Veículo de Bittencourt caiu em barranco às margens da BR-287, na altura do km 307
Foto: Jefferson Lenz / Gazeta Regional
"Eu nasci de novo", afirma homem que ficou 44 horas no meio do mato depois de sofrer um acidente, em São Pedro do Sul
Cantor evangélico conta como foram os momentos que viveu
A voz calma e pausada do cantor evangélico Antonio Horácio de Souza Bittencourt, 38 anos, em nada remetem a uma pessoa que passou 44 horas imobilizado dentro de um carro, em meio a um matagal, entre a vida e a morte.
Bastaram algumas palavras ao telefone para que essa primeira impressão fosse desfeita. Mantendo a serenidade, o pai de seis filhos (no próximo domingo, nascerá mais um menino), foi sendo tomado pela emoção.
Emoção por ter sobrevivido ao acidente de trânsito que sofreu na BR-287, em São Pedro do Sul, no começo da tarde da última terça-feira. Emoção por continuar convivendo com sua família e com Deus.
Bittencourt está internado em estado estável no Pronto-Socorro do Hospital Universitário de Santa Maria, para onde foi levado na manhã de quinta-feira, depois de conseguir sair do Astra, subir uma ribanceira de cerca de 20 metros e pedir ajuda na beira da estrada.
Do hospital, ele conversou com a reportagem do Diário de Santa Maria nesta manhã de sexta-feira e contou detalhes do que viveu.
Diário de Santa Maria _ O senhor estava voltando de Caxias do Sul quando ocorreu o acidente?
Antonio Bittencourt _ Estava em Caxias na segunda-feira em um seminário para jovens e sairia de lá na noite de segunda. Mas, um colega pastor me convidou para conversar com grupos de famílias e acabei ficando. Na terça, sai cedinho. Ao meio-dia, cheguei em Santa Maria e parei em Camobi para almoçar. Depois peguei a estrada. Quando estava indo de São Pedro do Sul para Mata, começou a cair uma chuva torrencial e meu carro aquaplanou na estrada. Foi tudo muito rápido. O carro desceu uma ribanceira de uns 25 metros e caiu no meio da água.
Diário _ O senhor estava consciente?
Bittencourt _ Sim. Estava consciente o tempo todo, mas sentia uma dor muito profunda. Ocorre que eu fraturei a cervical em dois lugares e o fêmur deslocou da base da bacia. Não conseguia me mexer. Tentei abrir a janela da direita e sair do carro, mas não consegui. Sentia as minhas pernas, mas não conseguia me mover. Estava com o celular sem bateria. Acabou na segunda e eu não carreguei. Assim fiquei os dois dias, sentado no lugar do motorista, sem beber nem comer nada.
Diário _ Chovia muito forte naquele dia. E o senhor ficou em um local que acumulou água...
Bittencourt _ Sim, chovia muito. A sorte é que parou de chover na terça porque o local onde eu estava iria encher de água e eu morreria afogado. A água já estava na altura da minha cintura.
Diário _ Como o senhor conseguiu sair do local?
Bittencourt _ Na madrugada de quarta para quinta, orei para o senhor. Conversei com ele e disse: Só os seus olhos, Senhor podem me achar aqui. Me dê forças para subir esta ribanceira. E foi assim que Ele me deu forças e eu consegui subir. Quando cheguei na estrada, acenei para um carro que estava passando, e um senhor de idade parou. Minha família foi contatada e eu fui salvo.
Diário _ O senhor é um homem de fé, mas é normal que em uma situação dessas entrasse em desespero...
Bittencourt _ Posso dizer que nasci de novo. Agora estou aos cuidados dos homens, dos médicos. Eles me disseram que, com uma lesão como a minha, no fêmur, não haveria como subir 30 metros. Nesses dois dias, fiz uma retrospectiva da minha vida, e dei a muito mais valor às coisas que vivi aqui. Em nenhum momento cheguei a me desesperar. Conversei muito com Deus. Disse ao Senhor que os meus filhos não precisavam de mim porque são estruturados, mas que minha missão era continuar. Se não fosse possível, iria em paz.
Fonte: Silvana Silva | silvana.silva@diariosm.com.br
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