O surgimento do Nativismo está associado à criação da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana, em dezembro de 1971. É de conhecimento geral a existência de outro festival do gênero em Porto Alegre antes desta data, mas ele não permanece no calendário cultural.
A Califórnia da Canção Nativa surge através do CTG Sinuelo do Pago, em virtude de uma polêmica sobre a letra de uma música de Colmar Duarte em relação a um festival de música popular brasileira.
A época é de grande movimentação cultural no país, em contraponto a censura, fruto da ditadura militar.
Os grandes festivais de música popular brasileira transmitidos pela televisão em rede nacional movimentam a cena cultural do país.
O Festival Nacional de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Excelsior de São Paulo, tem sua primeira edição em 1965 e a segunda em 1966, o Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record de São Paulo, tem quatro edições, em 1966, 1967, 1968 e 1969, o Festival Internacional da Canção (FIC), em sua fase nacional, tem sua primeira edição realizada no Rio de Janeiro, inicialmente promovido pela TV-Rio (I FIC) 1966, e em seguida pela TV Globo nas outras seis edições até o ano de 1972 e o Festival Universitário de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Tupi, no de 1968, servem de exemplo para o surgimento de inúmeros festivais nas mais diversas cidades brasileiras. Todavia, todos tratam da música popular, em geral não considerando a música regional como tal.
Em Uruguaiana não é diferente, a valorização do que soa como brasileiro sobrepõe o sotaque gaúcho ou local. Isto causa certa indignação num grupo de pessoas que cria um festival onde a cultura eminentemente gaúcha possa estar contemplada.
A Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul abrange o estado e dá voz a um elenco de excelentes compositores até então sem palco. Na primeira edição concorrem Colmar Duarte e Julio Machado da Silva Filho (vencedores), Carlinhos Castilhos, Telmo de Lima Freitas, Leonardo (Jader Moreci Teixeira), Apparício Silva Rillo, Jose Lewis Bicca, João Batista Machado e Paulinho Pires, entre outros.
Nas edições seguintes aparecem novos compositores e intérpretes, consagrando nomes que hoje são símbolos do nativismo, a exemplo de César Passarinho, Edson Otto, Leopoldo Rassier, Os Angueras, Marco Aurélio Vasconcelos, Os Posteiros, Fátima Gimenez, José Cláudio Machado, Victor Hugo, Mário Barbará, Sérgio Napp, Maria Luiza Benitez, Knelmo Alves e tantos outros.
Após a Califórnia, surgem a Vindima em Flores da Cunha e a Ciranda em Taquara (1972). Na década de 80 há um verdadeiro turbilhão nativista com Tertúlia em Santa Maria e Festival da Música Crioula de Santiago (1980) Coxilha em Cruz Alta e Seara em Carazinho (1981), Reculuta em Guaíba, Tropilha em Ajuricaba, Carreta em Passo Fundo e Vigília em Cachoeira do Sul (1982), Reponte em São Lourenço, Musicanto em Santa Rosa e Gauderiada em Rosário do Sul (1983), Serra Campo e Cantiga em Veranópolis, Canto Nativo de Santo Augusto, Acampamento de Campo Bom (1984), Comparsa da Canção em Pinheiro Machado (1985), Carijo em Palmeira das Missões, Grito do Nativismo em Jaguari, Ponche Verde em Dom Pedrito, Ronco do Bugio em São Francisco de Paula, Primavera do Canto Xucro em Caxias do Sul (1986), Moenda em Santo Antônio da Patrulha, Bordoneio do Canto Ibiá em Montenegro e Vertente em Piratini (1987) e tantos outros.
Os jovens aderem a “nova” música do Rio Grande do Sul. Começam a vestir a indumentária gaúcha e adotar o chimarrão como a bebida preferencial nos momentos de lazer em público. Fica registrado o momento em que a juventude gaúcha passa a frequentar praças, parques e avenidas das grandes cidades com os aparatos tradicionais, até então relegados aos moradores rurais.
Na década de 90 proliferam os festivais de poemas com Chasqueada em Santana do Livramento, Sesmaria em Osório, Bivaque em Campo Bom, Seival em São Lourenço do Sul, etc...
No ano de 1999 surge em Sapucaia do Sul o primeiro festival de pajada, Pajada Jayme Caetano Braun, seguido pela Pajada da Feitoria em São Leopoldo. Em 2001 cria-se o Encontro de Pajadores em Porto Alegre, que agora acontece em Bento Gonçalves.
