sábado, 8 de junho de 2013

O Jogo do Osso ou Jogo da Tava

Resumo de uma Pesquisa realizada como trabalho de conclusão para o Curso Avançado de Cultura Gaúcha do IGTF – 2008.
 AUTORES: Marisa Auler Guimarães e  Paulo Roberto Rossal Guimarães.
1.1. Breve histórico:

 
O Jogo do Osso começou pelo menos há três séculos a.C., na Ásia, para chegar, onde a encontramos hoje, nas canchas de céu aberto da América do Sul.  Árabes e Persas já o praticavam, segundo referências da bibliografia. Contudo, a bibliografia é unânime em afirmar que o povo que mais o praticava era o grego. O jogo chamado "astrágalo" era até citado em referências mitológicas, como quando Patroclo, ainda menino, teria abatido por questões de um desafio em um jogo de osso, o amigo Anfidamonte. Inclusive o jogo era praticado por mulheres nos salões da alta aristocracia. O escultor grego Policlés, no século segundo antes de Cristo, expôs a linda “Astragalizonte”, uma jovem jogadora de astrágalos.
O jogo chegou até a Espanha pelas mãos dos legionários romanos, que jogavam nos recintos dos quartéis e acampamentos, durante o período de dominação sob o império de Augusto, o jogo era chamado “Alea”.
Chegou o jogo à bacia do Prata pelas mãos espanholas, já com referências bibliográficas pelo ano de 1620. Na Argentina e Uruguai o jogo do osso tomou, com o passar do tempo, características próprias. As regras são comuns a um e outro país e a termologia do jogo é a mesma, com sutis diferenças.
No Rio Grande do Sul o jogo do osso entrou pela fronteira do Chuí ao Alto – Uruguai e também pelo nordeste argentino. Numa prova quase irrecusável de sua procedência platina, seja pelo nordeste argentino, seja pelas fronteiras sulistas com o Uruguai, atente-se para o fato de conservar o jogo do osso até hoje, no Rio Grande do Sul, termos da língua castelhana em sua terminologia própria, tais sejam, entre outros, "suerte", "culo", "clavada" e "güeso".
 A história gaúcha confunde-se, em seu início, com a história platina, especialmente até a conquista dos Sete Povos, em 1801. Os costumes, nessa larga faixa territorial que era considerada uma espécie de primitiva “Terra de Ninguém” em permanente contestação de posse e domínio entre Espanha e Portugal, eram praticamente idênticos. Milicianos e aventureiros, mestiços e gaudérios, não conheciam outras fronteiras senão aquelas onde abundavam o boi e o cavalo. Eram comuns aos homens de uma e outra bandeira e também aqueles de bandeira nenhuma, senão o  da aventura e da ambição pessoal de riquezas, o churrasco (um naco de carne sobre as brasas), o chimarrão, a maneira de amansar os potros selvagens, o estilo de montar, o abate do boi para extração do couro e da graxa. Natural, portanto, que nessa identidade ampla de usos e costumes, os jogos de recreio como a cancha-reta e a tava são tão parecidas ou nada diferissem de uma região para outra.
 Com o passar do tempo foi espalhando pelas outras regiões do Rio Grande do Sul, através dos carreteiros, que em suas viagens levavam o jogo do osso principalmente à peonada nas estâncias e nas corridas de cancha-reta, como divertimento e também para vender seus produtos.

