Minha primeira apresentação musical aconteceu no ano de 1963. Foi numa reunião de pais e mestres na escola Parobé, onde fui estudar. Um de meus colegas nesta apresentação era o "Lessa", não me lembro de seu primeiro nome, mas sei que depois de alguns anos adotou o apelido de "Mimi" (guitarrista dos bons, fazia parte do grupo de rock Liverpool) .
Em 1964 fui morar na rua Miguel Teixeira, no bairro cidade baixa. Fiz amizade com Betinho Baraldo (filho de Vilsom Baraldo, baterista do conjunto Norberto Baldauf). Formamos, então, com mais um amigo nosso, o meu primeiro grupo de rock, "The Riders", e nos apresentamos em algumas escolas e num festival de rock realizado no SENAC. O Padre Fábio foi quem realizou a primeira reunião dançante em que tocamos, no salão paroquial da Igreja Pão dos Pobres.
Meu Pai tinha banca no Mercado Público e via meu interesse pela música. Um certo dia, conversando com um conhecido, ficou sabendo que o filho deste senhor tocava contra-baixo e queria participar de um conjunto musical. Um encontro foi marcado por meu Pai, e dessa reunião nasceram "Os Bárbaros": Betinho Baraldo (bateria), Valdomiro (contra-baixo), Vladmir (guitarra solo), Heleno Gimenez (guitarra base) e Samir (saxofone).
Seguíamos, como todos os outros grupos jovens, o caminho do rock instrumental internacional dos gruposThe Ventures, The Shadows, e dos nacionais The Jet Blacks, The Jordans e Os Incríveis.
O repertório era quase o mesmo de todos os conjuntos dessa época: The Jetsons, The Silvers, The Cleans, Os Bárbaros, Os Gatos, The Sailors, The Falcons, Os Galgos e muitos outros que fizeram nome nas tão famosas reuniões dançantes. Iniciavam o baile ao som de: O Milionário, Blue Star, Apache, Tema para Jovens Enamorados... O transporte era feito em Kombis alugadas, e numa única noite tocávamos em vários clubes, sendo uma ou duas horas de apresentação em cada entidade social.
Todos se encontravam entre chegadas e saídas, carregando seus amplificadores e lindas guitarras modelo STAR, onde a parte frontal era revestida de fórmica em cores diversas, fabricadas pelo Seu Adão, da Mil Sons (hoje Martin Sons).
Havia apenas um efeito sonoro para os solistas, o "trêmulo", que era feito em um taco de madeira com um botão igual ao de uma campainha usada nas portas das casas, e quando pressionado pelo pé do guitarrista, uma das válvulas do amplificador acendia e apagava em uma velocidade já previamente regulada por um potenciômetro (6L6 era o nome dessa válvula). Lembro que tínhamos sempre 3 ou 4 de reserva, pois queimavam com frequência. Surgiu então o aparelho True Reverber da Giannini, que trazia para o efeito de reverberação uma espécie de caixa feita em metal de mais ou menos 40 cm. de comprimento por uns 10cm. de largura, e em seu interior haviam duas molas esticadas. O cuidado com essa caixa era imprescindível, pois a qualquer trepidação as molas vibravam e um tipo de estouro saía pelos alto-falantes. Pouco tempo depois a fábrica Phelpa lança o amplificador "Apache" com “câmara de eco”, efeito sonoro tão desejado pelos guitarristas. O mecanismo criado para produzir o eco era sensacional. Imaginem uma fita de gravador de rolo de 2 canais emendada nas pontas com mais ou menos 20cm. de diámetro. Chamava-se "fita sem fim", e girava como uma correia em velocidade também controlada por sobre 3 cabeças de gravador, colocadas em ordem triangular, que faziam trabalho simultâneo, gravando, apagando e reproduzindo as notas emitidas.
Não posso deixar de citar aqui as excelentes guitarras que surgiram depois: a Gemimi e a tão cobiçada Super Sonic da Giannini, inspirada na Fender Tele-Caster, que nós, músicos, só víamos em fotos de capas de LPs dos conjuntos internacionais. Nos dias de hoje quem tem uma Super-Sonic sabe a relíquia que tem.
O lucro dessa imensa quantidade de grupos musicais era recolhido por dois empresários: Rosário Vechio e Rubens Quinteiro, que também contratavam e traziam os shows dos artistas famosos do centro do país para se apresentarem em Porto Alegre, na maioria das vezes acompanhados pelos grupos aqui já citados por mim.
