sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

SÃO FRANCISCO DE ASSIS 129 ANOS


História da Cidade 
São Francisco de Assis teve origem nas terras primitivamente habitadas pelos índios tapes, nas quais em 1627 o Padre Roque Gonzales levantou a terceira Redução Jesuíta em solo gaúcho. Essa redução, que recebeu o nome de Candelária do Ibicuí, foi abandonada em 1638, até que, em 1801, na época da conquista das Missões Orientais, é registrada a existência, no mesmo local, da Guarda de São Francisco de Assis. Segundo narrativa lendária, os fundamentos da capela datam de 1819, (para outros é de 1810). A freguesia de São Francisco de Assis surgiu em 1857. Em 1884 foi criado o Município e o povoado elevado a vila. A cidade data de fins de 1938.

Formação Administrativa
O distrito deve sua criação à Lei provincial n.º 358, de 17 de fevereiro de 1857. O Município foi constituído pela Lei provincial n.º 1 427, de 4 de janeiro de 1884, com território desmembrado de Itaqui ou de São Vicente, e instalado a 7 de janeiro de 1885. Em dezembro de 1938 São Francisco de Assis é elevada à categoria de cidade, instalada a 1.º de janeiro seguinte. A comarca só foi em 25 de maio de 1946.
História
A região passou pelas mãos de donos sucessivos. Era a terra dos tapesguaranisminuanosguenoscarijósarachanescharruascaaguas e guananás.
A ação das bandeiras predadoras devastaram as reduções dos tapes. Após sucessivos combates entre portugueses e espanhóis, e tratados estabelecidos, delimitou-se as fronteiras.
Aqui permaneceram os portugueses, que continuaram a criação de bovinos de corte, atividade que até hoje é predominante no município.
A primeira tentativa de povoamento da região foi feita pelos jesuítas, em 1627, quando o padre Roque Gonzales fundou a redução de Candelária do Ibicuí, que acabou fracassando, e concretizou-se somente no inicio do povoamento em 1809.
Crê-se que a primeira capela foi construída em 1810, tendo como padroeiro São Francisco de Assis.
O município foi palco de dois movimentos revolucionários, em 1893 e 1923. Havia grande número de habitantes contra a permanência do regime imperial, tendo sido muito festejada a Proclamação da República.

Cronologia

§ 1801 - Foi criado o Forte de São Francisco de Assis na sesmaria de Itajuru, à margem esquerda do rio Inhacundá.
§ 1809 - Início do povoamento da sede, em torno do Forte da Capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul.
§ 1923 - Revolução de 1923, a "Revolução Libertadora", palco de duros combates entre republicanos e revolucionários. O combate trouxe muitas consequências para a sociedade da época, não só para São Francisco Assis mas para todo o Rio Grande do Sul. Houve uma grande parada econômica devido a falta de mão-de-obra, na época composta quase exclusivamente por homens.