1.2. O que é o Jogo do Osso:
Jogo do osso, s. Jogo muito usado na fronteira, principalmente pela baixa camada social. Consiste no arremesso de um osso de garrão de vacum, chamado tava ou taba, sobre uma cancha plana, de chão nem muito duro nem muito mole. Se o osso  cai com o lado arredondado para baixo é culo e perde quem o arremessou. Se ficar para baixo o lado chato do osso é suerte e ganha quem efetuou o lançamento. Se ficar equilibrado sobre uma das extremidades, ocorre uma clavada. Ao lado da raia fica o depositário da parada, chamadocoimeiro. Significado segundo Glossário Expressões Gauchescas.
Segundo o escritor regionalista João Simões Lopes Neto no livro Contos Gauchesco,9ª ed., Porto Alegre: Globo, 1976(Col. Provinci):
Escolhe-se um chão parelho, nem duro, que faz saltar; nem mole, que acama; nem areento, que enterra o osso. É sobre o firme macio, que convém. A cancha com uma braça de largura chega, e três de comprimento; no meio bota-se uma raia de piola (cordão, barbante), amarrada em duas estaquinhas ou mesmo um risco no chão, serve; de cada cabeça da cancha é que o jogador atira, sobre a raia do centro: este atira daqui para lá, o outro atira de lá pra cá. O osso é chamado de taba (ou tava), que é o osso do garrão de rês vacum. O jogo é só de culo ou suerte. Culo é quando a taba (o osso) cai com o lado arredondado pra baixo; quem atira assim perde logo a parada. Suerte é quando o lado chato fica embaixo: ganha logo e sempre. Quer dizer: quem atira culo perde, se é suerte ganha e logo arrasta a parada. Ao lado da raia do meio fica o coimeiro que é o sujeito depositário da parada e que a entrega logo ao ganhador.  Pg 57,58.

1.3. Do Jogo
1.3.1. A Tava
É o instrumento com o qual se pratica o jogo do osso, podendo também ser chamada "taba", "osso" ou "garrão", é confeccionado com o astrágalo, osso do jarrete de bovino, e seu tamanho varia de acordo com a idade ou porte do animal escolhido.
 Para preparar uma boa tava, recomenda-se, logo após sua extração do jarrete do animal abatido, enterrá-la por cerca de dois a três meses em terreno nem muito seco, nem muito úmido para "curar o osso". É comum também, colocar o astrágalo na boca de um formigueiro de campo, para que elas façam limpeza do osso. Após o astrágalo ficar limpo e seco, com uma pedra áspera ou uma grosa, são alisadas as faces correspondentes à “suerte” ou “culo”, ficando assim, pronta a tava para o uso.
Segundo os jogadores mais aficionados, a melhor tava é do astrágalo do touro, pois geralmente é o mais forte e de mais peso, e se bem preparados jamais racham ou lascam. Também não é recomendado retirar o astrágalo de um animal morto por peste ou inanição, pois a exposição ao sol e a intempérie, pode tornar o osso “esbranquiçado”, quebradiço e sem peso, não prestando assim para confecção de uma boa tava.
1.3.1.1. Tava ferrada
            Com o surgimento ferrarias de campanha, passou-se usar também a tava ferrada, onde o astrágalo já preparado recebe uma espécie de ponteira de ferro na face “culo”. Com esta ponteira a tava se prestava melhor à “clavada” – espécie de posição ganhadora que será tratada adiante. Apesar deste tipo de tava ainda ser encontrada, entrou em desuso, principalmente nas canchas onde se pratica o jogo a dinheiro.
            Posteriormente as tavas ferradas receberam uma cobertura de metal em toda a superfície do lado “culo” e, finalmente, as recobertas de metal em ambas as faces. Este tipo de tava é a mais usada atualmente, sendo que o metal usado é o bronze na face “suerte” e o ferro na face “culo”. Também, em raras vezes, é encontrada tavas ferradas em ambos os lados com ferro, mas para diferenciar as faces, no “culo” o metal recebe o desenho de formato retangular e com os anglos em meio círculo, e a “suerte” acompanha o risco natural do astrágalo em forma de “S”.
1.3.l.2. Tava de madeira
            Também encontramos a tava confeccionada em madeira de lei, quase sempre do cerne de ipê ou da canafístula. Tem basicamente o formato do astrágalo, sempre uma ou outra face ferrada e um pouco mais pesada que a de osso. Com o passar do tempo e do uso a tava de madeira, alisada pela mão do atirador, torna-se muito semelhante à tava de osso. As razões para a tava ser feita de madeira, nenhum aficionado do jogo consegue explicar.  
 1.3.2. Posições da tava no solo
Após o arremesso a tava pode estabilizar-se em pelo menos oito posições, cada uma delas com seu nome:
1.3.2.1. “Suerte - parte ganhadora para o alto, ou para cima.
1.3.2.2. “Culo - parte ganhadora para baixo.