Tenho prazer em dizer hoje que, quando jovem, acompanhei Leno e Lilian, Jerry Adriani, Ari Sanches, Adriana e Martinha.
As salas destes empresários situavam-se no edifício Chaves Barcelos, conhecido como edifício do Relógio, bem na esquina da Rua dos Andradas com a General Câmara, onde o entra e sai de músicos era uma constante. Feitos os contatos empresariais, os artistas se reuniam na frente do prédio para contar o que haviam conseguido de trabalho para o fim de semana que se aproximava. Este local também ficou conhecido pelo nome de Largo dos Músicos .
O concurso Nacional da Jovem Guarda foi realizado em Porto Alegre. Todos os grupos da capital e interior se inscreveram, e ao vencedor seria dada a oportunidade de ir a São Paulo participar do programa Jovem Guarda e gravar um LP com lançamento nacional .
Recordo com saudade desse festival, pois eu e meus companheiros dos "Bárbaros" participamos tocando Cavaleiros do Fogo, música gravada pelos The Jet Blacks, tocada todas às noites no encerramento da TV Piratini. O sonho de muitos foi realizado pelo conjunto The Jetsons (sem dúvida alguma um dos melhores), e que depois viraram Os Brasas, nome dado à eles por Roberto Carlos. Quero destacar aqui dois músicos desse grupo: O guitarrista Wagner e o contra- baixista Italiano.
Quando, mais tarde, o grupo se desfez, surgiu o nome de Luiz Wagner, sucesso com o samba-rock e Italiano passou a chamar-se Franco (hoje um grande empresário musical e pai dos meninos do KLB), que junto com outros cantores foi um dos galãs do Programa Sílvio Santos.
The Beatles, sem dúvida alguma, mudaram o comportamento dos jovens no mundo. E liderada por Roberto Carlos, a Jovem Guarda era o sucesso no Brasil.
Havia, neste tempo, apenas dois canais de televisão em Porto Alegre: a TV Piratini e TV Gaúcha. Os programas eram feitos ao vivo, não existia ainda o vídeo tape e Os Bárbaros apresentavam-se nestas duas emissoras nos programas TV de Brinquedo, apresentado por Antônio Gabriel, Parque Infantil, apresentado por Valdemar Garcia, GR Show, apresentado por Glênio Reis, e Juventude em Brasa, apresentado por Daltro Cavalheiro, que nos fins de semana realizava com os grupos a famosa “Seis horas de IÉ IÉ IÉ", lotando clubes como Dinamite, União e Progresso, Sociedade Espanhola e outros importantes da cidade. Vico, Alexandre, Dini e Chico formavam o grupo The Sailors e eu até hoje não sei porque não quiseram mais o lugar de conjunto fixo do programa de Daltro Cavalheiro. Meu grupo "Os Bárbaros" assumiu a vaga deixada por eles.
Os artistas que se apresentavam no programa Juventude em Brasa ensaiavam em minha casa, entre eles: Luiz Delfino, Leninha e Maria de Fátima - a Garota Tremendona, na época apelidada carinhosamente por Daltro, pois as vezes apresentava-se vestindo a calça Tremendão, lançada por Erasmo Carlos. Roberto Carlos já havia lançado a calça Calhambeque, e as duas foram sucesso de venda. Trago ainda na memória o primeiro programa que participamos. Luiz Delfino cantou "Tua Voz" e Maria de Fátima "Ninguém poderá julgar-me".
Em dezembro de 1966, cumprimos nosso último contrato, uma temporada de 45 dias na SAT, em Tramandaí, e ficamos juntos um mês e meio no mesmo alojamento. Esta convivência foi, sem dúvida, desgastante, e quando regressamos no final de janeiro de 1967 a Porto Alegre, resolvemos continuar amigos e terminar com o conjunto Os Bárbaros.
Antes de ir com meu grupo para Tramandaí, eu e Maria de Fátima já ensaiávamos um namorinho. O meu grupo havia terminado, então convidei três amigos do meu bairro: Carlinhos (bateria), Jorge (contra-baixo), Tuca (guitarra) e formamos para acompanhar a Maria de Fátima o grupo MF4 (Maria de Fátima e os 4), e começamos a nos apresentar em vários clubes, festas e em reuniões dançantes. Fomos convidados por Glênio Reis a participar dos shows que ele apresentava, superlotando o antigo cinema Cacique (hoje um estacionamento na Rua dos Andradas).
