terça-feira, 18 de setembro de 2012

Aguaceiro

Era no ano de 1998, um mês de Setembro, aproveitei o feriado da Semana Farroupilha e voltei ao velho 5º Distrito de São Francisco de Assis, Vista Alegre - na casa da Tia "Daia", minha avó. A casa, dessas fazendas antigas, de 1876 e que ainda conservava a mesma arquitetura e o telhado da época, e nesse mês de Setembro "babava" água. Pois à noite não tinha mais lugar para dormir e nem balde que aparasse tanta goteira, restou nós nos mudarmos para o galpão das encilhas, que era bem mais novo, e que tinha seu telhado bom e não passava água. Mas o pior que não deu para dormir, então restou-me achar uns "embrulhos" do bolicho  e escrever essa modesta letra que, posteriormente, o Nilton Ferreira musicou e que vencemos a 19ª Ronda de São Pedro em São Borja em 2002  e hoje já tem 8 novas e belas gravações.

AGUACEIRO
Paulo Ricardo Costa/ Nilton Ferreira

A chuva guasqueada castigou o rancho a noite inteira,
Pingando goteiras nas telhas quebradas que o tempo gastou,
O sono perdido tomou outro rumo pela madrugada...
Na erva lavada, amarga de um sonho, que se bandeou!

Nas frestas respingam, lágrimas de chuva e aguaceiro...
E lá no terreiro um galo, encharcado, traz vida pras casas,
A manhã se espreguiça, cinzenta e vazia, clareando o oitão,
E o angico chorão, borbulha sua ira, findando em brasas;

Neste aguaceiro, que inunda os campos, pelas invernias...
Minha alma vazia, alheia ao silêncio que se aquerenciou,
(Reponta ilusões, na ânsia incontida, que já fez morada...
Campeando na estrada, um olhar perdido que se desgarrou)


A mangueira de pedra, inerte no tempo, num sono profundo,
Demonstra que o mundo, se acaranchou em sua porteira,
As vidas passadas, guapeiam lembranças pelo rancherio...
De quem já partiu, deixando saudades para a vida inteira!

Um poncho se abre, com asas de noite, goteando no chão,
E a tal solidão, acarancha tristezas no peito da gente...
O olhar se perde, no imenso vazio que a manhã reponta,
E nem se dá conta, do quadro bonito pintando o nascente!

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