terça-feira, 17 de julho de 2012

São Francisco de Assis - história e tempo

História da Cidade 
São Francisco de Assis teve origem nas terras primitivamente habitadas pelos índios tapes, nas quais em 1627 o Padre Roque Gonzales levantou a terceira Redução Jesuíta em solo gaúcho. Essa redução, que recebeu o nome de Candelária do Ibicuí, foi abandonada em 1638, até que, em 1801, na época da conquista das Missões Orientais, é registrada a existência, no mesmo local, da Guarda de São Francisco de Assis. Segundo narrativa lendária, os fundamentos da capela datam de 1819, (para outros é de 1810). A freguesia de São Francisco de Assis surgiu em 1857. Em 1884 foi criado o Município e o povoado elevado a vila. A cidade data de fins de 1938.

Formação Administrativa
O distrito deve sua criação à Lei provincial n.º 358, de 17 de fevereiro de 1857. O Município foi constituído pela Lei provincial n.º 1 427, de 4 de janeiro de 1884, com território desmembrado de Itaqui ou de São Vicente, e instalado a 7 de janeiro de 1885. Em dezembro de 1938 São Francisco de Assis é elevada à categoria de cidade, instalada a 1.º de janeiro seguinte. A comarca só foi em 25 de maio de 1946. 

História
A região passou pelas mãos de donos sucessivos. Era a terra dos tapes, guaranis, minuanos, guenos, carijós, arachanes, charruas, caaguasguananás.
A ação das bandeiras predadoras devastaram as reduções dos tapes. Após sucessivos combates entre portugueses e espanhóis, e tratados estabelecidos, delimitou-se as fronteiras.
Aqui permaneceram os portugueses, que continuaram a criação de bovinos de corte, atividade que até hoje é predominante no município.
A primeira tentativa de povoamento da região foi feita pelos jesuítas, em 1627, quando o padre Roque Gonzales fundou a redução de Candelária do Ibicuí, que acabou fracassando, e concretizou-se somente no inicio do povoamento em 1809.
Crê-se que a primeira capela foi construída em 1810, tendo como padroeiro São Francisco de Assis.
O município foi palco de dois movimentos revolucionários, em 1893 e 1923. Havia grande número de habitantes contra a permanência do regime imperial, tendo sido muito festejada a Proclamação da República.


Cronologia

§ 1801 - Foi criado o Forte de São Francisco de Assis na sesmaria de Itajuru, à margem esquerda do rio Inhacundá.
§ 1809 - Início do povoamento da sede, em torno do Forte da Capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul.
§ 1923 - Revolução de 1923, a "Revolução Libertadora", palco de duros combates entre republicanos e revolucionários. O combate trouxe muitas consequências para a sociedade da época, não só para São Francisco Assis mas para todo o Rio Grande do Sul. Houve uma grande parada econômica devido a falta de mão-de-obra, na época composta quase exclusivamente por homens.

A Revolução de 1923 
A Revolução de 1923 foi o movimento armado ocorrido durante onze meses daquele ano no estado do Rio Grande do Sul, em que lutaram, de um lado, os partidários de Borges de Medeiros (borgistas ou Ximangos, que tinham como distintivo ou característica o lenço na cor branca) e, de outro, os aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil (assisistas ou maragatos que tinham como distinção, distintivo ou característica o lenço na cor vermelha);

Antecedentes 
Republicano e positivista, mas nada simpático à democracia, Júlio Prates de Castilhos, o Patriarca, como era chamado, governou o Rio Grande do Sul com mão de ferro de 1891 até sua morte prematura, em 1903. Para se manter no poder, tomou duas providências: redigiu praticamente sozinho e fez aprovar uma Constituição autoritária e montou uma poderosa máquina política no Partido Republicano Riograndense (PRR), com seus incontáveis chefes locais e seu séquito de agregados, presentes em mais de cem municípios riograndenses. Ao morrer, ficou claro que se fora o ditador, mas a ditadura republicana continuava viva. 

