O meu amigo Indio Rufino comentou que na minha São Chico de Assis, existia o Velório da Cruz, mas eu não sabia o que era, e o Miltom Marques enviou-me esse link, que fala desse velório, que na verdade eu já havia presenciado, quando piá, lá no 5º distrito de São Chico, na Vista Alegre, quando faleceu o seu Osório Jacques, que por sinal foi o melhor churrasco que comi, sob um toldo de carreta, cenas que narro no meu livro... o famoso Velório da Cruz.
Aqui vai o texto escrito poe José Vilmar de Medeiros em seu blog.
Pois é, lá no Plano Alto onde eu nasci a poucos anos, existia o velório da cruz. E aqui onde resido hoje, Sant"Ana do Livramento, quando conto nas rodas de amigos os velórios de cruz que participei, ninguém acredita, dizem, lá vem o Medeiros com suas mentiras.
Mas a realidade é que realmente existia e eu participei de muitos, são usos e costumes de cada região, que as vezes quando contamos, parece mentira mas não é.
É lá no Plano Alto, quando morria um vivente, ele era velado primeiro sem o caixão, o caixão só depois que o Ferreiro Aristides Sigaran fazia de tábua bruta, mas bem feito, bem lixado e se a familia do morto tinha alguns pilas sobrando, vinha inclusive invernizado. Enquanto era feito o caixão na ferraria, o morto era colocado em cima de uma mesa, tapado com um lençol ou pano branco com quatro velas acesas em cada canto da mesa. O velório corria tranquilo para os amigos que aproveitavam o ato para churrasquear ( comer uma carne assada ), botar as fofocas em dia, tomar um cafezinho com bolo frito ou bolacha, e nas entrelinhas, tomar um bom trago de canha, porque a branquinha, as vezes faltava o defunto mas a canha não, essa era presença obrigatória em eventos dessa natureza. Chegava o caixão, era feita a transferência do corpo, da mesa , para dentro do mesmo e a prosa corria flouxa entre os presente. Decorridos os trâmites regulamentares, o dito cujo era enterrado e todos os presentes e os que por um motivo ou outro nao puderam comparecer no velório, se preparavam para o '' velório da cruz '' que geralmente ocorria 30 dias após o falecimento e enterro do morto. A justificativa para tal ato, era que o ferreiro Aristides que se transvestia de carpinteiro para fazer o caixão, passava a desempenhar a sua real função. E como tal, fazia a cruz de ferro, que nao era aquela decoração que geralmente os Generais ganham por atos de bravura, essa era uma cruz que após velada durante uma noite inteira, no outro dia era levada com muito respeito para a sepultura do morto, onde a partir daí, serviria para identificar quem e quando tinha morrido o vivente. O Plano Alto, que é uma vila e fica no muncípio de Uruguaiana, distante 70 kms da cidade, quando morria alguém, era um acontecimento que movimentava os moradores da vila. Geralmente naquela época os mortos não eram como hoje, que o vivente morre e logo desancam o defunto colocando todos os seus defeitos para conhecimento de todos, naquele então, os mortos eram tratados com muito respeito. Esse era um dos motivos, que o velório da cruz era muito esperado. Além de servir para ratificar as qualidades do morto, servia ainda para um encontro entre os amigos e vizinhos, regado com as mesmas iguarias do velório propriamente dito. Portanto, sugiro que os jovens perguntem a seus familiares mais velhos, que com certeza eles terão histórias e fatos que divergem de região para região e que poderão serem utilizadas em trabalhos literários de conhecimento histórico para quem interessar possa.
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