segunda-feira, 30 de julho de 2012

A ORIGEM DO GAÚCHO: VERSÃO BRASILEIRA

           Para comprovarmos que os fatos históricos têm várias “visões” e interpretações, dependendo do objetivo a ser alcançado, basta citarmos um exemplo apenas: A História do Evangelho de Jesus Cristo.                 Ao ser contada quatro vezes, teve quatro visões diferentes... Houve a criação de várias religiões cristãs diferentes exatamente por causa destas interpretações diferenciadas.
Mas no caso da História da Origem do Gaúcho e do Rio Grande contada do ponto de vista brasileiro excede todos os limites do bom senso. É uma verdadeira afronta à nossa inteligência!
         O texto abaixo foi retirado do sítio “Bombacha Larga” que se diz: “Na luta pela preservação da autêntica tradição dos Gaúchos”, curiosamente elaborado por dois homens de Brasília e um de Santa Catarina, um tanto distantes da nossa realidade.
          Com a nobre proposta de falar sobre a formação do território do Rio Grande e do povo Gaúcho, estes senhores consultaram um, e apenas um, livro! Um livro que já vem impregnado com a visão unilateral de brasilidade, de Dante de Laytano, professor cheio de títulos honoríficos, apresentado como profundo conhecedor do folclore sul-riograndense...
       Ora, como se pode arvorar a contar a história da origem de um povo e a sua territorialidade, baseado em um livro apenas? Confia-se tanto assim neste “Moisés” do século XX?
        E os documentos? E os textos escritos na época desta formação, por visitantes estrangeiros, pessoas descompromissadas com este ou aquele poder?

O texto não supõe nem teoriza, mas afirma categórica e conclusivamente que o povo gaúcho, quanto à sua cultura, é formado por lusitanos de além mar e lusitanos vindos de vários pontos da colônia “brasilis” mesmo...

Farei alguns comentários, no texto, em negrito.
        “A formação do território do Estado do Rio Grande do Sul está, obviamente, ligada à formação do Povo Gaúcho Sul-rio-grandense e repercute, por conseqüência, no seu respectivo Folclore.
        O marco teórico deste estudo é a obra Folclore do Rio Grande do Sul: levantamento dos costumes e tradições gaúchas (Caxias do Sul, EDUCS. Porto Alegre, EST: Martins Livreiro Editor, 1984), do grande historiador e folclorista Dante de Laytano, o pioneiro da moderna pesquisa do folclore brasileiro, ex-professor na Faculdade de Filosofia da PUC-RS e na UFRGS, ex-Presidente da Academia Rio-Grandense de Letras, ex-Presidente da Academia Brasileira de História, ex-Presidente da Comissão Gaúcha de Folclore e um profundo conhecedor do Folclore Sul-Rio-Grandense.
      Esse reconhecido trabalho de levantamento das Tradições Gaúchas Sul-rio-grandenses, realizado por Laytano, demonstrou, categoricamente, que a herança cultural do Rio Grande do Sul é essencialmente luso-brasileira, implantada por nossos antigos povoadores, tropeiros e militares, sendo que outras etnias não a modificaram, mas apenas completaram o quadro cultural instalado."
        Convém notar a palavra “categoricamente”! Ou seja, sem sombra de dúvidas. Frisa ainda que trata-se da origem da “herança cultural” e não da mescla racial, como seria mais fácil de engolir. Assim, no entendimento do Sr. Laytano, os gaúchos (culturalmente falando) que vivem no pampa argentino e no Uruguai tão somente copiam-nos, como macacos, pois não consta que aquelas regiões também tenham sido colonizadas por portugueses. A semelhança quase total entre os gaúchos rio-grandenses e platinos é mera coincidência!...

"QUAL É A FORMAÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL?
      Quando se fala na formação do Estado do Rio Grande do Sul está se falando da origem do seu território. E nesse aspecto histórico não há qualquer controvérsia".