1.3.2.3. “Clavada” - quando a saliência de clavar enterra-se no chão, ficando a tava em diagonal sobre o solo, temos a "clavada" - ganhadora quando a parte superior, exporta, fica para cima. É a "suerte clavada", o tiro-rei das canchas do jogo do osso.

1.3.2.4. “Culo clavado” - idem ao anterior, mas exposta a face perdedora.
1.3.2.5. “Suerte declinada” - tava estabilizada quase na vertical, com face ganhadora exposta.
1.3.2.6 .“Culo de espelho”-idem ao anterior, mas com face perdedora exposta.
1.3.2.7. “Güeso” - posição que não é nem “suerte” nem “culo”, com qualquer dos lados não ferrados para cima.
1.3.2.8. "31" ou "Touro" - variação do “güeso” com a tava exatamente na vertical.
 1.3.3. Espécies de arremessos
Os arremessos ou “tiros” exigem manejo especial da tava, com posições de saída e métodos de lançamentos quase inflexíveis. Todo bom jogador precisa conhecer os vários métodos, mas geralmente se especializam em uma ou duas e aprimoram-se na sua execução. Os arremessos podem ser:
1.3.3.1. “Volta-e-meia”- posição de saída: tava na palma da mão, face de “culo” para cima, saliência de clavar no sentido do punho. Ao arremessar a tava, o atirador imprime-lhe um leve sentido de rotação, de baixo para cima, no sentido do comprimento, com que a tava dá uma volta e meia no ar e fica chapada sobre o terreno.
1.3.3.2. “Duas-e-meia”- idêntica posição de saída da anterior, mas a tava dá dois giros completos e mais meio no ar e cairá sobre o terreno como no tiro anterior.
1.3.3.3. “Duas voltas”- posição de saída: tava sobre a mão, com a face correspondente à ”suerte” para cima e a saliência de clavar no sentido dos dedos, com a mesma técnica das anteriores, executando duas voltas completas sobre si mesmo, a tava descerá sobre o terreno em diagonal.
1.3.3.4. “Três voltas”- mesma técnica de saída e arremesso empregada no tiro de duas - voltas, com um giro a mais da tava.
1.3.3.5. “Carreteiro”- Não exige técnica especial no lançamento da tava sem manejo especial, nem preocupação com número de voltas ou giros, apenas o cuidado de lanças a tava após raia, sem preocupação.
1.3.4. Coimeiro
Pessoa encarregada ou responsável pelo movimento, pelo andamento do jogo. É quem vende e troca as fichas, o que cobra a "coima", percentagem fixa sobre as paradas pagas.
Na maioria dos casos é um jogador veterano e experiente, conhecedor, por causa própria, dos segredos e regras do jogo, que fiel ao vício do jogo, apenas trocou de lado. Ao coimeiro cabe, além de vender as fichas, instalar o jogo, preparando ou mandando preparar a cancha, deve “gritar banca”, isto é, começar o jogo e colocar à disposição um par de tava para quem pretende jogar.
1.3.5. Cancha
O tradicional é praticar o jogo do osso ao ar livre, em um espaço de chão naturalmente nivelado e com um terreno firme e macio. A cancha mede usualmente nove passos normais, de raia a raia. Podendo haver com medida inferior que são chamadas de “cancha curta” ou maiores “cancha longa”. Chama-se “cabeceira a um e outro extremo da cancha. Cada cabeceira e dotada de “raia” e “contra-raia”. A raia e contra raia são demarcadas, próxima uma da outra de um metro e meio a dois metros, com um risco no chão, ou ainda um cordão ou arame rentes ao chão amarrados nas extremidades em pequenas estacas. Do espaço entre a raia e contra-raia deve atirar o jogador, mas também a canchas onde a contra-raia é dispensada, podendo o atirador lançar a tava de maior distância.
É normal o chamado “barro”, que um espaço de terra umedecida e sovada com os pés, com diâmetro de meio metro localizado junto à raia, que é retocado de tempo em tempo. Este barro em condições é fundamental ao bom andamento do jogo, facilitando especialmente aos grandes atiradores, que conseguem com que a tava caia com a inclinação propícia à “suerte-clavada”. 
1.3.6. Trampas
Significa má fé, engodo, artifícios para favorecer uma das partes ou, o mais usual, o próprio coimeiro. Hoje em dia as “trampas” estão relegadas quase que definitivamente. Seu uso só era possível quando se confrontavam atiradores experientes, de um lado, e neófitos de outro. Entre as antigas formas citam-se:
1.3.6.1. “Cargar a tava” - colocar uma esfera de chumbo ou de ferro no interior do osso que tendia a estabilizar-se no terreno em posição, quase sempre, de "suerte" ou somente de "culo".
1.3.6.2. “Barro” - Colocar sob o "barro", a cerca de meio palmo de profundidade, um pelego com lã para cima, com o que, segundo os aficionados, era quase impossível conseguir-se uma "suerte clavada”. O pelego enterrado conferia ao "barro" certa elasticidade, fazendo a tava saltar bem mais que o normal.
1.4. Regras do jogo
            Não há regras escritas para o jogo do osso e nem sempre são absolutamente iguais em todo o Rio Grande do Sul, mas existem normas gerais a serem respeitadas através da tradição oral:
1.4.1. O jogo começa quando o coimeiro “grita banca, já com a cancha preparada, o par de tavas e as fichas à sua frente. Geralmente é quem estipula o valor das primeiras paradas:"Duzentos mil réis é a banca! Quem se habilita?"
