Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus Que abrandais o frio do mundo,
Rogai por nós.
Eis a ovelha.
E como são mansos seus olhos.
Nos fundões de campo desta terra
Sua carne mata a fome.
Ovelha, velo, vela,
Tudo se reduz a um só consumo,
Na vida simples do homem da campanha.
A carne é como o pão de cada dia;
A lã – nas roupas de trabalho,
Nos bicharás de repontar garoas
Nestes invernos de Deus;
Até a chama do candeeiro, ardendo a sebo,
Nos ranchos mais humildes desta terra
Onde nem luz de lampião logrou chegar.
Eis a ovelha
E como é bom criá-la.
Que doce encanto esse, que é nos dado,
Cuidar criatura tão infensa,
Pois nós não somos os seus lobos,
A mão da faca é a mesma que lhe pensa.
Não sou dos que vêem crueldade
Na matança desses animais
Criados pra morrer em holocausto.
Não pensem que a pieguice dos incautos
Vai desviar a faca ao nosso braço.
A carne vai sobrar em nossa mesa,
E a graxa vai chiar em nosso prato.
Ah! Criar ovelhas,
Apartar rebanhos.
É preciso ciência de campeiro
Para entender de velos e de raças
E saber que o rebanho mais viceja
Debaixo dos cuidados de seu dono.
É preciso saber, que criar ovelhas,
É viver com elas, tal se fosse uma,
Para entender seus males, seus desejos,
Conhecer de carências, de manejos,
Das doses certas, de estação de monta.
É preciso ter alma de campeiro
Para alegrar-se nas manhãs de agosto
Num reboliço de cordeiros.
Coisa bela, essa, de criar-se,
Ver a vida brotar em nossas mãos,
Tomar ao colo o recém-nascido,
Gelado fruto, agora posto em vida,
E dar-lhe calor qu’inda lhe falta
Para que viva e que se crie
E venha um dia devolver calor
Na lã que sobra, e tanta falta
Faz ao nosso tanto frio.
Sou um homem da terra!
Tenho raízes nas pedras,
Não posso ser um sentimental.
Mas a cada ovelha de consumo;
Não consigo desviar-me dos seus olhos,
Dos seus mansos olhos de piedade e de perdão...
Não me é possível olvidar
O seu destino de se dar inteira,
Corpo e pele, para fome e frio,
Graxa de luz para os que não a têm.
Ah! Destino piedoso
Esse de ofertar-se entre pedaços,
Para tornar possível nossas vidas.
E por acaso
Não seremos nós, seus criadores,
Portadores de sina parecida?
Não são dos nossos braços
As casas que erguemos,
As coisas tantas que fazemos
(como já fizeram nossos anteriores)?
Obras que ofertamos
Aos que viram depois de nós,
Aos que estão vindo
E aos que chegarão.
Não seremos nós, os passageiros
Desse comboio que viaja em nosso tempo,
Os que estamos construindo um mundo bom para ofertar-lhes,
regado pelo suor da nossa carne,
aquecido pelo calor de nossa pele?
Sinas iguais. AGNUS DEI.
-Cordeiro de Deus Antonio Angusto Ferreira -Cordeiro de Deus ou em latim, Agnus Dei, é uma expressão utilizada no cristianismo para se referir à Jesus Cristo, identificado como o salvador da Humanidade, ao ter sido sacrificado em resgate pelo pecado original.
Na arte e na simbologia icônica cristã, é frequentemente representado por um cordeiro com uma cruz. A expressão aparece no Novo Testamento, principalmente no Evangelho de João, onde João Batista diz de Jesus: "Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo" (João, 1:29).-