      Desculpem a ironia: Se falamos da formação do Estado do Rio Grande do Sul, teremos que fixar uma data: O dia em que foi proclamada a república brasileira! Pois foi neste dia que as antigas colônias passaram a ser consideradas Estados (Só no nome, como se sabe!).
        Por outro lado se vamos falar em “origem do seu território” teremos que remontar à era Cambriana, quando da ruptura do antigo Continente Pangea, onde se formaram as terras que hoje conhecemos como sob jurisdição do Estado... Ou talvez antes!
         E segundo o autor, “não há controvérsias”! Imaginem se houvesse!
      "É desde os primórdios da formação territorial do Rio Grande do Sul, até 1801, que a Corte Portuguesa sempre disputou o extremo-sul do Brasil-colônia com a Corte Espanhola".
      A “disputa” acima tem, na realidade, outro sentido: O de “invasão”! Portugal invadiu as terras sabidamente espanholas, determinadas por um tratado legítimo assinado pelo representante da Coroa Portuguesa, o Tratado de Tordesilhas (1494)! Não houve disputa, mas apenas a Espanha tentando recuperar suas terras (inclusive as do Rio Grande) invadidas pelos portugueses!
    Dizem alguns autores, para justificar a invasão, que estas terras eram desérticas, estavam abandonadas, não haviam sido colonizadas pelos espanhóis... Mais uma inverdade: As terras eram ocupadas, sim, pelos índios guaranis das reduções jesuíticas, considerados já naquela época cidadãos espanhóis (e não índios selvagens!). Para provar fazemos uma pergunta: O que os portugueses encontraram de valor e exploraram grandemente aqui no nosso território? O gado!
       O gado não é animal selvagem natural desta região. Foi introduzido pelos espanhóis vindos do Paraguai... Portanto aí está a prova: Já haviam espanhóis aqui sim, os Guaranis das Missões!
       "Portanto, na formação do território sul-rio-grandense não houve a contribuição positiva dos hispano-rio-platenses. Foram os portugueses, os açorianos, os luso-brasileiros, os bandeirantes, tropeiros, militares, de todas as regiões do Brasil, que ocuparam e asseguraram o domínio territorial do atual Estado do Rio Grande do Sul".
     Eram, todos estes invasores enumerados acima, em resumo, portugueses apenas! Não há necessidade de enumerar tantos elementos quando se sabe que todos eles eram tão somente portugueses. Mas, nem portugueses eram de fato! Os açorianos eram ilhéus, do Arquipélago dos Açores, pobres de dinheiro e de cultura. Eram um tanto diferentes, considerados inferiores e até marginalizados pelos portugueses do continente europeu. Os portugueses que vieram para a colônia antes da Côrte, eram criminosos, maltrapilhos, desterrados, expulsos da orgulhosa sociedade portuguesa da época... Então perguntamos: O que temos nós gaúchos da cultura açoriana? Pescaria? Criação de cabras e galinhas? Plantação de horti-fruti-granjeiros? Sabe-se que a produção agrícola açoriana se limitava ao quintal de sua casa, para consumo próprio.
        Temos, tão somente, a arquitetura açoriana refletida nas casas dos primeiros vilarejos... Cultura essa igual à espanhola e de boa parte do mundo de então, e que sobreviveu apenas por falta de uma “arquitetura gaúcha”, já que o gaúcho não é lá, na sua origem, muito caseiro! “que ocuparam e asseguraram o domínio territorial”, leia-se “invadiram e resistiram às tentativas de recuperação do território por seu verdadeiro dono”!

"QUAIS SÃO AS ORIGENS DO POVO GAÚCHO SUL-BRASILEIRO E DO FOLCLORE DO RIO GRANDE DO SUL?
        Laytano, com propriedade, afirma: “o Rio Grande do Sul foi, numa época do século XVIII, mais de 50% açoriano e os bandeirantes tropeiros, os militares, soldados e oficiais vieram das mais variadas regiões brasileiras, predominando Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo e Pernambuco".
       Todos eles, no século XVIII, apenas portugueses... Pois os estados não haviam ainda desenvolvido suas características próprias diferenciadas.
     Acrescentamos que estes portugueses que para cá vieram, como os tropeiros e os militares, acabaram por assimilar a cultura “da terra” (Gaúcha), abandonando sua cultura de origem (A portuguesa). O mesmo fenômeno vem ocorrer mais tarde com outros colonizadores (Alemães e italianos em maioria).
     "Os portugueses eram minhotos ou algarvias e de todas as regiões chegavam eles, ou beirões ou alem tejanos, do Douro ou Trás-os-Montes. E o folclore gaúcho repousa compacto nas etnias dos povoadores. Houve espanhóis e rio-platenses, porém em número limitado. O índio e o negro montaram o arcabouço deste folclore gaúcho, um folclore nitidamente luso-brasileiro, nossas puras raízes".
        Se o autor quer dizer “cultura” quando fala “folclore”, está redondamente enganado!
    Excetuando a língua, que é mais uma obrigação legal do que espontaneidade do povo, há uma pequena influência portuguesa na nossa cultura gaúcha!

Eis a prova:
- Na música: O Vanerão, o chamamé, a milonga, a pajada, são portuguesas? Só o Xote e a Chimarrita!
- Na dança, as coreografias atuais foram criadas com base nos saraus europeus da época. Mesmo assim temos o sapateado, a chula, a dança dos facões, que de forma alguma se pode rotular como portuguesas.
- Nos trajes os pobres açorianos não tinham tradição. A moda era ditada pela França, de onde todos os demais copiavam.
- Nos modos e costumes não nos consta que os portugueses eram largados, amantes da liberdade, gritões e hábeis com os cavalos, briguentos e nômades, homens de palavra, mas sem lei, e principalmente amantes deste chão... Pelo contrário, temos publicações portuguesas da época descrevendo o tipo gaúcho com muita curiosidade e admiração, um tipo quase exótico ao ver dos portugueses da época!

