terça-feira, 29 de abril de 2014

CHARLA DE PEÃO

Na Catinga do Jaguara.
Buenas Gauchada!
Vão puxando o cepo e se abancando que o Eleutério já tá com o mate cevado e a água, aquentada na chiculateira, tá no ponto.
Hoje o amargo tá loco de especial, pois o Eleutério foi no povo - pegar o INSS - depois passou no rancho do Paulinho Pires, que me mandou de presente essa gervada, da grossa, lá das bandas da Palmeira.
Eu vou empilhando a lenha ali debaixo do fogão de barro, prá ela ficar bem seca e enquanto vocês mateiam, se quiserem, vão tragueando a cachacinha que tá ali ao lado da gamela. Essa tá curtida com o butiá que eu mesmo colhi ali nas dobras da coxilha e que, há mais de mês, botei de molho na Azulzinha de Santo Antônio.
Bueno, agora dá licença que eu vou entrar na mão e aproveitando a “Charla” vou dar uma espiada nos chasques que os parceiros mandaram.
O Cândido Brasil, poeta da mais pura cepa, Presidente da Estância da Poesia Crioula avisa que estão abertas as inscrições para o 3º Concurso de Poesia gauchesca Jayme Caetano Braum; para o 3º Concurso de Causo Gauchesco Apparicio Silva Rillo e também para o 4º Concurso Literário Cristóvão Pereira de Abreu.
Ainda informa que todos os trabalhos deverão ser inéditos e enviados, exclusivamente por e-mail, até o dia 30 de abril deste ano, para o seguinte e-mail: estanciadapoesiacrioula@gmail.com.
No site www.estanciadapoesiacrioula.com.br, tu encontras todas as informações que necessitas. Passa por lá, dá uma espiadita e depois me conta, que tal?
Aproveitando o trote do flete, prá arredondar a prosa, quero dizer prá vocês que ando mais feliz que filhote de lagarto lambendo lichiguana. Isso porque, por meio da Charla de Peão, duas pessoas que há muito tempo não se viam, acabaram se encontrando.
Isso é uma barbaridade! é ou não é, tchê?
O Eleutério, que por sinal tava quieto, mas não porque tava trabalhando, e sim porque tava derrubando mais um pouco da minha embutiazada, naquele copo de massa de tomate.
Tu conhece aquele copo de massa de tomate, acinturado, que vem com o distintivo do inter e escrito embaixo Campeão do Mundo 2006?
É aquele, tchê!
E o Eleutério diz que são só dois dedos. Mas que cuera!
Pois, entonces, quando o Eleutério ficou sabendo da olada, sobre o encontro dos dois - e da minha felicidade em ter promovido esse encontro - me saiu com essa: Tu não te mete nesse assunto de encontro, tchê!
- Sai fora que é boca entaipada. Esses dois eu conheço bem e tu sabe que jaguara conhece jaguara por causa da catinga.
Quando Rosna a Guaipecada
Lhes juro que fiquei meio chapetão com o chusque do véio Eleutério, mas como eu já tava pongó mesmo, perguntei de donde ele tinha tirado esse causo.
O Eleutério, sem se fazer de rogado e mais empelegado que padre quando dá sermão, me sai com mais essa: tchê, puxa o banquito e senta aqui perto do fogo, que eu vô te contá essa lorota.
- Antes me serve um amargo e me traz mais um poquito de canha. Mas, só dois dedos, viu tchê?
Bueno, tu sabes que antes de eu ser changueiro por estas bandas, já fui carreteiro. Eu carreteava lá pros lados de Alvorada. De madrugadita, nas granjas do Passo do Feijó carregava a carreta com melancia, mandioca e batata doce, entregava uma quarteada no Passo de Canoas e, no final do dia, chegava nas Costa do Ipiranga.
De lá eu vinha, no outro dia, carregado de farinha prá entregá nos bolichos do Aníbal, do Lothário e do Frederico. Como tinha que passar a noite por lá, eu ia pro chinaredo.
Foi por lá que eu conheci os dois jaguaras. De china eles não gostavam muito, mas de truco e vinho, o Italiano gostava uma barbaridade e o Alemão se babava por um chope e por um arrasta pé.