PARTICIPAÇÃO DE  SÃO FRANCISCO DE ASSIS (02 DE OUTUBRO DE 1923)
A Coluna Revolucionária do Oeste, sob a comandância do Gal. Honório Lemos, perseguidos pelo Gal. Flores da Cunha, transpõem o Rio Ibicui na altura do " Passo do Catarina " ( atual Praia do Catarino ou Jacaquá ) em 29 de setembro de 1923, rumo às Missões. Logo no início da Revolução (março/abril 1923), o Cel. Hortêncio Rodrigues, comandando 300 homens, havia ocupado São Francisco de Assis pacificamente, uma vez que o Intendente Borgista, Dr. Carlos de Oliveira Gomes, ante a impossibilidade de resistir havia se retirado com sua pequena guarnição. Como a Vila voltara ao comando do intendente Dr. Carlos Gomes, pois a tomada pelos libertadores tinha sido apenas simbó1ica, continuando na marcha, a Coluna mandou emissário para que houvesse rendição, o que não foi aceita pelo corajoso intendente, ainda envergonhado pela pecha de medroso que seus próprios companheiros de São Vicente e Santa Maria lhe impingiram, quando de sua retirada estratégica, meses antes. Toda Coluna acampou nas imediações da Vila, na Fazenda de Henrique Gregório Haigert (Nico Bonito), pai do Cel. Pimba, do Cap. João Vergilino Haigert e do Tte. Amarino Haigert, todos revolucionários.
O emissário da Coluna foi Dedé Ribeiro, o popular Zera, filho de Taurino Ribeiro, proprietários da Telefônica local, que, na altura da localidade de "Apertados", na estrada que leva à Estação Férrea do Jacaquá, no outro lado do Rio Ibicui, no município de Alegrete, estava consertando a rede de fios, quando foi preso pelo revoltosos e se tornou o portador da mensagem de rendição.
Pela manha de 02 de outubro a Vila estava sitiada pela Coluna Revolucionária de São Francisco de Assis, mais o Coronel João Batista Luzardo, chefe do Estado Maior e ainda o Cel. Trajano e sua pequena força, de Don Pedrito.
O Gal. Honório Lemos não participou do combate, ficando acampando com o grosso da tropa, aguardando os acontecimentos. Achara, decerto, desnecessário, mesmo que a luta era tipicamente familiar, envolvendo gente da mesma terra, entrelaçada por vínculos sanguíneos e de antigas amizades, agora rompidas na luta de cada um por seus ideais. 
Na madrugada de 02 de outubro, Luzardo e Hortêncio deram a ordem de ataque geral, começando o medonho combate. A investida libertadora foi frontal e suicida. Logo os defensores, postados nas trincheiras, nos altos das casas e nos telhados, fizeram desabar sobre os atacantes uma chuva de fogo que causou várias baixas. O sistema defensivo, que compreendia obstáculos colocados na embocadura das ruas, obrigava os atacantes a investirem pelo meio ou invadirem casas de família para chegarem ao reduto principal, que era a praça da intendência. Batista Luzardo, de espada na mão, comandou a grande investida frontal de cavalaria para chegar até a praça. Logo o cavalo de Luzardo rodou, atingido na cabeça, obrigando o cavaleiro a se abrigar para não ser atingido. Partiu dele a ordem de avançar, e as centenas de homens foram ultrapassando os obstáculos um a um, em meio ao alarido dos defensores, dos gritos das mulheres e das crianças, precariamente abrigadas nas residências invadidas, do gemido dos agonizantes traçados a punhal ou espada, fuzilados ou degolados sem quartel. Já atacados nas ruas, nas esquinas, por detrás dos muros, de dentro das casas, já agora de cima dos telhados, o que restava dos defensores foi obrigado a saltar das trincheiras e procurou abrigo por detrás dos troncos das árvores da praça e no edifício da Intendência.
Foram entabuladas novas tentativas para a rendição dos governistas quando, segundo voz corrente, um revolucionário, ao apertar os arreios de sua montaria, infelizmente, soltou-a e esta, livre, galopou célere pela rua principal, rumo às trincheiras abertas em todas as bocas das vias de acesso a Praça da Intendência, guarnecidas de provisórios. Os defensores abriram fogo, enganados com o falso movimento. Foi o que bastou para o combate recomeçar ainda mais violento. Um mangote de homens atingiu a Intendência e lá se entrincheirou.
Foram retabuladas as negociações e o Cel. Pimba e o Major Álvaro Alves conseguiram que os defensores se rendessem, sob garantia de vida. Ainda impelido pelo calor do combate e pelo ardor político, o comandante da Coluna Gel. Hortêncio Rodrigues, instigado por alguns companheiros, principalmente pela força de Dom Pedrito que tivera seu chefe tombado, tentou invadir e sacrificar os republicanos recolhidos e já rendidos na Intendência, o que foi contido pelo Cel. Pimba, que se opôs veementemente às ordens de invasão do seu chefe, salvando os vencidos, alguns com ferimentos.
Pelos governistas, tombaram o Intendente Carlos de Oliveira Gomes enquanto municiava seus comandados nas trincheiras, o Gel. Estevão Brandão, Delegado de Polícia e Ex-Intendente, o corajoso cap. João Manuel Marques, subdelegado, já na frente da Intendência. Pelo lado rebelde tombou o Gel. Trajano de Don Pedrito, além de muitos bravos.

Fonte:
CARNEIRO, Glauco. Luzardo, o último caudilho. Editora Nova Fronteira, 1977.
MARQUES, Antero. Mensagem para poucos: vivências de um estudante revolucionário. A nação, 1964

Tyrteu Rocha Vianna

Tyrteu Rocha Vianna (São Francisco de AssisRio Grande do Sul28 de novembro de 1898 - Alegrete,21 de setembro de 1963) foi um poeta de vanguarda,radioamador, e grande proprietário de terras do Rio Grande do Sul, Brasil. Tem sido considerado pela crítica como um dos mais dotados ou o maior dos modernistas do início do século XX no Rio Grande do Sul.