          Daí a afirmar que a nossa cultura gaúcha tem base na cultura portuguesa, é ridículo!
        "O espanhol e o rio-platenses ou as etnias alemãs, italianas ou polonesas completam o quadro, mas não o modificam. Acrescentam, mas não tocam no cerne, no fundo, na origem".
      O Gaúcho rio-grandense nasceu junto com o platino. As demais culturas apenas acrescentaram outros elementos, mas o cerne continua o mesmo!
       "O quadro folclórico multiplica-se através da geografia dos povoadores. O predominante vem do início da formação do Rio Grande”. (p.11)
         A origem do Folclore do Rio Grande do Sul está diretamente ligada à origem do Povo Gaúcho Sul-brasileiro. E esta, Laytano a demonstra com a seguinte classificação:

          Etnias essenciais: português, índio e negro;
          (A mesma essência dos nordestinos, baianos, cariocas...)
          Etnias diversificadas: luso-açoriano e luso-brasileiro;
          (Portugueses, apenas!)
          Etnias secundárias: hispano-rio-platense e judeus; (?)
          Etnias atuais: alemão e italiano;
     Etnias menores: poloneses, japoneses, libaneses, holandeses, chineses, franceses, uruguaios, argentinos, espanhóis, ucranianos, russos e letonianos”. (p. 15-39)
         Se os uruguaios formam uma etnia (E não somos nós que estamos dizendo), então nós gaúchos rio-grandenses também o somos... No que nós concordamos plenamente!
        "Portanto, se o atual Estado do Rio Grande do Sul foi ocupado, conquistado e mantido pelos portugueses, açorianos, luso-brasileiros, negros e índios da região, é deles que se originou, predominantemente, o Folclore Gaúcho Sul-rio-grandense, assim como todos os usos e costumes campeiros tradicionais dos Gaúchos Sul-brasileiros.
          A Tradição Gaúcha Sul-rio-grandense vem daquele tronco português-açoriano, negro e índio, não dos imigrantes ou dos simplesmente sul-rio-grandenses ou sul-brasileiros sem qualquer vínculo com as lidas campeiras interioranas da região Sul-brasileira. Se outros contribuíram para a formação do Povo do Estado do Rio Grande do sul ou para a formação do Folclore Geral do Estado, incluído nele o citadino - como se deu com os imigrantes, por exemplo -, nenhuma participação eles tiveram na formação da Tradição Gaúcha do Rio Grande do Sul, já forjada em período antecedente".
        Aqui confirmamos que o muitas vezes citado “folclore sul-rio-grandense” quer dizer: “Cultura Gaúcha”!
           Imaginemos uma mistura de açoriano, negro e índio, dançando um Chamamé, exclamando: “A La Pucha!”, e gineteando um potro selvagem...
         "A formação mais recente do Povo Sul-rio-grandense, do Povo do Rio Grande do Sul, de uma forma geral, abarca a todos: gaúchos e não gaúchos; campeiros e citadinos, gaúchos ou sem qualquer vínculo com o campo e as tradições nele originárias, incluídos aí os diversos povos imigrantes, gaúchos ou sul-rio-grandenses".
          Portanto que fique claro: Na visão brasileira, só é gaúcho aquele vive nas lides campeiras! Os da cidade são não-gaúchos...
           Ou seja, uma espécie em quase total extinção! E que vive em “cativeiro” nos CTG’s!
         "Mas não devemos esquecer que a formação inicial do Povo Gaúcho Sul-Rio-Grandense se deu nas suas lutas pela Terra, contra o hispano-rio-platense. E é dessa formação que surgiram as suas tradições regionais, singulares, conforme a influência cultural dos formadores do seu território, do estrato social sul-rio-grandense em que viviam e do seu folclore pastoril.
          Por isso, ao tratarmos dessas questões histórico-culturais devemos atentar para essas importantes particularidades, sob pena de estarmos aviltando o histórico e o cultural em eventual benefício do político e do comercial.
       Mas para o Tradicionalismo Gaúcho Brasileiro não há como equiparar Povo Gaúcho Sul-brasileiro a Povo do Rio Grande do Sul - a maior parte deste "gaúcho" apenas por uma questão de identificação territorial, por abranger a todo e qualquer indivíduo que tenha nascido no Estado do Rio Grande do Sul, embora inexista, no geral, qualquer vínculo dos assim denominados com o Jeito Gaúcho de Viver dos moradores do interior Sul-rio-grandense; daqueles que praticam as lidas campeiras ou que se identificam com a cultura regional sul-rio-grandense; com as Tradições Gaúchas dos Campeiros do Rio Grande do Sul, valorizando-as, cultuando-as, preservando-as e repassando-as para as novas gerações".
            Isto é, em suma, o que eles ensinam nas escolas gaúchas! Inverdades e inversões de valores, que são passadas às mentes abertas e ingênuas das crianças gaúchas, ainda sem idade para poder retrucar, questionar, discutir... Assim se faz uma grandiosa “lavagem cerebral” através de várias gerações em um povo outrora culturalmente rico e forte, altivo e único... Hoje, cabisbaixos e idiotizados, os gaúchos permitem que pisem no seu pala, roubem seu dinheiro, e ainda se riem quando os brasileiros fazem piadas!

Reajamos! Lutemos!

Fonte: Romualdo Negreiros - RSLivre – Uma ONG em defesa dos gaúchos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei deste texto, que acredito que outras pessoas devem le-lo e tbm compartilha-lo...muito bom e nos faz pensar!

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