Nossa querida TVE, emissora televisiva que deveria ter a maioria de sua programação voltada para a cultura sulina, acaba de extinguir um dos programas gauchescos mais autênticos, o Galpão Nativo. Não se sabe bem o que vem por aí mas, pelas gravações de alguns programas que irão ao ar em seguida em substituição ao Galpão Nativo, esta característica (autenticidade) não retorna mais. Me falaram que teve artista gaúcho que, no lugar da bombacha, se apresentou com um calça cheio de detalhes de "tigresa".(e aí eu dou razão ao MTG).
Mas isto também se deve a uma pessoa que trazia em si o pó da terra, o aroma dos campos e que não permitiria que isto acontecesse. Falo do antigo apresentador Glênio Fagundes, uma figura carismática que transcendeu a imagem do próprio programa.
Glênio Cabral Portela Fagundes nasceu em Cacequi, RS, filho de Albino Portela Fagundes, então médico da rede ferroviária, e de Amélia Cabral Portela Fagundes. Par ali viveu até os 18 anos, quando se transferiu para a cidade de Rio Grande e depois definitivamente para Porto Alegre.
Glênio tinha em seu irmão Paulo Fagundes, o Bola (ótimo violeiro e muito bom gaiteiro, além de ter uma voz privilegiada), seu inseparável companheiro e até casaram-se com duas irmãs. Paulo teve uma morte prematura há pouco tempo, o que fez Glênio perder o gosto pela guitarra, a quem sempre tratou com mãos de veludo.
Foi através de Jarbas Cabral, irmão da Dona Amelinha, que os manos começaram suas atividades artísticas, isto lá pela década de 50. Quando surgiu o programa Grande Rodeio Coringa, o Jarbas criou o conjunto Os Gaudérios, referência obrigatória da música regionalista gauchesca. O Glênio sempre foi o seu discípulo predileto.
Mais tarde, seguindo os passos do tio, o Glênio fundou e dirigiu o conjunto Os Teatinos, um dos melhores do gênero na época.
Glênio, profundo conhecedor da língua guarani, editou o livro Cevando o Mate e agora está preparando o Poemas Terrunheiros, Aforismos e Relampejos, reunindo a sua considerável obra poética. Gravou, também, um disco com suas composições e dois com Os Teatinos.
O Glênio está aí. Na sua casa, rodeado pelo amor da esposa Tita e dos filhos Nicássio, Cassiana, Osíris, Terêncio, Horácio e Juvêncio, que já lhe deu a neta Bibiana, mas rodeado também de amizades e do respeito do Rio Grande inteiro, que tem por ele e por sua obra um carinho muito grande.
O Glênio é um homem profundamente espiritualizado, que conversa com as plantas e com os bichos do campo. Seu jeito simples, com a melena e a barba entordilhando, é a imagem daqueles gaúchos antigos, santos e guerreiros dos nossos galpões. Por onde passa, o Glênio deixa um rastro luminoso. Ouvi-lo falar é beber filosofia e ternura. Ouvi-lo tocar o violão com boca de salamanca é retovar-se de magia e encantamento.
Fonte: Blog do Léo Ribeiro
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