Participávamos tambem do programa de Glênio, o GR Show, líder de audiência na TV. Glênio, sem dúvida alguma, era o grande disc jokey da época e entrava no ar com seu programa sempre dizendo: "- Alô Mamãe!!!".
Um dos quadros do GR Show estabelecia uma disputa entre a música brasileira e a estrangeira. Érica Norimar, com Adão Pinheiro Trio defendia a MPB e Maria de Fátima, com o MF4, a música estrangeira. Os votos eram dados pelos jurados e pela platéia. Tenho guardado ainda na memória um desses quadros, quando Érica cantou Upa Neguinho e Maria de Fátima, com o MF4, defendeu Black is Black .
Mais tarde Glênio formou o conjunto GR Show, tipo big band, e faziam grandes bailes em Porto Alegre e no interior.
Em março de 1969 casei com Maria de Fátima. Em junho deste mesmo ano meu Pai partiu antes do combinado. Então parei com a música e fui trabalhar no mercado público, no bar que ele havia deixado.
Sete anos passaram e eu, Maria de Fátima, Sérgio e Duda formamos o primeiro grupo Tempero.
Tivemos 4 formaçoes diferentes. Comigo e Maria de Fátima tocaram Renato Leite, Paulo Campelo, Nene, Beto Bolo, Chicão Dorneles, Nicomedes, Carlos Dutra, Zé Caradípia e Mano Monteiro. A formação que mais se destacou, sem dúvida, foi com Beto Bolo, Carlos Dutra e Chicão Dornelles.
Fazíamos o estilo Rock Rural. Conhecemos João Palmeiro (João da Benga), que nos apresentou Zé Gomes, Neneco, Ivaldo Roque e outros da bossa nova. Em São Paulo, Neneco nos levou na casa de Theo de Barros, compositor de Disparada. Gravamos o programa de Inezita Barroso "Viola, Miha Viola". Participamos de vários festivais, gravamos com outros grupos o LP "Som Grande do Sul", montamos um terno de reis a pedido de Barbosa Lessa e Paixão Côrtes, implantamos os polos culturais (projeto da SEC), viajamos tocando pelo interior do RS, nos apresentamos em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Fiz parte também dos Cantores dos Sete Povos, o grupo de Telmo de Lima Freitas e Edson Otto.
Me tornei parceiro de Barbosa Lessa, Hilário Retamozo, Hercules Grecco, Dirceu Abrianos, Júlio Rodrigues, Nilo Brum, Jaime B. Carlos, Vaine Darde, Jorge Rodrigues e outros.
Resolvemos terminar com o Grupo Tempero e eu segui acompanhando Maria de Fátima, que adotou o nome astístico de Fátima Gimenez.
Considero que a minha maior contribuição para a música gaúcha seja a canção "Cabo Toco", vencedora da 5ª Vigília de Cachoeira do Sul, de minha autoria em parceria com Nilo Brum. Esta canção conta a história verdadeira de uma mulher que lutou a favor do governo nas revoluções de 1923 e 1932, onde enfrentou Honório Lemes e Zeca Neto.
Meu casamento com Fátima Gimenez durou 28 anos, e nada tenho a reclamar, só posso agradecer à Deus. Temos 3 filhas lindas e afinadíssimas: KÁTIA, ADRIANA e ANA PAULA, que nos deram netos mais lindos que elas. Gabriel e Laura (filhos de Kátia), Juliana e Mariana (filhas de Adriana) e Letícia, Renata, Juan e Lucas (filhos de Ana Paula). No dia 14 de dezembro de 2011, nasceu Fernanda, minha 1ª bisneta (filha de Letícia, a neta mais velha). Fiquei muito feliz, pois o nome Fernanda foi dado em homenagem à meu pai, que se chamava Fernando.
Depois, fui ser guitarrista de Jader Moreci Teixeira, o Leonardo, compositor de "Céu, Sol, Sul, Terra e Cor". Já éramos amigos desde 1976 e nossa amizade se fundamentou mais ainda pelos anos em que tocamos juntos. Estive com ele até o dia de sua morte, pois éramos o conficionário um do outro, e com ele aprendi uma frase que vou levar comigo como lema até ofim da minha vida:
"O MAIS DIFÍCIL É FAZER O SIMPLES"