Castilhos foi substituído na presidência do Estado por Borges de Medeiros, que seguiu adotando os mesmos métodos e que também tinha como objetivo perpetuar-se no poder. Em 1922, Borges resolve se candidatar mais uma vez à presidência do Estado e contava, como sempre, com a força do PRR, que não hesitava em apelar para a fraude e a violência, para garantir a reeleição. 
Todavia, dessa feita, há um fato novo: forma-se uma aliança entre vários segmentos da sociedade gaúcha para estimular uma oposição organizada. O veterano político Assis Brasil desafia Borges na disputa nas urnas. 
Divide-se, assim, o Rio Grande, entre assisistas e borgistas, chimangos (numa alusão ao pseudônimo dado a Borges por Ramiro Barcelos, Antônio Chimango) e maragatos (como eram chamados os adeptos do Partido Federalista, identificados pelo uso do lenço vermelho). 
A campanha eleitoral ocorre sob um clima de repressão e violência. Opositores do governo são presos, espancados e até mortos. Locais de reunião dos assisistas são fechados e depredados pela polícia borgista. 
Quando se anuncia o resultado das urnas, com a previsível vitória de Borges de Medeiros, a revolta é geral. A comissão apuradora de votos, formada por pessoas fiéis ao governo, é acusada de fraude eleitoral pela oposição. A disputa nas urnas transforma-se em disputa pelas armas. A oposição, liderada por Assis Brasil, adere à revolta armada para derrubar Borges de Medeiros, que toma posse para um novo mandato em 25 de janeiro de 1923. 
Setores importantes da sociedade gaúcha já andavam descontentes com o governo. A política econômica de Borges precipitara o Estado numa crise financeira que contribuíra para descontentar tanto a elite estancieira como boa parte do movimento operário e estudantil. No plano nacional, Borges se isolara ao fazer oposição à candidatura de Artur Bernardes, a final eleito Presidente da República. 
Em verdade, o ódio entre as facções era mais antigo. Vinha desde a Revolução Federalista de 1893, que teve como marca a degola, dilacerando vidas e trazendo desgraça e tristeza para muitas famílias. Essa Revolução deixou sentimentos de vingança e violência em muitos corações, que teve quase continuidade na Revolução de 1923. 
Operações militares 
Zeca Netto e suas tropas ocupam Pelotas (fonte: Museu Histórico da Biblioteca Pública de Pelotas). 
Os combates iniciaram ao final de janeiro. As cidades de Passo Fundo e Palmeira das Missões foram atacadas pelos caudilhos maragatos vermelhos de Mena Barreto e Leonel da Rocha, que encontraram forte resistência de ambos os lados, não havendo vitória. 
A expectativa de Assis Brasil e seus aliados, ao partir para a luta armada, era a de que o Presidente da República Arthur Bernardes, que não nutria simpatias por Borges, decretasse intervenção federal no Rio Grande do Sul. Mas Borges, um político hábil, se aproximou de Bernardes e frustrou as expectativas de seus opositores. 
Zeca Netto sentado à esquerda. 
Os maragatos, que não estavam devidamente organizados para enfrentar as forças governistas, nem tinham objetivos militares definidos, ficaram confusos ao verem que a pretendida intervenção federal não viria. A continuidade da luta dependia das ações isoladas empreendidas por caudilhos como Honório Lemes e José Antônio Matos Neto, o Zeca Netto. Mas as operações militares ficavam restritas a regiões distantes de Porto Alegre e não conseguiram causar dano a superioridade dos borgistas. Logo os maragatos começaram a se ressentir da falta de homens e de armas. 
Para Assis Brasil e seus aliados mais lúcidos, ficou claro desde logo que não havia possibilidade de vitória militar ( pois os brancos eram mais fortes ), e por isso manifestaram disposição de negociar com o lado contrário. 
Zeca Netto, que se opunha a qualquer acordo com Borges, tentou uma última cartada. Imaginou que se atacasse e tomasse uma cidade importante poderia intimidar os borgistas. Assim, em 29 de outubro, atacou Pelotas, então a maior cidade do interior gaúcho, de surpresa, ao alvorecer, mas a manteve sob seu controle por apenas seis horas, porque as hostes governistas conseguiram se rearticular e receber reforços. Na iminência de ser atacado por forças superiores, o velho caudilho de 72 anos de idade retirou suas tropas. 

