sexta-feira, 24 de maio de 2013

Kilometro 11

Quem já não deu um sapukai (grito vindo da alma) ao ouvir esta música? Pelo menos é o que ocorre todas as vezes em que ouço esta canção. Nos remete aos tempos que não hão mais de voltar. Existem músicas que se incorporam tão profundamente na alma de um povo, que nem se quer é possível perceber que são de outros países. 

É o que acontece com o chamamé Kilómetro 11, um hino de Corrientes (Argentina) que o Paraguay incorporou como se fosse seu. Seu ar de festa, o guarani que entremeia uma de suas versões e seu ritmo quase igual ao da polca paraguaya, ganharam o coração dos que habitam o solo Paraguaio. O fato de pertencer a uma cultura mestiça comum que apaga os limites das nações, é também um fator que incide no amor a este clássico dos clássicos. 

O autor da letra, Constante J. Aguer, nascido em Mataderos, Província de Buenos Aires, vive hoje na capital Argentina. Por outro lado, é um homem muito vinculado aos músicos paraguaios à música paraguaia. Amante da língua e da cultura guaranís, ampliou seus conhecimentos nos contatos com Hermínio Giménez, os irmãos Larramendia Generoso, Agustín e Luciano, Antônio Ortiz Mayans, José Asunción Flores, Agustín Barboza, Gumercindo Ayala Aquino, Félix Pérez Cardozo, Mauricio Cardozo Ocampo, Eladio Martínez, Ángel Benítez e otros.

Com Hermínio Gimenez sua relação não foi só amizade, senão também profissional, já que como violeiro e cantor, em 1938, formou parte de seu grupo musical, integrada também pelo correntino Emilio Chamorro, segundo relato de dona Victoria Miño, viúva de Giménez. 

Para testemunhar seu carinho ao autor de “Malvita”, “El canto de mi selva” e outras composições, Constante participou em Caballero do ato de homenagem no centenário do nascimento do genial músico. Hermínio e ele compuseram a galopa “A mi bandoneón”, os chamamés “A la novia de mi infância” e “Capillita de mi infância”, a guarânia “Aún te espero” e outras obras. 

Essas composições se somam aos quase 200 poemas musicalizados que Aguer tem em sua rica produção. É uma mostra a mais da profundidade de seus laços com o Paraguai. A história de Aguer é extensa e intensa. Voltemos à musica “Kilómetro 11”. Em uma carta remitida de Buenos Aires ao autor desta “memória viva”, relata: 

“Com relação ao título, cada rua começa com um número. Neste caso, Coco trazia os temas com seu respectivo título, sem especificar o motivo, pelo qual teve que imaginar um lugar e criar esse romance que conhecemos. Primeiro foi a versão em guarani, mas como os discos duravam três minutos, agreguei o idioma castelhano. O tema nasceu em 1942 e foi gravado em 1946”, conclui Constante J. Aguer. 

Nesta versão jopara em dois idiomas o guarani e em espanhol na Letra de Constante J. Aguer e música de Tránsito Cocomarola. 

Kilómetro 11 

Nerendápe aju jevy 
de nuevo a implorar tu amor 
solo hay tristeza y dolor 
al hallarme mombyry. 
La culpa mante areko 
de todo lo que he sufrido, 
por eso es que ahora he venido 
ha kangyete aiko. 
Aníke nderesarái 
que un día a este cantor 
le has dicho llena de amor: 
"Nderehe'ÿ ndavy'ái". 
Che ndaikuái angaite 
si existe en tu pensamiento 
aquel puro sentimiento 
rerekóva che rehe. 
Ani nde pochy 
anga chendive 
desengañoite 
mante areko 
che âkâ tavy 
anga oikuaa 
nderehe kuña 
che upéicha aiko. 

* Autor: Marcelino Nunes de Oliveira - Bacharel em Direito, pós-graduando em Metodologia do Ensino Superior, vereador em Ponta Porã e estudioso da cultura fronteiriça. E-mail: marcelinonunes@ibest.com.br (ConsultNews, Ponta Porã - Mato Grosso do Sul, Brasil)

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