LITERATURA DA LINGUA PORTUGUESA
Esse texto é
baseado no livro “Curso de Literatura da Língua Portuguesa – escrito por
Ulisses Infante – da editora scipione que achei no lixo e pude estudar e
aprender um tanto mais sobre a Poesia e suas fases. Talvez possa conter alguma
coisa da minha imaginação, bem como faltar com alguma verdade para os literatos
e acadêmicos de literatura, o qual já peço perdão, porque é difícil lembrar e
resumir ideias tão completas e tão complexas, mas para quem interessar
aconselho que leia o livro em sua integra, além do belos poemas que lá existem.
Também peço
desculpas se acaso de algum erro de concordância, acentuação, pontuação, pois a
ânsia de escrever, para quem não é escritor, é logo chegar ao seu final, e isso
faz com que passamos por coma de própria língua portuguesa.
Deixo aqui o meu
agradecimento a todos.
_________________________________________________________
Para entender o que é poesia precisamos conhecer um
pouco de LiTERATURA. No dicionário Aurélio diz que, na acepção que nos
interessa, Literatura á a arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em
prosa ou verso.
Na literatura precisamos entender
que existe dois tipos de textos: Literário e Não-literário.
TEXTO LITERÁRIO: Conforme as circunstâncias empregadas, a situação da
fala, podemos dizer que texto literário descreve algo que realmente acontece.
-
Uma flor nasceu no chão da minha rua!
TEXTO NÃO-LITERÁRIO: é a utilização especial da língua que empregamos.
Enfeitados que dá gesticulação e entonação no texto, abre-se para um sentido
múltiplo, ganha marcas de ambiguidade no contexto do fragmento, não
reproduzindo nenhuma realidade imediata.
- Uma flor nasceu na rua!
Passem
de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego,
Uma
flor ainda desbotada,
Ilude
a Polícia, rompe o asfalto,
Façam
completo silêncio, paralisem os negócios,
Garanto
que uma flor nasceu.
(Carlos
Drummond de Andrade – A Flor e a náusea)
Também temos que entender o que é
DONOTAÇÃO e CONOTAÇÃO:
DENOTAÇÃO: A Palavra provem do latim “denotatione” – Indicação – e designa o sentido literal das
palavras, o sentido que naturalmente se encontra escrito nos dicionários, que
visam objetividade, como é o caso da linguagem didática, a linguagem científica
e no jornalismo.
- Uma flor nasceu no chão da minha
rua!
Nesse caso flor, é somente um
pragmatismo vegetal.
CONOTAÇÃO: A palavra vem do latim “cun + notatione” – notação – marca – ação de marcar conjunto
- designa os vários sentidos que uma
palavra pode adquirir ao entrar em contato com as outras que formam um texto.
Uma flor nasceu na rua!
Passem
de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego,
Uma
flor ainda desbotada,
Ilude
a Polícia, rompe o asfalto,
Façam
completo silêncio, paralisem os negócios,
Garanto
que uma flor nasceu.
(Carlos
Drummond de Andrade – A Flor e a náusea)
Aqui a flor toma vários sentidos e
cada um pode imaginar o que quiser.
POESIA E PROSA:
Na literatura temos duas formas de
manifestação: POESIA e PROSA. Os limites entre uma e outra são imprecisos e
cada vez menos nítidos, pois como muita frequência se podem encontrar na prosa
contemporânea características que por muito tempo foram atribuídas com
exclusividade a poesia.
A Palavra POESIA provem do grego
“poesis” – ação de fazer, criar alguma coisa. Na construção de um texto poético
ou poema, colaboram principalmente o uso CONOTATIVO das palavras e seu valor
sonoro, com a qual lida a criatividade do artista. A Poesia na sua origem era
cantada ou declamada com acompanhamento de instrumentos musicais, o que ajuda a
compreender a sua configuração melódica.
A
palavra PROSA provem do latim “oratione
preosa” – discurso livre em linha reta. Ma prosa o uso conotativo das
palavras é limitado, persistindo o grau de denotação. Enquanto a Poesia pode vir com ritmos
marcados e em formas de versos rimados ou não, sequência de silabas poéticas, a
prosa tem sua situação proveniente da organização lógica do discurso, com
textos na forma de parágrafos.
