sexta-feira, 23 de junho de 2023

O Rastro da Enchente!

 
108/2023

O tempo se enfeia pras bandas do fundo,
Num pedaço de mundo em costado de rio...
As nuvens preteiam já pesadas de água,
E a chuva deságua em dois olhos vazios!

As bocas se pegam em choros e rezas...
E o tempo despreza ao passar das horas,
O céu se debruça sobre o pasto queimado...
E o rio assoreado já sai campo a fora!

REFRÃO:
Que triste a cena de Homens e bichos...
Sussurros e cochichos, murmúrios de gente,
O campo emudece com sangas profundas,
E tudo se inunda, no rastro da enchente!

O rancho é pequeno pra bocas famintas,
E a noite retinta estende o seu manto...
Notícias se espalham da sanga que ataca,
E carcaças de vacas espalhadas no campo.

Até os pingos da encilha ficaram ilhados...
Pra lá do outro lado do passo do meio...
O galpão é meu mundo por um dia inteiro...
É triste um campeiro longe dos arreios!

Dizem que a ganancia é que faz o estrago,
Aqui no meu pago por certo não entendo,
Um ano é secura, que traz fome pra gente,
No outro é enchente, é bicho morrendo!

Há mais de semana, a chuva transborda,
Esticando a corda, de poncho molhado,
Eu pergunto pra Deus - com todo capricho...
Qual a culpa dos bichos, se é nosso o pecado?

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