Um dia os dois “tavum” junto e vinho vai, chope vem, a jogatina correndo solta e a poeira tapando os óios, num xote bem sacudido, os dois mais prá lá do que pra cá, resolveram montar um CTG. Pois não é que “mexero” meio mundo e fizeram o Amaranto.
Mas, como calavera é mais liso que muçum na sanga, eles inventaram os bailes. Na entrada do Amaranto tinha um cartaz dizendo que não se podia entrar de tênis. Pois sabe o que o Alemão fazia: alugava sapato na porta do salão.
As véias linguarudas contam que um dia uma guria e o namorado foram num dos bailes, que a esta altura já tavam ficando famosos, só que o rapaz não pode entrá porque tava sem sapato.
O alemão não teve dúvida. Deixou a moça entrá, carregou o namorado dela prum canto e ofereceu um calçado condizente com a ocasião. Mostrou um que não agradou, mostrou outro, outro e outro e aconteceu a mesma coisa.
De repente o bailarino viu um par de botas bem no feitio dele. O Alemão pegou o tênis e mais duzentos pilas e vendeu a bota pro namorado da prenda.
Quando passou pela porta do CTG, se sentindo um galã, ele enveredou pro lado da guria e, loco de faceiro, mostrou a nova aquisição, aí é que a muchacha teve um faniquito.
O namorado, mais aperreado que rato embretado numa guampa por causa do tal faniquito, pergunta prá moça: essa bota é tão bonita assim prá todo esse fudunço?
Ao que a namorada lhe respondeu: até que nem é bonita, mas que é a bota que o meu pai usava no dia do velório dele, ah! isso é.
As fofoqueiras também falavam do Italiano. Diziam que ele gostava de montá umas coisas. Diz que primeiro ele inventou um bolicho, depois o tal do CTG e adespos falam que ele inventou de construir uma igreja. Pois não é que a tal igreja saiu do chão.
O nome da igreja não lembro. É nome de santa, só não sei qual. Mas diz que a festa de inauguração foi de rebentá a lonca da chincha. Tinha prefeito, vereador, china - pobre e rica - borracho, vendedor de casquinha, vendedor de cd sertanejo, crente da universal, madame, brigadiano e até o padre, indicado pelo bispo, prá assumir a comunidade.
Depois de todo o palavrório, se seguiu uma churrascada ao ar livre - lógico que a carne vendida prá igreja, tu já sabe de quem é, né tchê? -  e como não podia “dexá de sê”, ensiguidita se armou um surungo. Diz que até a santa tossia com a polvadeira e por detrás da sacristia o “Intalianu” se goleava num vinacho.
Lá pelo meio da tarde o Italiano já tava dentro da guampa e assim no más, sem se esquece do seu papel de anfitrião, alçou a cola e, mesmo com o silencio repentino, saiu marcando um vanerão bagual, pros lados duma senhora mui distinta e toda emperequetada, dentro de um longo vestido negro.
Chegando bem pertito, deu uma sofrenada, mandou um bafo de vinho e se refrestelando todo, gentilmente soltou essa prá mui prendada dama: madame, me permita essa marca, prá nos se lasca num vanerão?
E a resposta veio de sopetão: Eu não danço com o senhor por três motivos. O primeiro motivo é que o senhor está podre de borracho; o segundo é que a musica que diz: sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra, é o Hino do Rio Grande do Sul e não um vanerão para sair dançando, como o senhor fez, no meio do salão e a terceira razão de porque eu não danço com o senhor é que eu não sou uma madame coisa nenhuma, eu sou é o padre dessa igreja.
Isso é o que dizem lá pelo Jardim Algarve. Eu não acredito. Prá mim tudo isso é lambança daquelas véia fofoquera.
Bueno tchê, depois de toda essa lenga-lenga, fiquei com a goela mais seca que vassoura de guanxuma, entonces me bota aí mais dois dedo da azulada, enquanto eu vou dá uma bombeada lá na porteira do corredor, porque eu to ovindo o rosnido da guaipecada.


*Poeta Nativista
juarezmiranda@bol.com.br
jornaljrcl@terra.com.br




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