quinta-feira, 21 de junho de 2012

O surgimento do cavalo


Os fósseis mais antigos de troncos primitivos do cavalo são originários da América do Norte, mais precisamente de Wyoming e Novo México. Datam do Período Eóceno, há cinqüenta milhões de anos. (O fóssil do tronco comum de todos os mamíferos, um animal parecido com um rato, medindo aproximadamente dez centímetros de comprimento, descoberto no Rio Grande do Sul, data de 210 milhões de anos). Eram quadrúpedes herbívoros, de aproximadamente trinta centímetros de altura, com quatro dedos nas patas dianteiras e três nas traseiras (a calosidade escura que aparece na face interna de cada pata do cavalo – acima do joelho na dianteira, abaixo do joelho na traseira) – é resto embrionário do primeiro dedo, que atrofiou, correspondendo ao polegar e ao dedão do pé mas, com molares dotados de cúspides iguais aos carnívoros e não planos como os ruminantes. Foi batizado de Eohippus. Somente alguns milhões de anos depois, no fim do Período, o Eohippus originou o Drohippus: um animal um pouco maior, com as mesmas patas, mas molares quase planos. Esse animal evoluiu para o Mesohippus: maior ainda, do tamanho de um galgo grande, muito veloz, três dedos em cada extremidade e, o que é muito importante, alisamento da mesa do primeiro molar, quase igual ao do cavalo moderno.
O primeiro ancestral do cavalo, com dentes iguais ao cavalo moderno, é o Pliohippus, que viveu no Período Plióceno. Só tinha um dedo em cada pata.
No final do Plióceno, a emergência do Istmo do Panamá permitiu a chegada do Hippidion, o Onohippidium e o Parahipparium à América do Sul. Entretanto, no Pleistóceno, há 175.000 anos, já não havia nenhum representante do gênero hipus na América do Norte. Na do Sul, existiam o Andinum, no Uruguay; no Chile o Equus Curvidens (Darwin) e no Brasil o Equus Neogaeus. Nessa época, o Homo sapiens não existia. Apenas o Homo habilis.
Como se vê, o berço do cavalo foi a América do Norte, há 50 milhões de anos. (É bom lembrar que as primeiras três pegadas, semelhantes às produzidas por seres humanos, descobertas sobre a face da Terra, mais precisamente na África – cinzas de vulcão fossilizadas – datam de 3,5 milhões de anos). Extendeu-se à América do Sul, depois à Europa, até ser varrido das Américas por ocasião da Quarta Glaciação. Cinqüenta mil anos depois deste desastre, surgiu o nosso ancestral, o Homo sapiens.

O cavalo nas Américas
Antes do ano 1500 da nossa era, não havia cavalos nas Américas. Não existe, nas línguas originais do Continente Americano, nenhum termo que signifique cavalo. Todos os vocábulos que atualmente existem são derivações da palavra caballo do espanhol: cavayú em guarani, caavarú em tupi, cahuellu ou cahuallo em araucano, cahualk em gennaken, cahuel em tehuelche, cavallo nos acomas, cavaio nos moquis, cavayo em paiute, cahuay nos kansas, cahua nos osages, kaviyo nos pimas.
Nas escritas dos sumérios, hititas, assírios, babilônicos, hunos e ávaros já existe esse vocábulo há muitos séculos antes dos mongóis, egípcios, indianos, gregos, romanos e chineses.

Os primeiros cavalos que chegaram no Continente Americano, mais precisamente no México, foram trazidos por Hernán Cortés, em 1519. Eram animais tão estranhos que assustaram os habitantes locais. Cobertos de pesadas armaduras, pareciam verdadeiras máquinas de destruição, blindadas e indestrutíveis (Para manter essa imagem de imortalidade, quando morria um cavalo Cortés mandava enterrá-lo às ocultas). Graças à pólvora, às espadas, às armaduras, mas principalmente ao cavalo, com enorme inferioridade numérica, os espanhóis dominaram e exterminaram os astecas. Conta, a História, que o mesmo pavor tiveram os gregos, que também não conheciam o cavalo, ao serem invadidos pelos mongóis. Seria a origem da lenda dos Centauros.
É idéia generalizada de que quem trouxe o cavalo para a América do Sul foi Don Pedro de Mendoza. Segundo os belíssimos versos do poeta José Curbelo – a beleza dispensa a verdade – era um zaino colorado:


“O cavalo tem chegado
com Don Pedro de Mendoza.
Sobre a pampa grandiosa
logo se tem mutiplicado.

