terça-feira, 25 de junho de 2019

CONTOS DE GALPÃO - CEMITÉRIO DAS ALMAS PERDIDAS

Por Beraldo Figueiredo


Foi num baile de campanha, que o moço Delmar namorou uma moça linda, sua casa ficava numa chacrinha a uns seis quilômetros da cidade, ele tinha uma bicicleta e morava numa vila da cidade, no meio do caminho tinha um cemitério antigo, cheio de histórias de assombrações, conhecido por todos como Cemitério das Almas Perdidas, pois ali no passado enterravam pobres, mendigos, negros bandidos e prostitutas. 
Todos fim de semana ia visitar sua prenda, estava apaixonado e lá pelas seis horas da tarde o sogro dizia: - Tá na hora de ir embora, já namorou, matou a saudade então boa noite seu Delmar.
Lá se ia Delmar pedalando, passava na frente do cemitério, que tinha um muro branco longo e no meio um portão de ferro batido, via os túmulos, as cruzes e como a tardinha ainda deixava o céu com uma luz fraca, passava rápido pela frente sem sentir medo.

Seus cunhados assustavam ele: - Olha Delmar, tu não passa no Cemitério de noite, aquilo lá é assombrado, tem a mulher de branco e tem o velho do Portão que não te deixa passar e se ele te convidar para entrar, não tem como negar, se tu for escolhido é porque tua hora chegou. – E riam.
Pois num dos fim de semana, Delmar chegou com o pneu furado da sua bicicleta, teria que ir embora a pé, pensou em ir embora mais cedo, imagina além de caminhar teria que andar ao lado de sua bicicleta o que dobraria o tempo, porém sua namorado disse:
- A não! Eu te espero todo fim de semana prá gente ficar junto por umas horas e tu quer ir mais cedo, de forma alguma. 
Pois teve que ficar. Coitado as seis horas da tarde saiu ao lado de sua bicicleta, a tardinha já tinha escondido o sol, lembrou do cemitério. Caminhou com a bicicleta no lado três quilômetros quando avistou o muro branco, já era noite, para sua desgraça uma noite escura e fria, mas seguiu firme, com um terrível medo, pois pode ver que na frente do portão do cemitério tinha uma mulher parada, estava de vestido branco era magra alta, cabelos compridos e estava olhando para ele. Então parou. Olhou para os lados, tudo era mato, deserto e escuro, uma coruja piou.
Suas pernas começaram a tremer, um medo terrível invadiu seu ser, ouviu uns passos atrás e se virou, um negro de cabelos brancos, caminhava com um feixe de gravetos embaixo do braço, um palheiro aceso e um chapéu preto todo corcomido e torto e então disse para o jovem:
- Boa noite meu rapaz, o que se assucede contigo, porque não monta na bicicleta e passa.
- Furou o pneu.
- Mas porque está plantado no meio da estrada com esse frio.
- Estou com medo, não está vendo aquele vulto branco na frente do cemitério?
- Que vulto? Não tem ninguém lá.
- Tem sim, é que ela quando viu o senhor entrou, mas ela está lá na entrada me esperando, é alma penada, estou com medo.
- Bobagem, eu passo todos os dias aqui, vou sempre pegar lenha no matinho, vem que eu te ajudo a passar.
Delmar se encorajou com o velho negro ao seu lado e caminhou.
- Tu sabe meu jovem, alma penada só assusta quem tem medo, neste mundo dos vivos tem que temer os vivos, onde já se viu ter medo de quem já morreu. – Riu o ancião.
Assim foram caminhando, quando passaram pelo portão, Delmar viu o rosto cadavérico de uma mulher, com um vestido sujo como se tivesse saído de uma tumba, ela riu batendo os ossos do queixo e com a boca desdentado, nos buracos da caveira olhos loucos de uma alma enlouquecida.
- Olha ali, olha é ela. Olha – Falou com medo
- Não tem nada ali, é tudo fruto da sua imaginação, olhe para frente, mire as luzes da cidade que é para onde tu vais. - Falou rindo o Ancião. - Não olhe para trás, pois só tem passado.
- Graças a Deus o senhor está aqui, como é mesmo seu nome?
Assim que passaram o cemitério, logo se viu uns ranchinhos e luzes em suas janelas pequenas, o velho ancião parou e disse:
- Aqui me despeço. Agora já passou o cemitério, não tem mais nada pra te preocupar.
- Muito obrigado senhor, mas não posso seguir sem saber seu nome.
- Olha menino, quando eu era vivo meu nome era Nego Pedro, agora que morri, todos me chamam de Velho do Portão. Vai em paz, pois quando vivo na sua idade, eu também tinha medo de morto.


Retirado da Pagina do Gaúcho

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