Na época áurea dos festivais nativistas, chegamos a ter 96 eventos num ano no Rio Grande do Sul. Destes encontros de cantoria surgiram valores artísticos que despontaram com afinco para a musicalidade regional gaúcha dando origem ao chamado Movimento Nativista.
A Califórnia da Canção Nativa, de Uruguaiana, surgida em dezembro de 1971, foi a pioneira, ícone e palco ambicionado por todo músico destas paragens. Hoje, atolada em dívidas, a Califórnia é uma boa lembrança e deixou registrado para a história discográfica, verdadeiros clássicos musicais. Comenta-se que em dezembro de 2013 ela voltará em dose dupla, com as edições 37ª e 38ª. Torcemos para que isto aconteça.
O que se vê, atualmente, são resquícios de um tempo bom, onde alguns festivais peleiam só com o cabo da faca para manterem-se em atividade.
E o por quê desta evasão musical festivaleira?
Tentamos encontrar um motivo, mas estes são vários. Em nossa opinião (e pode estar errada), as razões que levaram a maioria de nossos festivais à enfermidade são estes:´
Em tempo: Há festivais que devido a um esforço comunitário, superam todos os itens relacionados abaixo.
1 – FADIGA MUSICAL: A partir de um certo período, as novidades acabaram. A temática tornou-se repetitiva e, em conseqüência, cansativa. Há 10 anos fui jurado do Carijo de Palmeira das Missões. Na semana passada voltei por estas plagas na condição de concorrente. Me pareceu que, musicalmente, a década passou num piscar de olhos pois quase tudo se repete: Os cantos de louvação a Palmeira, o histórico da erva-mate, o homem missioneiro, ou seja, tudo já foi cantado e decantado dezenas de vezes.
2 – FALTA DE VISÃO CULTURAL DOS ADMINISTRADORES PÚBLICOS: Muitos eventos deixam de acontecer porque troca a administração municipal e os novos governantes não tem visão cultural. Não sabem da importância e do retorno que um evento bem feito traz para sua comunidade. Muitas vezes o festival transcende o nome da própria cidade, mas isto não é visto por quem governa.
3 – PANELAS: Muitos festivais ficaram mal falados devido às panelas, aos grupelhos que se formaram, muito em função das regiões e das afinidades musicais. Este apadrinhamento entre jurados e concorrentes originou um descrédito muito grande.
4 – FALTA DE SERIEDADE DE ALGUNS PRODUTORES CULTURAIS: Quantos e quantos eventos aconteceram onde os participantes deixaram de receber os valores a que faziam jus? Daria para escrever um livro sobre este tópico.
5 – DIFICULDADE DE APROVAÇÃO DE PROJETOS: A Lei de Incentivo a Cultura (Estadual) e a Lei Rouanet (Federal), com certa razão, tornam burocráticas as aprovações de projetos culturais. Depois que foram descobertas algumas "benevolências" na L I C, a coisa piorou.
6 – DIFICULDADE NA BUSCA DE PATROCÍNIO: Mesmo tendo seus projetos aprovados, os produtores encontram uma imensa dificuldade junto às empresas na busca de patrocínio, ainda que os valores destinados ao festival sofram abatimento no imposto de renda, ou seja, quem patrocina a arte não perde, mesmo assim, não libera...
7 – O FESTIVAL MORRE NA SEGUNDA: Não existe um trabalho de divulgação há longo prazo extraindo os frutos de um festival. Ele começa na sexta e morre na segunda.
8 – OS REGISTRO DISCOGRÁFICOS (CDs) DOS FESTIVAIS NÃO CIRCULAM: Ao contrários de obras de conjuntos que trabalham seus discos todo o fim de semana, os registros musicais dos festivais são engavetados, não circulam e, neste jogo, verdadeiras obras-primas musicais morrem praticamente desconhecidas do público que não compareceu ao evento. Estou tentando conseguir o CD do último evento que participei mas ainda não tive notícia de sua existência.
Texto de Léo Ribeiro
1 comentário:
CONCORDO....TAMMO ABRAÇADO.
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