Importante:
A
diferença entre PROSA e POESIA não está na disposição gráfica das palavras e
frases do papel. Nem tudo que está escrito em forma de verso é POESIA, assim
como há poesia em muitos textos escritos ou parágrafos. Além disso, na
literatura contemporânea, tem sido cada vez mais frequente a interpenetração
dessas duas formas de composição criando efeitos estéticos difíceis de
classificar, mas riquíssimos em experiências de leituras.
GÊNEROS LITERÁRIOS
Acompanhado desde a Grécia Antiga,
os gêneros literários basicamente servem para tentar classificar obras
literárias com o passar dos tempos, conhecendo épocas, como verdadeiras
fórmulas a serem seguidos por quem se dispõem de fazer literatura.
Atualmente a teoria dos gêneros é
vista como um recurso instrumental, que pode, muitas vezes, facilitar o estudo
e a apreciação dos textos literários. Considera-se três gêneros: o LIRICO, o
ÉPICO e o DRAMÁTICO.
Nós vamos tratar mais do gênero
Lírico, claro que dando uma pincelada nos outros gêneros, visto que a poesia
que fazemos está mais voltada para o lirismo.
GÊNERO LÍRICO
Em sua origem a Poesia lírica era
cantada ou acompanhada por instrumentos musicais. A própria palavra
“Lírica! Está ligada a “Lira” –
instrumento de cordas – e era a Poesia que falava de emoções individuais ou
sentimentos íntimos, relacionada normalmente com a temática amorosa e com o
extravasamento das subjetividades.
Com o passar do tempo os poemas
líricos deixaram de serem cantados, mas a sua característica mais marcante é a
preocupação com a qualidade sonora das palavras, organizadas em sucessões
rítmicas e sugestivas.
Com o passar do tempo o gênero
lírico passou a incorporar temas filosóficos e preocupações de cunho social,
além de manifestar um cuidado constante com a atividade poética, por isso ela
não é só uma poesia sentimental, mas também uma poesia reflexiva, uma vez que
se volta para a realidade cotidiana.
A
Poesia Lírica apresenta várias formas poéticas fixas:
-
Soneto – Canção – Elegia – Ode – Écloga ou Égloga –
- SONETO – Provém do Italiano sonetto – Pequeno som – é um poema que tem 14 versos; na poesia em
língua portuguesa, esses versos estão geralmente distribuídos, em dois
quartetos – estrofes de 4 versos - e
dois tercetos – estrofes de 3 versos -
com vários esquemas de rimas, que já foram praticados.
- CANÇÃO – A palavra traz a relação entre a Poesia e a música,
com estrofes variadas, rimas variadas e quantidades de versos variados, mas
normalmente se refere a temas amorosos ou românticos.
- ELEGIA – Poemas que expõe sentimentos dolorosos, digressões
moralizantes com o intuído de ajudar o ouvinte ou leitores a suportar perdas ou
momentos difíceis.
- ODE - Provem do grego e significa “canto”. Domina composições líricas de
tons normalmente solenes e entusiastas e podem tratar de temas variados, desde
os prazeres da mesa até vitórias em jogos.
- ÉCLOGA ou ÉGLOGA – Provem do grego e significa “seleção”. Nomeia o Poema de temas pastoril, normalmente dialogados.
Há além dessa muitas outras formas
como: balada, rondó, rondel, haicai, as oitavas, sextilhas, décimas...
GÊNERO ÉPICO
Os Poemas épicos tem origem bastante
antiga, o Épico de Gilgamesh, sumério,
é anterior a 2000 a.C. Nas civilizações antigas, a elaboração de um Poema Épico
era um processo lento, resultante da criação de diversas narrativas orais que
procuravam fixas as informações mais importantes da história de um povo.
Posteriormente, o material dessas narrativas era aproveitado para a produção de
um único poema. Em cerimónias
Coletivas
esse poema era declamado, com acompanhamento musical, oportunizando ao membros
da coletividade a se identificar nos feitos e conquistas de seus antepassados. A
Ilíada e a Odisseia, poemas épicos gregos tradicionalmente atribuídos a Homero
tem essas características e são consideradas as mais bem acabadas manifestação
de poesia épica. Serviram de exemplo ao Poeta Latino Virgílio para compor Eneida, neste caso um poema escrito por um
único poeta.