Biografia

Formado em Direito em 1922 pela UFRGS, em Porto Alegre, e tendo sido o 5º radioamador do Brasil, com um rádio construído por ele mesmo, sendo de família abastada, participou daRevolução de 30, seguindo para o Rio de janeiro com Getúlio Vargas, de cuja fazenda em São Francisco de Assis as suas terras eram vizinhas. Fazendo o trabalho de interceptar e traduzir mensagens em outras línguas, ganhou a confiança de Getúlio Vargas, e teria sido convidado para ser embaixador do Brasil no Japão, tendo porém Getúlio desistido da idéia, conforme as fontes encontradas, em função de exageros com bebidas alcoólicas manifestados por parte do poeta durante a estada na então capital do Brasil. Após reveses financeiros, processos judiciais e prisões, viveu em hotéis e passou por momentos de mendicância, vindo a falecer na cidade de Alegrete, onde havia sido amparado por um amigo.

Vida como poeta
Possivelmente o único poeta moderno do extremo sul do Brasil a praticar uma poesia de vanguarda nas primeiras décadas do século XX, seu único livro publicado, Saco de Viagem (1928) tem características formais cubistas e futuristas, além de referências à obra de Oswald de Andrade, explorando também o humor do modernismo brasileirodirecionado, principalmente, à fatos da política local e das cidades vizinhas, bem comoneologismos que exploram a linguagem regional do gaúcho.
Tem-se pouca informação a respeito do trabalho do poeta, embora Tyrteu Rocha Vianna fosse publicamente reconhecido como tal, participando de tertulias com amigos em sua cidade. Sua obra futurista e antropófaga "Saco de Viagem", concluída em 1927, surpreende a muitos pelo fato de ter sido criada em uma cidade então muito pequena e com características rurais, em uma época de difícil acesso à informação atualizada, localizada no sudoeste rio-grandense, São Francisco de Assis, a qual foi palco de sangrentos combates na Revolução de 1923. No entanto, o vanguardismo radical de Tyrteu pode explicar-se, possivelmente, por ser ele um pioneiro do radioamadorismo e um poliglota.
O livro foi pago pelos próprios meios do poeta, em 1928, publicado pela Editora Globo, em Porto Alegre. Conforme seu filho adotivo, Oscar Ferreira da Costa, o poeta desejava imprimir somente 10 exemplares, para presentear os seus melhores amigos, crendo que não valia a pena mostrar a obra a muitas pessoas. Informado que o custo seria alto e que a tiragem deveria ser de, no mínimo, 1.000 exemplares, o poeta pagou o preço dos mil exemplares, fazendo imprimir apenas os 10 exemplares desejados, com o nome do amigo que seria presenteado impresso.
Após isso tem-se notícia de um poema publicado no jornal Cadernos do Extremo Sul(Versos para um tordilho chamado Maomé) da cidade de Alegrete em 1957, onde ele foi viver em 1955 na casa de um amigo que era dono de um "bolicho".

A poética de Saco de Viagem e o reconhecimento póstumo do autor
Os poemas de "Saco de Viagem" exploram regionalismos da fala, neologismos e fusões de palavras, fazendo, às vezes, recordar a poesia daquele que é reconhecido como o maior poeta peruano de todos os tempos, César Vallejo, em seu livro "Trilce" (1922). Um certo humor antropófago comparece neles. A estrutura dos poemas é formada por versos que operam por fragmentação e síntese, usando técnica de montagem semelhante às de Eisenstein no cinema, de Oswald de Andrade em poemas de Pau-Brasil e de Blaise Cendrars, em seus poemas mais curtos, e de Maiakovski, em sua fase inicial. Certamente, usa técnicas cubistas, herdadas via futurismo (ver o texto "A tradição anti-futurista", de Apollinaire). Não utilizou-se de grafismos como os futuristas italianos, o que talvez fosse uma impossiblidade tecnológica na época, e isso talvez explique porque uma parte do livro se chame "Vontade de versos futuristas".
É considerado, hoje, um dos mais dotados poetas do modernismo no Rio Grande do Sul. e, segundo Itálico Marcon (poeta, crítico literário, ensaísta e um dos maiores bibliófilos do Brasil), o maior modernista do Rio Grande do Sul, tendo sido a obra de Tyrteu apresentada a ele por Érico Veríssimo, entre outras personalidades.
Por outro lado, mesmo aqueles ensaístas que, como Luís Augusto Fischer o consideram meramente um "modernista regionalista" e opinam que o autor não teria alcançado "excelência", o incluem na lista dos melhores poetas gaúchos do modernismo.
A simples leitura dos poemas de "Saco de viagem", disponível na Internet, poderia responder às dúvidas do leitor.

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