Nogueira Leiria, vale à pena conhecer?
www.pucrs.br/delfos/?p=leiria
Hernández tentou capturar o linguajar gaúcho e o fez à sua moda. Além disso, muitos termos empregados no poema perduram nas vozes do pampa. Mas simplicidade não significa facilidade. João Otávio Nogueira Leiria levou 20 anos para verter os 33 cantos do Martín Fierro com maior fidelidade possível para o português. (Ricardo Carle, Especial/ZH)
Trecho
"No me hago al lao de la güeya aunque vengan degollando; con los blandos yo soy blando y soy duro con los duros, y ninguno en un apuro me ha visto andar tutubiando. | "Não saio fora dos trilhos nem que venham degolando; c'os brandos sou sempre brando, e sou duro com os duros, e ninguém, noutros apuros, me viu andar titubeando. | |
En el peligro qué Cristo! El corazón se me enancha. pues toda la tierra es cancha, y de esto naides se asombre: el que si tiene por hombre donde quiera hace pata hancha | Ante o perigo — por Cristo! —, meu coração não remancha: qualquer chão p 'ra mim é cancha; e nisso sentido tomem: quem se tenha por bem homem faz pé firme e não se plancha. | |
Soe gaucho, y entiéndanló Como mi lengua lo esplica: para mi la tierra es chica y pudiera ser mayor; ni la víbora me pica ni quema mi frente el sol. | Sou gaúcho! — Entendam bem como meu canto o explica: a terra ante mim se achica e pudera ser maior; nem a víbora me pica, nem me queima a fronte o sol. | |
Nací como nace el peje en el fundo de la mar: naides puede quitar aquello que Dios me dió: lo que al mundo truje yo del mundo lo he de llevar." | Nasci como nasce o peixe nas profundezas do mar; ninguém me pode tirar aquilo que Deus me deu: o que aqui tenho de meu, do mundo o hei de levar." | |
(Extraído de Martín Fierro, de José Hernández, tradução de J. O. Nogueira Leiria, Martíns Livreiro, 1991) |
Sem comentários:
Enviar um comentário