Em Português houveram inúmeros
poemas épico, o mais importante OS Lusíadas de Luís de Camões, Poeta Português,
que conta a história de seu povo no processo de formação e expansão marítima e
a viagem de Vasco da Gama às Índias. Não Podemos esquecer os Brasileiros
Basílio da Gama com o Uruguai e do
Frei José de Santa Rita Durão como Caramuru.
LEMBRETE
A emoção e a sensibilidade são
fundamentais no trabalho com a Poesia.
A FORMAÇÃO DO POEMA
Um Poema e formado por estrofes que
por sua vez são formada por versos. Os versos são as linhas de cada estrofe.
Num poema podemos ter estrofes de:
2
versos – chamamos de dísticos ou parelha
3
versos – chamamos de terceta
4
versos - chamamos de quadra ou quarteto
5
versos - chamamos de quinteto ou
quintilha
6
versos – chamamos de sexteto ou sextilha
7
versos - chamamos de sétima, setilha,
setena ou hepteto
8
versos – chamamos de oitava
9
versos – chamamos de nona ou novena
10
versos - chamamos de décima
Há poemas cujos versos não obedecem
esquemas regulares quanto ao número de silabas, disposição das silabas ou
organização em estrofes, sem esquema métrico regular, esses são chamados versos
livres. E há outros obedientes a métrica, mas sem rimas, que chamamos
de versos
brancos.
RIMA
É o relacionamento sonoro de um
verso com os demais. A reiteração de determinado sons no final dos versos, uma
coincidência sonora, que surge a partir da vogal da última sílaba tônica do
verso. Se todos os sons coincidirem termos rima soante ou consoante.
Ex. rimar: Canção – Coração – Fração -
Mas se as vogais coincidirem e as consoante não,
teremos rima toante.
Ex. rimar: Canção – Ilusão – Mão
Em
Português podemos estudar três tipos de sonetos:
Soneto
Italiano ou petraquiano – é o
mais usado em português, normalmente escrito em versos decassílabos e composto
de dois quartetos e dois tercetos, com rimas nos quartetos costumam serem as
mesmas, diferentes das dos tercetos.
Soneto
Inglês ou shakespeariano –
composto por três quarteto e um dístico, com rimas - abab – cdcd – efef – gg
Soneto
spenserista – Composto por três
quadras e um dístico, com rimas – abab – bcbc – cdcd – ee –
A POESIA PALACIANA
As canções da segunda época medieval
mantém afinidades temáticas com a primeira época, mas delas se distanciam pela
língua já bastante próximo do português moderno. Outra diferença é que na
segunda época as composições são declamadas e não amis antadas com
acompanhamento de instrumentos musicais.
A Principal fonte desse período é o Cancioneiro geral publicado em 1516 e
reúne cerca de 1000 composições de 286 autores, algumas em castelhano, e
abrangiam poemas de temas amorosos, tentativa de poesia épica, longas
discussões. Poesia satírica, textos teatrais em versos,
A poesia palaciana da cancioneira
real com versos em formas de redondilha
maior – heptassílabas – e redondilha
menor – pentassílabas – núcleo da tradição poética que a partir do
Renascimento, passou as ser conhecida como medida velha. As redondilhas, do
Trovadorismo, difundiram as formas poéticas conhecidas como esparsa, vilancete
e cantiga.
ESPARSA – é um poema de uma única estrofe formada de no
mínimo 8 e no máximo 16 versos.
VILANCETE – dois ou três versos inicias servem de tema para que
o poeta forme a sua própria estrofe de sete versos.
CANTIGA – tem uma estrofe de 4 a 5 versos e outra estrofe com
8 ou 10 versos.
O BARROCO
O ano de 1580 morre Luís de Camões e
em que Portugal perde a sua independência política, é o marco cronológico da
passagem do Clássico para o Barroco ou Seiscentismo. No Brasil o limite do Barroco Literário são:
a publicação do poema Prosopopéia de
Bento Teixeira em 1601 e das obras poéticas de Claudio Manoel da Costa em 1768.
O ARCADISMO
Em 1756 um grupo de intelectuais
portugueses, fundou a Arcádia Lusitana, que surgiu com uma intensão polemica de
combater o excessos literários do barroco, propondo um retorno a simplicidade
expressiva dos clássicos renascentistas.