Tratado de paz 
A partir deste episódio, os maragatos já não tinham condições de seguir lutando. Por iniciativa do governo federal, realizaram-se negociações comandadas pelo ministro da Guerra, general Fernando Setembrino de Carvalho, com a participação do senador João de Lira Tavares, representante do Congresso. 
Em dezembro de 1923, pacificou-se a revolução no Pacto de Pedras Altas, no famoso castelo, residência de Assis Brasil. Borges pôde permanecer até o final do mandato em 1928, mas a Constituição de 1891 foi reformada. Impediu-se o instituto das reeleições, a indicação de intendentes (prefeitos) e do vice-presidente do Estado. 
O acordo foi importante para o Rio Grande do Sul. O sucessor de Borges no governo gaúcho foi Getúlio Vargas, lenço vermelho. Em 1930, a Frente Única Rio-grandense, sob sua liderança, assume o governo do país, na Revolução de 1930
Segundo o historiador gaúcho Antônio Augusto Fagundes,a Revolução de 1923 “foi a última guerra gaúcha "de feudos, do coronelismo gaúcho", fechando a trindade que se iniciara em 1835 e continuara em 1893”. 

PARTICIPAÇÃO DE  SÃO FRANCISCO DE ASSIS (02 DE OUTUBRO DE 1923)
A Coluna Revolucionária do Oeste, sob a comandância do Gal. Honório Lemos, perseguidos pelo Gal. Flores da Cunha, transpõem o Rio Ibicui na altura do " Passo do Catarina " ( atual Praia do Catarino ou Jacaquá ) em 29 de setembro de 1923, rumo às Missões. Logo no início da Revolução (março/abril 1923), o Cel. Hortêncio Rodrigues, comandando 300 homens, havia ocupado São Francisco de Assis pacificamente, uma vez que o Intendente Borgista, Dr. Carlos de Oliveira Gomes, ante a impossibilidade de resistir havia se retirado com sua pequena guarnição. Como a Vila voltara ao comando do intendente Dr. Carlos Gomes, pois a tomada pelos libertadores tinha sido apenas simbó1ica, continuando na marcha, a Coluna mandou emissário para que houvesse rendição, o que não foi aceita pelo corajoso intendente, ainda envergonhado pela pecha de medroso que seus próprios companheiros de São Vicente e Santa Maria lhe impingiram, quando de sua retirada estratégica, meses antes. Toda Coluna acampou nas imediações da Vila, na Fazenda de Henrique Gregório Haigert (Nico Bonito), pai do Cel. Pimba, do Cap. João Vergilino Haigert e do Tte. Amarino Haigert, todos revolucionários. 
O emissário da Coluna foi Dedé Ribeiro, o popular Zera, filho de Taurino Ribeiro, proprietários da Telefônica local, que, na altura da localidade de "Apertados", na estrada que leva à Estação Férrea do Jacaquá, no outro lado do Rio Ibicui, no município de Alegrete, estava consertando a rede de fios, quando foi preso pelo revoltosos e se tornou o portador da mensagem de rendição. 
Pela manha de 02 de outubro a Vila estava sitiada pela Coluna Revolucionária de São Francisco de Assis, mais o Coronel João Batista Luzardo, chefe do Estado Maior e ainda o Cel. Trajano e sua pequena força, de Don Pedrito. 
O Gal. Honório Lemos não participou do combate, ficando acampando com o grosso da tropa, aguardando os acontecimentos. Achara, decerto, desnecessário, mesmo que a luta era tipicamente familiar, envolvendo gente da mesma terra, entrelaçada por vínculos sanguíneos e de antigas amizades, agora rompidas na luta de cada um por seus ideais. 
