sexta-feira, 8 de agosto de 2014

POEMA OU POESIA?

"A poesia foi, inicialmente, sentimento. O homem escutou a voz íntima que lhe falava em silêncio e cantou.” Humberto de Campos

Fui, por diversas vezes, na sala de aula, questionado por alunos, se os vocábulos poesia e poema eram a mesma coisa; se tinham o mesmo significado; se era certo, correto usar tanto poesia quanto poema, em referência a um conjunto de versos escritos por alguém?
Esse questionamento se justifica pelo comum uso que fazemos de poesia e poema como sinônimos. Porém, no estudo puro da composição poética, perceberemos que nem toda composição versificada contém poesia. Poderíamos até dizer, com toda confiança, que a poesia não precisa necessariamente do verso para se manifestar. Assim é que podemos encontrá-la na prosa, e até mesmo em outras manifestações artísticas, como a pintura, a música, etc. Perguntaria: como isso é possível? É possível porque a poesia é gerada, para o apreciador da obra, pelo conteúdo de uma forma de expressão.
No processo do conhecimento e do relacionamento do homem com o mundo, existe uma manifestação paralela à inteligência, à racionalidade, que é a emoção. Você pode olhar o pôr-do-sol com os olhos de um astrônomo, defini-lo e explicá-lo. Mas pode também, olhá-lo com os olhos de um artista e diante daquela síntese de imagem e cor sentir algo estranho, emocionar-se. Tomados então por este estado de admiração, passamos a desenvolver um sentimento de prazer diante do belo: o prazer estético.
Assim, a leitura de um poema ou a contemplação de um quadro, pode sensibilizar-nos, a ponto de despertar em nós um estado emotivo ou lírico. É a sublimidade da beleza poética, que reflete as mais profundas e elevadas sensações do espírito humano, e que constitui na essência, o lirismo.

Antônio Soares Amora dá-nos uma clara definição de poesia e poema:
Poesia é o estado emotivo ou lírico do poeta, no momento da criação do poema; o estado lírico reviverá na alma do leitor se este lograr transformar o poema em poesia.
Poema é a fixação material da poesia, é a decantação formal do estado lírico. São as palavras, os versos e as estrofes que se dizem e que se escrevem, e assim fixam e transmitem o «estado lírico» do poeta.

Costumava, sempre, exemplificar estas definições, comparando-as com um caule e sua flor: o caule, as folhas, os espinhos e a flor formam o poema (é a parte material), mas o perfume que exala da flor é a poesia.

E para fecharmos, sinta a poesia deste texto em prosa:
“Era por uma dessas noites vagarosas de inverno, em que o brilho do céu sem lua é vivo e trêmulo; em que o gemer da mata é profundo e longo; em que a solidão dos riachos é absoluta...” (A. Herculano)

Fonte: Sérgio Ricardo http://www.recantodasletras.com.br/

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