Trazia um zaino colorado
que quando desembarcou
junto a Riachuelo montou,
e penso que foi o primeiro,
que respirando o Pampeiro,
estas campinas cruzou.

A idéia de que foi Don Pedro de Mendoza quem trouxe o cavalo para a América do Sul, hoje em dia não é mais aceita. Conforme psquisas de Federico Oberti, Mendoza não deixou cavalos em Buenos Aires. Foi na segunda viagem de Colombo que trouxeram os primeiros cavalos para cá, vindos da Espanha. Segundo os historiadores, foi a primeira expedição verdadeiramente colonizadora: dezessete veleiros e entre 25 e 30 cavalos.
No seu livro El gaucho, Fernando O. Assunção afirma: “Quase seguramente foram, como mínimo, entre vinte e cinco a trinta cavalos embarcados. Esta quantidade está documentada detalhadamente por um pergaminho real datado no dia 23 de maio de 1493, em Barcelona, em que os Reis Católicos Isabel e Fernando ordenam que: ‘Entre a gente que mandamos ir na dita armada, temos concordado que sejam vinte e cinco lanças ginetes, a cavalo, por onde vos mandamos que entre a gente da irmandade que está nesse reino de Granada escolhais as ditas vinte lanças, que sejam homens seguros e confiáveis e que vão com boa vontade, e cinco deles levem cavalgaduras de reserva e que as ditas cavalgaduras de reserva que levam sejam éguas.’ ”
Continua Assunção: “Nesses tempos os cavalos de guerra eram, geralmente, machos inteiros e ao trazer éguas como repostos, nesses cinco casos, indicava o desejo de iniciar a procriação dos imprescindíveis animais nas terras descobertas, onde não existiam. Segundo documentos contemporâneos, longe de serem bons, os cavalos que foram embarcados nesta expedição eram verdadeiros matungos.”


Mais adiante: “Temos como definitivo, pois, uma origem única e uniforme para todos os plantéis cavalares na América. Basicamente são cavalos espanhóis, em particular andaluzes, ou portugueses do Alentejo e Extremadura, de idêntica origem e características raciais.”
Em menos de oitenta anos, o rebanho cavalar do Sul da América do Sul, em especial o Pampa argentino e a Campanha rio-grandense, chegou a muitos milhares de cabeças. Só para se ter uma idéia da enorme quantidade de cavalos que deveria existir nessas regiões, em 1754 Bartolomeu Chevar levou do Rio Grande do Sul para Minas, 3.780 mulas. Para haver 3.780 mulas deveriam existir muitas éguas, já que a mula é um animal híbrido e estéril. Ainda em 1768, quando os jesuítas foram expulsos, só na região das Missões existiam perto de duzentos mil cavalos, mesmo depois dos rebanhos terem sido saqueados pelos índios infiéis que iam até as proximidades dos “Povos” fazer grandes arrebanhamentos para vender aos portugueses. Tal era a quantidade existente, informa José Hansel (“A pérola das reduções jesuíticas”), que a quebra era logo compensada pela reprodução.
Para explicar esse espantoso crescimento populacional, vinte e cinco cavalos trazidos por Don Pedro de Mendoza, com apenas cinco éguas, não seriam suficientes, já que não são ratos, mas animais que produzem apenas uma cria por ano. Segundo Fernando O. Assunção, foram índios chilenos que trouxeram cavalos originários dos vales andinos até os do sul dos rios Colorado e Negro. Encilharam cavalos transandinos – de origem espanhola – cuja multiplicação prodigiosa nos pampas verdes ou úmidos produziu a grande riqueza em cavalhadas que surpreendeu os colonos, conquistadores e viajantes que se depararam com eles desde fins do século XVI.

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