1.4.2. Apresenta-se um aficionado que compra as fichas, escolhe a tava de sua preferência e encaminha-se para uma cabeceira. Apresentando-se o oponente que compra fichas e depositam na mão do coimeiro o valor da parada que anuncia “Está copada a parada! Vale jogo!”
1.4.3. Atira o que levantou a primeira tava. Imediatamente, da outra cabeceira, o oponente. Teve início o jogo. O coimeiro só paga a parada para o jogador que somar dois lances positivos:
1.4.3.1. Duas “suertes” do mesmo jogador, contra nenhuma do oponente;
1.4.3.2. Uma “suerte” somada a um "culo" do oponente;
1.4.3.3. Dois “culos” do oponente contra dois “güesos” do favorecido.
1.4.4. Acontecendo “suerte” contra “suerte”, “culo” contra “culo”, ocorre empate que é chamado de “senão”. Não é raro a parada decidir-se depois de vários tiros, pela ocorrência de “senões” seguidos.
1.4.5. Os atiradores só ganham a parada quando favorecidos por dois lances, mas no ”jogo de fora”, a questão se decide a cada lance. Joga-se de fora (do jogo, da cancha) a favor ou contra o tiro de quem arremessa. Ao pagar a parada ao atirador vencedor, o coimeiro já desconta a coima (comissão).
1.4.6. Quando um dos atiradores desiste do jogo, deixando a tava na cabeceira, qualquer assistente pode “copar a parada”, “apertando a tava”, que é o ato de colocar o pé em cima, ao mesmo que anuncia: “Copei a parada!”.
1.4.7. Quando um dos jogadores, durante o jogo, resolve trocar de tava, o coimeiro anuncia “Cambiou de tava”.
1.4.8. O tiro só é válido quando a tava se estabiliza além da raia da cabeceira contrária. Caindo antes dela, o tiro é nulo, com o mesmo valor do “gueso”, não cabendo ao atirador repetir o lance. O mesmo acontece quando a tava se imobiliza sobre a raia.
1.4.9. Se a tava após lançada é desviada de sua trajetória pela mão descuidada de um assistente, pela aba de um chapéu, o tiro é considerado nulo, único caso em que o atirador pode repeti-lo. Se a intervenção for proposital, inclusive quando já estiver rolando após a raia, o intrometido é “punido”: paga a parada.
1.4.10. Desviada a tava de seu curso por qualquer acidente natural, seja uma pedra próxima, uma raiz, galho seco, o tiro não perde validade. São casos que acontecem com alguma freqüência nos tiros de "carreteiro", quando a tava rola sem direção determinada.
1.5. Expressões usadas no Jogo do Osso:
            O jogo do osso tem expressões peculiares e frases feitas que a tradição oral trouxe de muito longe no tempo, como as que seguem:  
1.5.1. Alarula, tia Carula, china e ficha não se adula!
 Dito por quem recolhe as fichas, por haver apostado no tiro que deu “suerte”. Há conotação machista no refrão.
1.5.2. Arranca pelo rabo (ou pela cola)!
Expressão usada por quem colocou uma "suerte clavada". Clavada, a tava fica com a cola ou o rabo para cima.
1.5.3. Cospe no buraco!
            Esta expressão relaciona-se com a crença de que se cuspindo na tava do contrário o azar o perseguirá. Mandar cuspir no buraco (reentrância feita no terreno pela saliência de clavar), que o atirador colocou a “suerte clavada” sobrepõe-se aos azares deste hábito.
1.5.4. É macho, alumiou pra baixo!
Expressão usada por quem jogou contra o tiro e a tava se estabilizam na posição perdedora de “culo”. O “alumiou para baixo” quer significar que a face mais brilhante da tava (a da “suerte”, recoberta de bronze) ficou chapada contra o terreno.
1.5.5. É macho, disse a parteira.
Emprego idêntico a de cima; “é macho” que não dá cria (no dinheiro apostado).
1.5.6. Jogador não tem vergonha!
Expressão usada no momento em que os ganhadores levantam do chão as fichas ou o dinheiro apostado na parada significam que o jogador não tem vergonha por entregar-se ao vício do jogo.
1.5.7. Louca também se casa!
Saudação a um lançamento mal feito, especialmente o “carreteiro”, que resulte numa “suerte”.
1.5.8. Mão fria não bota “suerte”!
É preciso aquentar o corpo e as mãos para lançar-se a tava com habilidade.
1.5.9. Não é só butiá que dá em cacho!
Quando um atirador repete várias “suertes”.
2. O Jogo do Osso no meio tradicionalista
         No meio tradicionalista o Jogo do Osso é mais conhecido como Jogo de Tava, é considerado um esporte tradicionalista. Jogado nos CTG (Centros de Tradição Gaúcha), em rodeios campeiros e em campeonatos, somente por troféus, não por dinheiro, com objetivo depreservar e divulgar o jogo, mostrando os hábitos, os costumes, as tradições e o folclore rio-grandense.  
2.1. Regulamento do MTG do Jogo de Tava  
      Para o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho), Jogo de Tava um esporte tradicionalista, possui um regulamento aprovado na 59ª Convenção, realizada em julho de 2003, na cidade de Piratini, conforme normas abaixo:
Título I
REGULAMENTO DE ESPORTES
Capítulo I
DAS FINALIDADES
      Art. 1º - O REGULAMENTO DE ESPORTES DO ESTADO tem por finalidade:
      I - preservar e divulgar os hábitos, os costumes, as tradições e o folclore rio-grandense;
      II - estabelecer normas claras, orientando e definindo as diretrizes para a prática dos esportes tradicionais, possibilitando a sua adoção em todo o estado;
      III - facilitar a realização de eventos esportivos e torná-los homogêneos, permitindo a que os participantes conheçam às regras antecipadamente e elas sejam adotadas por todo o MTG.