Na madrugada de 02 de outubro, Luzardo e Hortêncio deram a ordem de ataque geral, começando o medonho combate. A investida libertadora foi frontal e suicida. Logo os defensores, postados nas trincheiras, nos altos das casas e nos telhados, fizeram desabar sobre os atacantes uma chuva de fogo que causou várias baixas. O sistema defensivo, que compreendia obstáculos colocados na embocadura das ruas, obrigava os atacantes a investirem pelo meio ou invadirem casas de família para chegarem ao reduto principal, que era a praça da intendência. Batista Luzardo, de espada na mão, comandou a grande investida frontal de cavalaria para chegar até a praça. Logo o cavalo de Luzardo rodou, atingido na cabeça, obrigando o cavaleiro a se abrigar para não ser atingido. Partiu dele a ordem de avançar, e as centenas de homens foram ultrapassando os obstáculos um a um, em meio ao alarido dos defensores, dos gritos das mulheres e das crianças, precariamente abrigadas nas residências invadidas, do gemido dos agonizantes traçados a punhal ou espada, fuzilados ou degolados sem quartel. Já atacados nas ruas, nas esquinas, por detrás dos muros, de dentro das casas, já agora de cima dos telhados, o que restava dos defensores foi obrigado a saltar das trincheiras e procurou abrigo por detrás dos troncos das árvores da praça e no edifício da Intendência. 
Foram entabuladas novas tentativas para a rendição dos governistas quando, segundo voz corrente, um revolucionário, ao apertar os arreios de sua montaria, infelizmente, soltou-a e esta, livre, galopou célere pela rua principal, rumo às trincheiras abertas em todas as bocas das vias de acesso a Praça da Intendência, guarnecidas de provisórios. Os defensores abriram fogo, enganados com o falso movimento. Foi o que bastou para o combate recomeçar ainda mais violento. Um mangote de homens atingiu a Intendência e lá se entrincheirou.
Foram retabuladas as negociações e o Cel. Pimba e o Major Álvaro Alves conseguiram que os defensores se rendessem, sob garantia de vida. Ainda impelido pelo calor do combate e pelo ardor político, o comandante da Coluna Gel. Hortêncio Rodrigues, instigado por alguns companheiros, principalmente pela força de Dom Pedrito que tivera seu chefe tombado, tentou invadir e sacrificar os republicanos recolhidos e já rendidos na Intendência, o que foi contido pelo Cel. Pimba, que se opôs veementemente às ordens de invasão do seu chefe, salvando os vencidos, alguns com ferimentos. 
Pelos governistas, tombaram o Intendente Carlos de Oliveira Gomes enquanto municiava seus comandados nas trincheiras, o Gel. Estevão Brandão, Delegado de Polícia e Ex-Intendente, o corajoso cap. João Manuel Marques, subdelegado, já na frente da Intendência. Pelo lado rebelde tombou o Gel. Trajano de Don Pedrito, além de muitos bravos.

Fonte:
CARNEIRO, Glauco. Luzardo, o último caudilho. Editora Nova Fronteira, 1977.
MARQUES, Antero. Mensagem para poucos: vivências de um estudante revolucionário. A nação, 1964

1 comentário:

Anónimo disse...

Tenho ainda hoje estreita relação com São Chico e vejo por lá muita gente com lenço vermelho orgulhando-se de ser maragato. Pois os maragatos fizeram uma verdadeira chacina em São Chico,foi um banho de sangue. Minha família mesmo mudou de rumo por esta revolução. Devereiam os assisenses ser orgulhosos dos feitos dos maragatos? É bom saber minimamente da história para ter uma posição mais crítica.Parabéns pelo site, excelente.
Marcelo Oliveira Ferreira

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