O nascimento de uma Arcádia Literária – sociedade literária – em Lisboa
é o marco inicial do Arcadismo que se estendeu até 1825, quando a publicação do
Poema Camões, de Almeida Garrett evidencia o advento do Romantismo.
No Brasil o Arcadismo teve início
com a publicação, das obras de Claudio Manuel da Costa em 1768 e se estendeu
até 1836 ano em que Gonçalves de Magalhães publicou Os Suspiros Poéticos e Saudade,
obra inicial do Romantismo brasileiro.
O ROMANTISMO
Teve início em 1836 e procurava
promover o independência cultual do Brasil, visto que politicamente havida sido
proclamado em 1822, e visava a criação de uma arte meramente nacional, que
pudesse constituir nossas formas de expressão mais autenticas. A produção
poética foi muito grande e pode ser dividido em três gerações:
A primeira foi marcada pela pátria recém independente e procurava uma
forma de expressão autentica, o Romantismo era marcado pelo Nacionalismo e pela
religiosidade. Destacamos Gonçalves Dias e Claudio Manuel da Costa
A segunda começou depois de 1850 e
os poetas estão voltados para a própria individualidade, preocupando-se com a
expressão de seus sentimentos e frustrações, além disso a poesia torna-se moda
nos salões do Segundo Império, aumentando a preocupação com a musicalidade do
texto. Destacamos Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu,
Fagundes Varela, Aureliano Lessa e Teixeira Mello.
A terceira geração da poesia
romântica brasileira coloca em segundo plano o individualismo e volta-se para
os problemas sociais, começando aparecer os Poetas abolicionistas e
republicanos e a crença no poder da educação e do progresso. Começa em 1860 e
um dos representante dessa geração foi Castro Alves, acompanhado de Pedro Luis,
Narcisa Amália, Silvio Romero, Martins Junior, Matias Carvalho e Lúcio
Mendonça.
POESIA CONDOREIRA E LIRICA
Castro Alves foi a maior expressão
da Poesia Condoreira no Romantismo brasileiro, produziu muitos poemas em tom
grandiloquente, rico em comparações grandiosas e altissonantes, dedicados temas
como abolição de escravidão negra, a crença no futuro progressista da américa e
a luta pela implantação da República.
O PARNASIANISMO - A Arte pela
arte
Surgiu na França com a publicação da
antologia Le Parnasse contemporain - recueil de vers nouveaux – O Parnaso
Contemporâneo – recolha de versos novos -
feita nos anos de 1868 – 1871 e 1876, colaboraram com essa antologia
poetas como:
Gautier
– Théodore de Banville - Leconte que se
tornaram mestres e modelos da nova estética, ao lado de outros que pertenciam a
escola simbolista.
No Brasil somou-se à diversas
correntes que depois de 1878 combatiam o
excesso do ultra-romantismo. Adeptos da concepção de a arte pela arte, e com a ação do Poeta Artur de Oliveira, e as
ideias de Machado de Assis, sobre poesia, publicados na imprensa orientaram muitos jovens poetas à essa nova
tendência, produzindo obras mais significativas.
Nessa poesia de formas e contornos,
não havia espaço para derramamentos subjetivos: Eles perseguiam a
impassibilidade, que deveria ser obtida por meio de uma rigorosa contenção
lírica.
PRÉ-MODERNISMO
A poesia tem correntes ligadas ao
Parnasianismo e ao Simbolismo. Destacamos poetas com Augusto do Anjos, Olavo
Bilac, Raul de Leoni e muitos outros.
MODERNISO
O pré-modernismo e o modernismo em
suas gerações foram o que somou para a poesia que hoje fazemos, culminando com
a semana da arte moderna em 1922 em São Paulo, onde destacaram-se poetas como
Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Antônio de Alcantara
Machado. Nas Poesia desses autores podemos ver poemas de vanguarda, da classe
europeia, até poemas bem humorados.
Na Segunda geração do Modernismo já começas
aparecer poetas de versos livres, de linguagem coloquial com temáticas da
realidade nacional. Esse poetas não tinha que combater a literatura acadêmica,
vagando pela liberdade e a criatividade. Destacamos poetas como: Carlos
Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Vinícius
de Morais, entre outros.
A terceira fase é a que vivemos.