Atualmente o nativismo transcende a música. Engloba também poemas, poesia improvisada, artes plásticas e até o teatro embarca no tema.
Antes da California
Tendo havido um festival antes da Califórnia da Canção, comprova que os anseios nativistas não estão somente na fronteira oeste. Tampouco o nativismo existe somente nos festivais. Um movimento musical do gênero conta com seus precursores, antes do festival de Uruguaiana. Alguns artistas atendem ao chamado imediato da Califórnia e os demais festivais surgidos em seguida. Outros não se inserem nos festivais, mas são células importantes na concepção do nativismo.
Cantores e compositores como Glênio Fagundes (foto), Noel Guarany, Paulo Portela Fagundes, Luiz Menezes, Barbosa Lessa, Paulinho Pires, Simão Goldman, Pratini, Airton Pimentel, Glauco Saraiva, Jayme Caetano Braun, Luiz Teles, Paulo Ruschel, José Mendes, Nei Messias, Paixão Côrtes, Dimas Costa e outros já estão produzindo o que depois se chama de nativismo, antes de 1971.
Mesmo depois do surgimento dos festivais nativos, aparecem artistas que fazem carreira, tornando-se ícones do movimento sem concorrer nos festivais ou com pequena participação, a exemplo de Pedro Ortaça, Cenair Maicá, Mano Lima, Vitor Ramil, Gilberto Monteiro, entre outros.
Para finalizar esta análise de anterioridade, o Festival da Barranca, ainda vigente, é anterior a Califórnia.
A pajada no contexto do nativismo gaúcho
A pajada é uma das mais antigas manifestações do nativismo gaúcho e ao mesmo tempo a mais jovem arte reconhecida pelo tradicionalismo. É anterior ao ciclo dos festivais. Ganha notoriedade no gauchismo através de Jayme Caetano Braun a partir do ano de 1958, quando do segundo Rodeio de Poetas da Estância da Poesia Crioula, na cidade de Caxias do Sul.
Já é vigente enquanto arte nativa através dos magistrais versos do pajador missioneiro, quando surge a Califórnia da Canção, mas o MTG somente a reconhece como arte tradicional do Rio Grande do Sul em 2001, através de uma proposição no Congresso Tradicionalista e sua regulamentação na Convenção Tradicionalista.
A pajada é uma forma de improviso do Rio Grande do Sul, em estrofes de décimas espinelas, acompanhada por instrumento de cordas, viola para o pajador histórico e violão para o pajador contemporâneo. Enquanto arte genuinamente rio-grandense é encontrada no período farroupilha (1835-1845). Como arte contemporânea ela tem seu renascimento na inspiração de Jayme Caetano Braun e ganha continuidade através de seus seguidores, Arabi Rodrigues, Paulo de Freitas Mendonça, José Estivalet, Jadir Oliveira, Pedro Junior da Fontoura, Albeni Carmo de Oliveira, Adão Bernardes, Vanderlei Rosa, Leôncio Severo, João Barros, Celso Oliveira, Volnei Correa, Macedinho, Jadir Oliveira Filho e outros novos pajadores, surgidos especialmente no primeiro festival do gênero, a Pajada Jayme Caetano Braun, da cidade de Sapucaia do Sul, a partir do ano de 1999.
Após o ano de 2001 alguns dos principais rodeios do Estado passam a realizar concursos de pajadas, mas não consegue revelar grandes expressões da referida arte. É no nativismo que surgem novos pajadores e a arte continua sendo mais reconhecida e apreciada.
Ela mantém uma interligação com o movimento mundial da poesia oral improvisada, no qual alcança grande notoriedade e coloca o sul do Brasil no mapa da improvisação internacional, continuamente representada nos encontros ibero-americanos.
Os festivais de pajada no Rio Grande do Sul começam com o evento já citado, em Sapucaia do Sul, porém antes dele acontece na cidade de Passo Fundo no ano 1993 o Te-Déun de Pajadores da América Latina, evento que realiza uma única edição, todavia registra em disco os improvisos dos pajadores do Brasil, Uruguai e Argentina. Em 2000, mesmo antes da promulgação da lei que cria o dia do Pajador Gaúcho que só acontece em outubro do ano seguinte, começam os encontros de pajadores em comemoração à data de nascimento de Jayme Caetano Braun. Apesar de ser uma arte extremamente tradicional, ainda é desconhecida de muitos no Rio Grande do Sul. É natural que quem não conheça não goste, mas quem contata com ela se apaixona.
Fonte: http://www.nativismo.com.br
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