      Art. 2º - As provas esportivas previstas neste Regulamento são:
      I - Jogo de tava;
      II - Jogo de truco;
      III - Tetarfe;
      IV - Bocha Campeira;
      V - Solo.

Capítulo II
DAS MODALIDADES

Seção I

Jogo de Tava
      Art. 3º - Especificação: A Tava é o astrágalo do vacum e divide-se em 4 partes para efeito deste regulamento. OSSO - CHAPA DE BRONZE - CHAPA DE FERRO e PINOS DE FIXAÇÃO.
      Parágrafo único - A Chapa de Bronze corresponde a “SORTE” e a Chapa de Ferro, corresponde ao “CULO”.

      Art. 4º - Cancha - A Cancha para a prática do jogo da tava, deverá ter as seguintes medidas: de 7 (sete) metros até 9 (nove) metros de raia a raia.
      § 1º - Dentro destas medidas, poderá haver variações de comprimento, de acordo com a Comissão Organizadora do evento.
      § 2º - Picador - Inicia na raia e deverá ter o máximo de 3 (três) metros de comprimento por 2 (dois) metros de largura.
      § 3º - Bacia - Localiza-se dentro do picador e deverá ter 50 cm x 50 cm.
      § 4º - O piso do picador deverá ser de terra molhada (barro).