Muito se discute na literatura se essa fase já acabou e se já estamos no
Pós-Modernismo, mas isso é assunto para acadêmico não para nós. O que nos
interessa que a Poesia dos 45 que ainda trouxe novos poetas é a mesma que
perdura até hoje.
Nesse tempo aqui no Sul, onde a
influência poética da época nos trouxe grandes Poetas e estudiosos da poesia,
tais como Aparicio Silva Rillo, Jaime Caetano Braun, Glauco Sariava, Aureliano
de Figueiredo Pinto e tantos outros que se destacaram com poemas regionalistas,
mas ao mesmo tempo literários, modernos, cheios de uma poesia influenciadora
com temas do cotidiano, mas também poemas de vanguarda, mesclando uma linguagem
literária poética a uma linguagem coloquial e assim o Rio Grande do Sul começou
a se destacar no cenário Poético.
Nossa fonte maior na poesia e a que mais
influenciou o povo gaúcho, entrou pela Argentina e Uruguai, onde a poesias de 8
versos muito bem rimados e metrificados traziam da vida do campo para as cidade
o labor do peão, a natureza, as guerras, as peleias, o viver do dia a dia do
Peão, exaltando a sua forma de vida e vivência, exaltando ou chorando amores
perdidos, romances inacabados e alguns impossíveis, muito bem descritos, que
tivera nos versos do mestre Jaime Caetano Braun, seu exílio poético, onde
aperfeiçoou, também, a escrita de poesias em décimas e Payada, ou versos de
improvisos.
Mas muitos poetas
ficaram entre a poesia adentrada pela Argentina com rimas e formação perfeita,
bem como a poesia literária, com versos soltos, que são os casos de Luiz
Menezes, Aparício Silva Rillo, Colmar Duarte, José Hilário Retamozzo, Aureliano
de Figueiredo Pinto entre tantos outros, que deixaram um legado de poemas, que
fizeram e ainda fazem escola no meio poético do Rio Grande do Sul.
Com a ascensão da poesias
vieram os festivais, que prezavam sempre por bons conteúdos poéticos, bem
rimados e letras poeticamente bem constituídas, mas que ao contrário da poesia
declamada ou recitada, necessitava de bons arranjos e belas melodias.
Valores poéticos desprezados com o passar dos tempos.
Mas pode o tempo passar, a modernidade chegar, a juventude se alienar,
mas a poesia sempre estará entre os amantes de um bom verso, de um lindo poema,
aqueles que sabem valorizar a vida, da forma mais doce, mais
"caliente", mais vívida, que ao som de uma bela poesia.
Uma
Poesia para ser encantadora depende muito de quem a transmite, o DECLAMADOR, que por sua vez, para um
boa transmissão poética e verdadeira precisa conhecer o texto (não só decorá-lo),
buscar nuances e transmitir com veemência levando em conta alguns fatores, mas
acima de tudo com verdade. Quando me refiro em verdade é o conhecimento
adquirido e transmitidos, pois muitas vezes isso falta à quem declama, fazendo
com que o verso e/ou o poema seja apenas um palavreado sem contexto e sem
profundidade.
Um
declamador que se propõe a participar de concursos de declamação, passa pelo
crivo de uma planilha que os avaliadores usam para pontuação, pois somente
assim podem chegar a um único vencedor, apesar de eu achar que a arte não
deveria ser avaliada, mas sem essa avaliação não teria como pontuá-los e
chegarem a um veredito final.
Na PLANILHA, fornecida pela
Comissão de Avaliação de seus concursos trazem basicamente quatro fatores:
FUNDAMENTOS DA VOZ, EXPPRESSÃO CORPORAL, INTERPRETAÇÃO DA MENSAGEM e FIDELIDADE
AO TEXTO e cada um desses tem suas subdivisões, e serão delas que vamos falar.
É
difícil chegar para um criança que está começando na declamação e falarmos
nesses fundamentos, mas podemos ajuda-los, mostrando o que significa cada um,
para um melhor entendimento, e assim conseguir transmitir a Poesia com conteúdo
e discernimento.
01 – FUNDAMENTOS DA VOZ – Impostação, dicção e inflexão.
