segunda-feira, 23 de julho de 2012

A Flor e a Pedra

                                             Paulo Ricardo Costa
   
Um ramalhete de flores,
Já secas pelo relento...
Só um gemido de vento,
Latejando na pedra fria,
Rolam duas lágrimas vazias,
Entre orações e perguntas...
Há duas Mãos que se juntam,
Clamando a fé dos seus dias;

Na lápide, a simples inscrição,
Carregada de peso e dor:
- "Aqui jaz, Maria Flor",
Flor mais nova de outra Maria,
Que viu a sua vida vazia...
Perdida pelas distâncias,
Afogada na dor da lembrança,
Que vai matando os seus dias;

No rancho de chão batido,
De pau a pique e santa fé,
Dona Maria e seu José...
Tropeavam sonhos na cara,
Quando o pensamento dispara,
Vendo aquela menina sapeca...
Brincando com sua boneca,
E as pedrinhas que juntara;

No seu mundo imaginário,
Criado a sombra do arvoredo,
Maria Flor contava segredos,
Nos seus brinquedos de criança,
Sem se importar com a distância,
Que um dia, ao tempo descobre...
Nos sonhos da menina pobre...
Só o que recebera de herança;

E as pedras foram as parceiras,
Para os brinquedos imaginários,
De pedras fazia rosários...
Para as orações à tardinha,
E quando se sentia sozinha...
Polindo sonhos, inocentes,
As pedras estavam presentes,
Pelas fortunas que tinha!

Quando a Mãe ia pra sanga,
Lavando roupa pra fora...
Maria Flor não via a hora,
De chegar junto a barranca,
Juntando pedrinhas brancas,
De tons e formas diferentes,
Umas com imagens de gente,
Outras com imagens de Santa;

Jogava seus sonhos na água,
No mergulhar das marrequinhas,
E em cada pedra que tinha...
Guardando mais que desejo,
Que ela trocava por beijos,
Na sua inocência de criança,
Guardadas, como lembrança,
De algum mascate, andejo;

Maria flor se fez moça...
E os sonhos cresceram mais,
Vendo o mundo do Pais...
Tão pequeno e tão sofrido,
Talvez não tenha entendido,
Num coração sem maldade,
Que há um mundo de falsidade,
Num outro mundo esquecido;

Buscou o rumo do povo...
Dos arranha-céus, da cidade,
Lá onde os olhos da maldade,
Rondam pessoas carentes...
Trazendo sonhos, inocentes,
Enfeitados em cenas de novelas,
O tempo foi mostrando a ela...
Um mundo que não é pra gente;

Conheceu o mundo dos livros!
Conheceu amigos no colégio,
Conheceu alguns privilégios...
Deste mundo abarbarado,
Que, às vezes, cobra dobrado,
O que a vida nos dá de esmola,
Buscando na porta da escola,
O Inocente à ser condenado!

Pois a curiosidade é mais forte,
Na vida maula que medra...
Diante da primeira pedra,
Do primeiro fio de fumaça,
E a droga exposta de graça,
Dizimando corpos inteiros,
Terminando sonhos derradeiros,
Pelos cemitérios das praças;

Maria flor conheceu a pedra,
Mas não aquelas que queria,
Viu que sonho e rebeldia...
Não são filhos da mesma sorte,
A droga sempre é mais forte...
Corroendo mentes vazias...
E deixando almas sombrias,
Inertes ao lâmina da morte;

E a Mãe que, hoje, chora...
Sobre uma lápide de pedra,
Há meses que não arreda...
Junto ao túmulo da filha...
Olhar triste, nem brilha,
No peito um talho, de dor...
Mirando a Pedra e a flor,
O que restou de uma família!

FIM

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