      Art. 5º - PARTICIPANTES: Todos os participantes deverão estar representando uma Entidade Tradicionalista filiada ao Movimento Tradicionalista Gaúcho.
      § 1º - Os jogos serão disputados na modalidade “TRIO” podendo ser inscrito 1 (um) reserva para cada trio.
      § 2º - Todos concorrerão à premiação individual sendo que para a contagem dos pontos por equipe não valerão os pontos do reserva.

      Art. 6º - Contagem de pontos:
      I - As jogadas terão os seguintes valores:
      SORTE CLAVADA           2 (dois) pontos positivos
      SORTE CORRIDA         1 (um) ponto positivo
      CULO CLAVADO                   2 (dois) pontos negativos
      CULO CORRIDO                    1 (um) ponto negativo
      II - A sorte é “clavada”, quando a tava bater no picador, e tocar o solo, com o cravador se fixando ao solo, deixando o lado inverso do cravador livre. Ficando definida a posição “SORTE”.
      III - O culo é “clavado”, quando a tava tocar o solo com a ponta inversa ao cravador, se fixando a este deixando o cravador livre. Ficando definida a posição “CULO”.
      IV - Toda e qualquer jogada, que ocorrer diferente das descritas nos incisos “II” e “III”, será considerada “sorte corrida” ou “culo corrido”.
      § 1º - Quando a tava bater fora do picador e der “culo”, valerá os pontos e a jogada.
      § 2º - Quando a tava bater fora do picador e der “sorte”, não valem os pontos, mas valerá a jogada.
      § 3º - Cada jogador terá direito a 10 (dez) tiros de tava, sendo 5 (cinco) em cada extremidade da cancha.

      Art. 7º - Fica proibido apostas diretas envolvendo dinheiro ou outros quaisquer valores, em Jogos de Tava promovidos pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, ou Entidades a ele vinculadas (Filiadas).

      Art. 8º - No momento do tiro, o atleta deverá ficar atrás ou, no máximo, com o meio pé em cima da raia, não podendo deslocar-se em direção ao picador do atirador adversário, enquanto a tava não tocar o solo.
     
      Art. 9º - O tempo de intervalo entre uma partida e outra, deverá ser de até 5 (cinco) minutos.
      Parágrafo único - O não comparecimento da equipe, no prazo marcado pelos organizadores, implicará na eliminação ou perda dos pontos.

      Art. 10 - Os promotores do evento (torneio) deverão apresentar para os competidores, um ou mais pares de tava ferradas, com as quais deve ser disputada a competição.
      § 1º - O atleta somente terá direito à troca de tava (câmbio), quando o seu adversário fizer “sorte”.
      § 2º - Quando o osso (tava) ficar em pé, com as duas pontas no solo, chama-se “jura”, não vale pontos, somente a jogada.

      Art. 11 - Uma equipe mesmo não estando completa, número inferior a 3 (três) poderá participar da competição. Concorrendo apenas à premiação individual.

      Art. 12 - Todo o atleta que praticar alguma falta, que venha denegrir a competição, ou contribuir para a discórdia entre os participantes, ou ainda dirigir-se a qualquer membro da arbitragem ou organizadores, de maneira desrespeitosa, estará sujeito às seguintes penalidades, de acordo com a gravidade da falta.
      § 1º - São penalidades:
      a) admoestação;
      b) perda de uma ou mais jogadas;
      c) desclassificação individual;
      d) desclassificação da equipe.
      § 2º - Além das punições previstas neste artigo, a representação faltosa ficará sujeita ao Regulamento do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
      § 3º - O culo valerá sempre, mesmo que a tava toque o solo fora da raia. A sorte somente terá validade, se a Tava tocar o solo e permanecer dentro dos limites do picador.

      Art. 13 - Os casos omissos serão decididos pela Comissão Organizadora do evento, ou por Comissão específica designada pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Capítulo III
DA INDUMENTÁRIA
      Art. 30 - Para todas as provas, os concorrentes deverão estar pilchados de acordo com as Diretrizes de Indumentária definidas pelo MTG, respeitada a tradição e o folclore sul-rio-grandense.
      Parágrafo único - Consideradas as condições ambientais e de clima, os organizadores poderão definir o uso de “pilcha de descanso”, com o uso de alparcatas ou chinelo campeiro.