IMPOSTAÇÃO –
Quando falamos em impostação de voz a primeira coisa que vem na cabeça é fazer
uma foz grave, forte, grossa, mas não é nada disso, impostação é como afinação
para quem canta, é encontrar nas cordas vocais uma colocação que lhe permita
dizer um texto longo, com firmeza, sem altos e baixos (a não ser que o poema
necessite) sem ferir o ouvido de quem a ouve e sem cansar-se vocalmente.
DICÇÃO – é
levar o texto com palavras claras, objetivas, sem dificuldade na colocação de
palavra, de cada verso.
INFLEXÃO –
São nuances colocadas nas palavras para que eles não percam os sentidos, ou
seja, por exemplo, quando se falar em dor, uma colocação de pesar, quando se
fala de alegria, uma colocação alegre, mas claro, sempre cuidado os exageros,
nada precisa sair da normalidade, colocando sempre o sentimento em cada palavra
dita.
02 – EXPRESSÃO CORPORAL – Facial e Gestual, e Postura Cênica
FACIAL E GESTUAL –
Nesses dois itens, tem-se que tomar muito cuidado, pois o excesso do gestual,
torna a poesia robótica, fazendo com que ela perca a naturalidade e muitas
vezes leva o declamador a fazer gestos e caretas e esquecer FUNDAMENTAÇÃO
DA VOZ e muitas vezes até a Poesia em si, então muito cuidado para os
excessos.
POSTURA CÊNICA – Ultimamente temos visto muito isso nos palcos dos festivais, o que não
é novo, mas vem acontecendo com mais frequência, encenar o poema, por exemplo,
quando se fala de um bêbado, faz-se a voz do bêbado e cambaleia pelo palco.
Isso é muito interessante e torna a poesia linda, mas muito cuidado para saber
o que se está fazendo, para evitar de ser apenas uma mera cópia de alguém que o
viu fazer e tornar-se ai, apenas um macaco de repetição.
03 – ITERPRETAÇÃO DA MENSAGEM – Interação com o texto, transmissão da mensagem, comunicação,
dinâmica, pontuação e acentuação.
Esse
é o item que acho mais importante, até porque são as notas mais altas numa
avaliação, mas não é só isso, aqui se resume todo o teu conhecimento de
declamação, pois a transmissão de um poema bem dito ou não estão nesses fatores
e é ai que eu vejo onde a maioria se perde.
A Transmissão da mensagem precisa, acima de tudo, ter conhecimento do
que se fala, colocando a cada palavra, a cada verso os conhecimentos anteriores
de impostação de voz, de inflexão, gestual ou postura cênica, portanto aqui é o
cérebro da poesia.
A
dinâmica, buscando encontrar no poema as parte fortes, as partes brandas, a
calmaria, poie é essa dinâmica que vai fazer os ouvintes te escutarem ou não,
além é claro da atenção redobrada de quem o avalia.
A
Pontuação é dentre todos o que mais falta a quem declama, saber para que serve
um ponto de exclamação, interrogação, reticências, virgula, ponto e vírgula,
ponto final. Um Poema sem pontuação, apesar de me dizerem que existe, eu penso
que serve para ser declamador e sim apenas lido, pois como alguém pode
adivinhar o sentimento de quem escreve, se não há pontuação, e uma frase com a
pontuação no lugar errado, muda totalmente de sentido. Veja bem:
- Comi em cima da mesa aquela velha de perna torta! (a velha tem a perna
torta).
- Comi em cima da mesa, aquela velha, de perna torta! (a mesa tem a
perna torta).
Então como podem ver, a pontuação é de suma importância, pois assim será
colocado cada palavra, cada verso, com o tempo que a pontuação pede.
04 – FIDELIDADE AO TEXTO –
Esse é importante também, pois a escrita de
um texto é o que o declamador tem para dizer com sua pontuação, acentuação,
tempo do verso, saída entrada de estrofe, exatamente como foi escrito pelo
Poeta seu autor. Por incrível que pareça, já ouvi poemas meus, copiados de
gravações, sem a preocupação de ver se estava correto ou não e com palavras que
nunca eu escreveria, imagina de outros poetas, que muitas vezes nem conhecemos
os poemas por completo. Portanto, cuidado!
