segunda-feira, 9 de julho de 2012

Punhais

Paulo Ricardo Costa

O tempo é um punhal de corte,
Que corta mais que navalha,
E os sonhos são as mortalhas,
Enterradas pelos caminhos,
Quando se buscou pelos anos...
O que esse tempo escondeu,
E o próprio tempo esqueceu,
Pra seguir no mundo sozinho;

E assim a vida prosseguiu...
Com outros punhais de corte,
E tem um, ainda, mais forte...
Afiado na lâmina da cobiça,
Que corta as fontes da verdade,
Sangrando sem dó, nem pena,
Simplesmente ao Justo, condena,
Minguando na dor da injustiça;

A história sempre teve punhais,
Chairando seu fio na maldade,
Degolando de toda a verdade...
Os que eram contra os tiranos...
Que se sustaram por anos,
Nas artimanhas do poder,
Fazendo os justos, padecer,
Num viver quase desumano;

Assim fizeram seus reinados,
Apunhalando inocentes...
Cortando a cerne de gente,
Com quem sangra um animal,
Porque ódio e a maldade...
Ditavam as regras mais cruéis...
No livro torpe, dos infiéis,
Que se aprofundavam no mal;

Escravos de uma vida maula...
Vivendo pior do que bicho...
Comendo as sobras, do lixo,
Na carne negra, da cor...
Erguendo falsas bandeiras,
Da guerra escrita com sangue,
Em nome de um Rio Grande,
Que nunca lhes deu valor;

Há! Punhal da desgraça!
Dos que morreram sem nome,
Pra sustentar a guerra dos homens,
Que o tempo lhe fez injusto...
Enquanto uma história comprada,
Alimenta a boca das traças,
Seus netos vivem nas praças,
Dormindo à sombra de um busto;

E os que morreram nos campos,
Sem nunca enfrentar batalha...
Que nunca acharam a mortalha,
Na história podre e cruel...
São os esquecidos da guerra,
Enterrados em covas rasas...
Quem perdeu a vida e a casa,
Pra estância dalgum coronel;

E tem o punhal mais feroz...
Que esse corta, à distância,
Com a lâmina fria da ganância,
Que consome a vida dos seus,
São talhos, fendas e cortes...
Sem se importar com a ferida,
Vão exterminando às vidas...
Como se fossem o próprio, Deus!

Há o punhal da ignorância...
Desses, que sofrem calados,
Pelo mundo, já condenados,
A viver aos pés da desgraça,
Sufocando a fome alheia,
Co’a própria fome dos filhos,
Erguendo a bandeira dos caudilhos,
Pelos palanques das praças;

Talvez um dia a humanidade,
Tire o peso desses punhais...
Porque não aguentam mais,
A cada corte profundo...
Morre aos olhos da justiça,
Morre os sonhos dessa gente,
De tanto matarem inocentes...
Pouco sobrará deste mundo;

Mas antes da minha morte,
Quero rever os conceitos...
Talvez, pelear pelo direito,
De sermos todos iguais...
E ver, quem sabe, um dia...
Por uma longa trajetória,
As linhas de uma nova história,
De verdades...e sem punhais!

Fim.

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