Capítulo IV
DAS COMISSÕES JULGADORAS E ORGANIZADORAS
      Art. 31 - As comissões julgadoras deverão ser compostas por pessoas de conduta ilibada e de reconhecido conhecimento na área onde atuarem.

      Art. 32 - A escolha das comissões julgadoras é de competência dos organizadores dos eventos a quem cabe proporcionar as condições indispensáveis para o desempenho da tarefa.

      Art. 33 - As decisões das comissões julgadoras são irrecorríveis, exceto nos casos de erro de fato, cabendo às próprias comissões reformar suas decisões quando julgarem necessário.

Capítulo V
DAS PENALIDADES
      Art. 34 - As penalidades podem ser de advertência, desclassificação da prova ou de eliminação do evento, de acordo com a gravidade da falta, a critério das comissões julgadoras e organizadoras dos eventos.

      Art. 35 - São consideradas faltas graves:
      I - Ofender ou afrontar as comissões julgadoras e/ou organizadoras dos eventos.
      II - O porte de arma de fogo durante as provas ou nos locais públicos do evento.
      III - A embriaguez alcoólica para os participantes de provas.
      IV - As rixas entre participantes dos eventos.

      Art. 36 - Além das penalidades estabelecidas neste capítulo, os infratores poderão ser submetidos ao que estabelece o Código de Ética Tradicionalista.

Capítulo VI
PRESCRIÇÕES DIVERSAS
      Art. 37 - Como forma de fortalecimento do movimento tradicionalista gaúcho organizado e para a melhor organização e controle desse movimento, as entidades tradicionalistas filiadas ao MTG não poderão permitir que integrantes de entidades não filiadas participem dos eventos por elas promovidos. Assim como não poderão participar de eventos promovidos por entidades não filiadas.

Art. 38 - De todos os participantes das provas deverão ser exigidas as respectivas Carteiras de Identidade Tradicionalistas, emitidas pelas Regiões Tradicionalistas.

      Art. 39 - Não deve ser permitida, nas diversas provas dos eventos, a formação de equipes, com integrantes de entidades diversas, exceto nas competições entre Regiões Tradicionalistas ou torneios intermunicipais.
      Parágrafo único - As seleções regionais e municipais são escolhidas conforme critérios definidos pelos Encontros Regionais das RTs.

      O presente Regulamento de Esportes foi aprovado na 59ª Convenção, realizada em julho de 2003, na cidade de Piratini, sob a responsabilidade do Diretor de Esportes José Maria de Vargas e a sistematização foi realizada pelo Presidente do MTG, Manoelito Carlos Savaris, em 2003 e 2006.

      Sofreu alterações nas seguintes Convenções:        
      (1) - 67ª - Tramandaí - julho de 2005
      (2) - 70ª - Caxias do Sul - julho de 2006
      - Em dezembro de 2006 a formatação do Regulamento de Esportes foi reajustada por ato da Diretoria do MTG, passando a se constituir em peça independente.  