Hoje
sempre que posso tenho andado pelos Festivais de poesias, circuitos e rodeios e
sempre estou aprendendo, ouvindo o que mais conhecem, analisando os erros e
acertos e buscando me aperfeiçoar nesse espaço tão restrito da poesia. Vejo e
ouço muitas discussões sobre poesia gauchesca, poesia aberta, poesia literária,
poesia... poesia. Na verdade a Poesia é uma só, boa ou ruim dependo do contexto
e do conhecimento de cada um, o que diferencia, muitas vezes são os temas que
são abordados, além da formação de cada poema com seus versos rimados ou não,
com estrofes em quadra, sextilhas, décimas, ou sem estrofes definidas, conforme
os temas e jeito que cada poeta escreve.
Quando entrei na poesia, há 5 anos atrás, foi saber e conhecer a vida de tantos
Poetas que admiro, mas não a vida poética, mas sim o que pensavam ou penam,
qual escola que seguiram, qual sua formação literária e educacional, para poder
entender, a vivência de cada um no seu tempo, na sua época.
Tenho
um material de José Hilário Retamozzo falando da vida de Jaime Caetano Braun
fora da poesia que me encanta e me fez admirar o porquê de tanto poema lindo e
bem escrito. Busquei pela vida de poetas como: Aparício silva Rillo que ha 20
ou 30 anos antes escreveu sobre um menino no ano 2000, com uma maestria e
verdade quase que vivente do seu cotidiano. Busquei livros de Colmar Pereira
Duarte e o pensamento literário e quando ele fala que “era um incendiário e que
hoje é um bombeiro” me mostra o pensamento do menino rebelde, sonhador e que conquistou
o mundo através do verso. Quando leio Aureliano Pinto com seu Tubiano Capincho
descrevendo um dia de lida, de longe vejo sua influência literária e a vivencia
nas coxilha de Tupanciretã e posteriormente em Santiago do Boqueirão. Antônio
Augusto Ferreira foi outro que nos deixou um manancial poético muito grande e
que tem seu s poemas imortalizados nos mostrando a fonte para embeber-se de
poesia. Quando leio, ouço e falos com
os poetas de hoje, como Moisés Menezes uma fonte literária que fala de uma
poesia diferenciada e assim descreve em seu livro “Das Margens do Nilo às
Barrancas do Uruguai”, pensamento parecido com alguns poetas da nova geração
como Rodrigo Bauer, Waine Darde, Humberto Gabbi Zanatta, e de outras
fontes literárias, mais voltadas para o campo como Gujo Teixeira,
Sebastião Teixeira Ferreira, João Sampaio, Lisandro Amaral e tantos
outros que descrevem o campo de uma forma lúcida e verdadeira.
Hoje
temos 7 festivais de Poesia no Rio Grande do Sul, trazendo no mínimo 70 novas
poesias para apreciação de todos e acredito para um bom declamador sempre tem
que buscar versos novos, novas ideias para surpreender os que lhe ouvem. Para
ser declamador não é apenas decorar um poema, mas buscar neles a sua essência a
sua verdade e para isso precisa-se de muito estudo, muita tenção nas nuances,
nas entrelinha e acima de tudo tentar entender o que o poeta colocou nas
metáfora de uma verso. A maioria dos declamadores trazem para concursos poemas
antigos, gastos, sem novidades, fazendo muitas vezes o mesmo que os outros
fazem, e ficam bravos quando não são premiados. Um julgador de hoje, é um poeta
ou declamador, não está ali por acaso, mas porque pensa a poesia diferente, com
olhos do coração, com sentimentos, e quando está avaliando, espera ver no
declamador a verdade que ele colocaria, ou que ele escreveu, e é essa verdade
que está faltando, onde muitos declamadores se baseiam na mesmice ou apensar
para seu ego pessoal dizer verso. Poesia é muito mais do que isso.
Outro
erro que vejo em alguns declamadores que estão nos palcos dos circuitos é que
sua visão está voltada somente para o ENART como se o ENART fosse o fim, e é
muito pelo contrário o ENART deve ser o começo, pois conheço muita gente que
venceu o ENART e que não tem condições de subir num palco de um festival
poético, onde a exigência é bem maior.
