Francisco Carlos Salles, popular Chiquinho, é uma das pessoas mais inteligentes que conheci, mesmo sendo analfabeto. Um escritor de poesia, sem saber escrever. Tem uma dezena de livros e algumas centenas de poesias e todos, diga-se de passagem, lindos perfeitos metricamente e em rimas, com uma profundidade poética para ser estudada.
Francisco Carlos Salles nasceu em Manoel Viana, hoje cidade, mas naquele tempo distrito de São Francisco de Assis e levou a vida gauderiando pelos rodeios da vida levando e fazendo poesias. Nos meus tempos de escola, do Grêmio Estudantil do Colégio Salgado Filho em São Francisco de Assis, em todas as Semanas Farroupilha nós deixávamos um tempo para arte, a cultura, a dança e foi nesse tempo que aprendi uma meia dúzia de poemas do Chiquinho.
Lembro de parte de uma que chorava declamando, chamava-se CAMELO, TOCAIO NEGRO!
Camelo, tocaio negro,
Francisco, era o nome exato,
De quem eu pinto o retrato,
Neste entrevero de rimas...
Negro novo, que a assassina,
Bebida, causou-lhe a morte,
Daquele Crioulo forte...
Que aqui cumpriu sua sina!
O Camelo era uma figura lendária de São Chico e que o Chiquinho, maestralmente escreveu. Sina essa que, hoje em dia, também consome esse senhor com sua idade um tanto avançada e que encontrei pela última vez andando pelas ruas de São Chico, com sua bombacha de dois panos azul, uma guaiaca negra, um lenço colorado todo desfiado, e uma camisa que um dia foi branca, aberta ao peito, alimentando as angústias da vida num "porre de juntá cusco";
Gostaria um dia poder fazer alguma coisa por esse mestre, mas infelizmente o tempo, a vida, a lida e os compromissos nos privam de poder ir vê-lo.
Hoje, quando tento escrever algum verso, modesto na verdade, lembro do velho Chiquinho que tinha tanto argumento, tantas palavras e tanta sabedoria, sem ao menos conhecer as letras.
Quem sabe Chiquinho os homens que pensam cultura um dia te dão um título benemérito da cidade de São Francisco de Assis, junto com uns trocados para que possas ter um final de vida bem mais feliz. Quanto à mim, meu amigo, resta-me seguir acompanhando os teus passos e tentando imitá-lo na arte, quem sabe assim um dia poderei chegar aos teus pés.
Deixo aqui uma simples e modesta homenagem ao maior dos Poetas que eu conheci:
Paulo Ricardo Costa
Era um tempo em que a poesia...
Tinha mais do que magia na linguagem de um poeta,
Tão doce figura humana,
Que nasceu em Manoel Viana, a sua terra predileta...
Quem nunca frequentou escola...
Mas a vida por esmola lhe dera mais do que ensino,
Criado, quase sem, teto...
Um inocente analfabeto, com olhar triste de menino;
Mas o tempo foi passando...
E um homem se formando nas faculdades da vida,
Deitou os olhos na poesia...
E a alma por rebeldia entregou-lhe para a bebida,
Virou um ébrio terrunho...
Ditando a outros punhos, foi dando versos de graça,
E o poeta qu’eu mais queria...
Pelas ruas se perdia, entre os copos de cachaça;
Chiquinho, hoje, eu me arrisco...
De querer ser um Francisco para ser igual a ti,
De fazer o que tu fazias...
De brincar com a poesia, coisa que nunca aprendi;
Me tira deste dilema...
Ensina-me a fazer poemas juntando sonhos dispersos,
A embrulhar num presente...
Entregar à minha gente, co'a beleza dos teus versos.
Este dom que Deus te deste...
Na simplicidade de mestre, hoje, ébrio da solidão,
Nunca perderá o teu valor...
Pois quem lida com amor colhe rimas, do coração,
Que sabe um dia entenda...
E teu povo até compreenda os simples gestos, teus...
Pois o poeta é um ser vivido...
Que veio ao mundo escolhido para ser a voz de Deus;
Quem nunca frequentou escola...
Mas a vida por esmola lhe dera mais do que ensino,
Criado, quase sem, teto...
Um inocente analfabeto, com olhar triste de menino;
Mas o tempo foi passando...
E um homem se formando nas faculdades da vida,
Deitou os olhos na poesia...
E a alma por rebeldia entregou-lhe para a bebida,
Virou um ébrio terrunho...
Ditando a outros punhos, foi dando versos de graça,
E o poeta qu’eu mais queria...
Pelas ruas se perdia, entre os copos de cachaça;
Chiquinho, hoje, eu me arrisco...
De querer ser um Francisco para ser igual a ti,
De fazer o que tu fazias...
De brincar com a poesia, coisa que nunca aprendi;
Me tira deste dilema...
Ensina-me a fazer poemas juntando sonhos dispersos,
A embrulhar num presente...
Entregar à minha gente, co'a beleza dos teus versos.
Este dom que Deus te deste...
Na simplicidade de mestre, hoje, ébrio da solidão,
Nunca perderá o teu valor...
Pois quem lida com amor colhe rimas, do coração,
Que sabe um dia entenda...
E teu povo até compreenda os simples gestos, teus...
Pois o poeta é um ser vivido...
Que veio ao mundo escolhido para ser a voz de Deus;
1 comentário:
Sabe me dizer em que ano foi composto camelo tocaio negro?
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