3. O jogo do Osso e a Lei: 
      Conforme pesquisa bibliográfica efetuada o jogo do osso não é proibido, pois não há nenhuma lei específica no Código Penal, o que há é a lei proibindo o jogo de azar.  Segundo Correio do Povo do dia 06/09/1966, no julgamento de um praticante do jogo, a decisão do Tribunal de Justiça, entre eles a 3ª Câmara Criminal, considerou que o jogo do osso não é de azar, razão por que sua prática não incide na censura legal. Trata-se de jogo em que o ganho e a perda não dependem exclusiva ou principalmente da sorte; ao contrário, para sua prática e bom êxito deve o jogador contar, tão somente, com sua habilidade e adestramento (Revista Jurídica, volume 69, página 259).
      Também em Viamão, o Juiz de Direito, concedeu mandato de segurança a favor de um proprietário de cancha de jogo do osso, desta maneira a diversão tradicional do gaúcho deixou de ser considerada “de azar”, para ocupar o lugar de onde  a rigor  nunca deveria ter sido arredada, quando menos ao que representa de folclórico. Esta notícia publicada em 11/0/1968 no Diário de Notícias de Porto Alegre.
      Na Zero Hora dia 12/11/1976 no quinto programa da série Documento sobre O jogo, paixão e vício foi publicado que o jogo do osso foi liberado pela Divisão de Diversões Públicas para disputas em clubes fechados, é documentado em sua versão legal e ilegal (no meio do mato, sem cancha bem definida e com apostas em dinheiro vivo, casado sobre a grama).
      Segundo o repórter Gilberto Leal, em sua reportagem Jogo do Osso, a Tava - Gaúcho no Entrevero, publicada em 11/04/1977 página 30 do Jornal Zero Hora de Porto Alegre, depois de acompanhar muitas disputas da tava, descreve:
                                                                       No ambiente típico da campanha, a tava ganhou seu habitat, desenvolvendo-se pelo interior, ganhando forças e projeção, criando lendas e estórias, como a do fazendeiro que perdeu suas terras, das muitas mortes e confusões. Por sua própria natureza, o Jogo do Osso ou Tava é violento, e tantos foram os problemas criados, que terminou proibido, só sendo permitido em alguns CTG (Centro de Tradições Gaúchas) ou clubes. Mas basta sair pelo Rio Grande, para ainda encontrar muitas canchas de osso, principalmente no fundo dos bolichos, próximo ás canchas-retas ou nas próprias fazendas. O jogo do Osso ou Tavolagem integrou-se definitivamente à vida do gaúcho e com ele segue seus caminhos. Basta que alguns peões ou tropeiros se reúnam para que o jogo comece, até terminar em discussão ou briga violenta, como recomenda um jogo “pra macho, tchê”.
                               Em 15/04/1984, na reportagem do Jornal Zero Hora, página 38 contatou-se que em Porto Alegre o número de canchas do Jogo do Osso chegava a mais de cem espalhadas pela cidade, inclusive em edifícios em pleno centro da cidade. Nestes locais, apesar de o jogo ser considerado reduto exclusivo dos homens, já há invasão feminina e o jogo é tolerado pela polícia, que não interfere em sua prática.
      Atualmente, no meio tradicionalista, o Jogo do Osso ou Tava é considerado um esporte, tendo já suas regras regulamentadas e já ocorrendo campeonatos, olimpíadas tradicionalistas em várias localidades.
      Em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, ocorreu dia 20,21 e 22 de abril de 2007 a 1ª Olimpíada Tradicionalista organizada pelo CTG Presilha do Pago, a competição teve participantes em diversas modalidades além do Jogo do Osso.
            Em Gravataí no Parque Aldeia dos Anjos, acontece o FECARS (Festa Campeira do Rio Grande do Sul), que além das provas campeiras acontece também o Campeonato de Jogo da Tava e outras modalidades esportivas. 
       No Acampamento Farroupilha do Parque da Harmonia – Porto Alegre, no dia 13/09/2008 aconteceu o Campeonato de Jogo da Tava e outras modalidades esportivas.

4. Revisão bibliográfica
RILLO, Aparício Silva, (1988). É Macho, Alumiou pra Baixo!O Jogo do Osso no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS: Martins Livreiro Editor.

LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. 9ª ed., Porto Alegre: Globo, 1976. (Col. Província), Pg. 57, 58 e 59.

5. Bibliografia
RILLO, Aparício Silva, (1988). É Macho, Alumiou pra Baixo!O Jogo do Osso no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS: Martins Livreiro Editor.

LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. 9ª ed., Porto Alegre: Globo, 1976.

MEYER, Augusto.Guia do Folclore Gaúcho. Rio de Janeiro, Editora Tecnoprint.

www.paginadogaucho.com.br/jogo/jo.htm  - Dia 23/07/2008, 09h45min

kleitonekledir.uol.com.br/gloss.html  - Dia 23/07/08, 10h



 6.2 - Fotos das posições da Tava

Fotos tiradas no Acampamento Farroupilha, no dia 13 de setembro de 2008 por Marisa Auler Guimarães.


Tava na posição “sorte”.



Tava na posição “culo”.


Tava na posição “culo clavado”.


Tava na posição “sorte clavada”.


Tava na posição “gueso ou osso”.


Tava na posição “31 ou osso”.

Fonte: Jornas Virtual Chasque Pampeano

Sem comentários:

Enviar um comentário