Não
ponho em dúvida a avaliação do ENART, mas num contexto de quase uma centena de
declamadores, onde ficam 10 para uma final e o vencedor vence por milésimos ou
centésimos, não quer dizer nada, que é melhor dos que não se classificaram,
porque poesia é momento, e naquele momento sim, pode ter sido, mas isso não o
avaliza de sem melhor do que, naquele momento, não foi bem. Mas não é isso que
eu vejo, infelizmente. Portanto, muito cuidado, quando vence e muito cuidado
quando não vence, porque tu podes não ter sido o melhor quando venceu, nem ter
sido o pior quando não venceu, isso foi apenas o ponto de vista de quem está
avaliando e eles não podem serem os donos da verdade, apesar de terem o poder
para o momento.
Portanto quando fores subir ao
palco para um interpretação de um poema, lembre-se que tudo é questão de
momento, preparação e verdade. Como conhecimento e estudo talvez estejas mais
perto dessa verdade que tanto falo.
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O Dr. Marcelo D'Ávila escreve em sua página na web, importante texto sobre poesia
O Dr. Marcelo D'Ávila escreve em sua página na web, importante texto sobre poesia
"A poesia tradicional no Prata e em toda a América remonta aos dias de conquista e colonização. Vem, em espanhol, dos velhos romances e das antigas canções dos séculos XVI e XVII, ainda com ecos do século XV; transmite a substância lírica dos villancicos e das coplas, e a épica dos cantares heróicos e cavaleirescos e se funde, em cada região, com as correntes da vida criolla (costumes, sensibilidade) e adquire uma fisionomia própria, um caráter local. A poesia gauchesca é posterior em quase três séculos; recebe da poesia tradicional uma porção considerável de ideias e sentimentos, mas tem identidade própria. Se apodera de um novo cenário, que é o campo aberto, e de um tipo novo, o gaúcho, e firma em ambas as fontes a razão de sua existência. Apesar das diferenças entre a poesia tradicional e a gauchesca, deve-se reconhecer também que, no aspecto formal, ambas têm uma notável semelhança na linguagem, caracterizada pelo predomínio do arcaísmo e das formas prosódicas vulgares, e a identidade do verso octassílabo e da estrofe, típicos da copla e do romance espanhol.
Embora não exista documentação abundante e segura, pode-se estabelecer suas origens no último terço do século XVIII. São os dados dos costumes que descreve Concolorcorvo em 1773 acerca dos campeiros coloniais, que ele chama gaudérios, em seu "Lazarillo de Ciegos Caminantes". Estes rústicos, gozadores da vida, cantam e se fazem acompanhar da guitarra. Esta amostra de poesia campesina que nos oferece Concolorcorvo é espelho do sentimento pessoal e rústico de um meio primitivo.
Fonte: "La Poesia Gauchesca - Antologia Desde Sus Orígenes", Edición Especial de Octubre de 2002, Ediciones Quevedo, Buenos Aires.
Coplas, romances e canções de autores desconhecidos andavam profusamente pelos campos, serranias e selvas do antigo Vice-reinado do Rio da Prata. Para sua criação contribuíram, em primeira instância, os espanhóis, e, depois, os indígenas e ainda os negros. A influência espanhola, por sua vez, teve origem na Arábia, na Pérsia, no Império Bizantino, na Índia. Também os ciganos têm sua participação nos primórdios. De qualquer forma, os indígenas do Prata - calchaquís e guaranís, particularmente - aportaram muito de sua cultura.
O naturalista Félix de Azara já fala de cantores populares que, acompanhados de guitarra - ou charangos - cantavam coplas. Concolorcorvo, em seu "Lazarillo de Ciegos Caminantes", afirma haver ouvido cantar durante suas andanças algum changador, ou gauderio, ou guapo, ou camilucho - todos nomes coloniais do GAUCHO, trabalhador das antigas vaquerías.
Também se pode citar José Espinosa y Tello, que veio com sua expedição à América do Sul em 1794: descrevendo os guapos, diz: "...cantam umas raras seguidilhas que chamam Cadena ou El Perico, ou ainda o Mal-Ambo, acompanhados de uma desafinada guitarra. O talento do cantor é fundamental para ser bem recebido em qualquer parte e obter comida e hospedagem..."
Fonte: Poesia Gauchesca e Nativista Rioplatense, Álvaro Yunque, Buenos Aires, 1952
1 comentário:
Paulo, parabéns pela postagem esclarecedora, didática, pedagógica e com comentários pertinentes.
Forte abraço!
Rossano.
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