Otávio dos Reis, nascido em 23 de janeiro de 1914 em Porto Amazonas.
Até sua morte, no dia 28 de outubro de 2015, era chamado de "o último tropeiro do Paraná".
Enquanto menino, Otávio transportou mulas pela histórica rota tropeira Viamão - Sorocaba.
Eis um trechinho do depoimento que coletei na visita que fiz a ele em sua casa em Porto Amazonas exatos 3 meses antes de sua morte, no dia 28 de julho de 2015.
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Apresentação
O senhor vai gravar as minhas palavra? Como? Nessa máquina preta aí? Então pode gravar, pra não esquecer as coisa que eu vou contar...
O meu nome é Otávio dos Reis. Eu nasci aqui em Porto Amazonas, numa fazenda. Eu sou crioulo daqui, nativo desse lugar. A fazenda onde eu nasci, naquele tempo se chamava de Fazendinha, quando era nossa. Hoje lá se chama Cabanha Valente, porque foi vendido pro Valente, e ele montou lá uma cabanha, um criame de carneiro, e aí o nome ficou Cabanha Valente. Lá é que eu nasci, no dia 23 de janeiro de 1914.
O chamado da estrada
Quando eu era piá, eu estudei um pouco. Fiquei aqui pelo Porto, na escola, até 10 ano, mais ou meno. Depois, eu não estudei mais. É que eu não me dei muito com a… com a vida parada, aí fui pra Ponta Grossa, e lá também não consegui estudar. Eu queria era viajar!
Não é que eu não gostasse de estudar… É que a professora era muito ruim, me surrava muito, e isso me deixou com muita raiva. Depois eu fui pra Ponta Grossa, mas já fui desorientado, e fui morar com o meu cunhado. Também não quis estudar lá... Esse meu cunhado era tropeiro, e foi ele quem me pôs na estrada. E gostou, porque eu era muito esperto. E eu gostei mais ainda…
A primeira viagem
A primeira viagem que eu fiz foi pra Castro, buscar uma tropa de mula lá, pra trazer pra Ponta Grossa pra depois levar pro estado de São Paulo. Mas era pouca mula, era só 30 mula. E o meu cunhado… Hahahaha, ele era meio atrapalhado, sabe?
E ele mandou eu puxar, tocar a tropa, e ele puxar o cavalo madrinha, porque eu não conhecia o caminho. Então ele foi na frente.
Na primeira porteira, ele contou a tropa: tinha 28 mula sorta. E era pra ser 30; eu montado numa e ele na outra. E ele:
"Ih rapaz! Você deixou mula na estrada! Tem só 28 mula, e é pra ter 30!"
E eu digo:
"Eu não deixei!"
E ele:
"Deixou!"
E vortou na fazenda! Chegou lá, o rapaz disse:
"Seu Tonico, quantas mula tem lá?"
"Hoje tem 28, mas era 30!"
E ele:
"Êêêêêê, mas que barbeiragem!"
Aí que ele lembrou que ele tava numa das mula!
E eu na outra!
Essa foi a primeira viagem que eu fiz.
Ficou na história; nunca mais esqueci.
Cê vê, eu tinha… 11 ano.
Tô com pouco mais de 100, e ainda lembro dessa viagem…"
Fonte: Tropeiro Soledad
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