Na Catinga do Jaguara.
Buenas Gauchada!
Vão puxando o cepo e se abancando que o Eleutério já
tá com o mate cevado e a água, aquentada na chiculateira, tá no ponto.
Hoje o amargo tá loco de especial, pois o Eleutério
foi no povo - pegar o INSS - depois passou no rancho do Paulinho Pires, que me
mandou de presente essa gervada, da grossa, lá das bandas da Palmeira.
Eu vou empilhando a lenha ali debaixo do fogão de
barro, prá ela ficar bem seca e enquanto vocês mateiam, se quiserem, vão
tragueando a cachacinha que tá ali ao lado da gamela. Essa tá curtida com o
butiá que eu mesmo colhi ali nas dobras da coxilha e que, há mais de mês, botei
de molho na Azulzinha de Santo Antônio.
Bueno, agora dá licença que eu vou entrar na mão e
aproveitando a “Charla” vou dar uma espiada nos chasques que os parceiros
mandaram.
O Cândido Brasil, poeta da mais pura cepa,
Presidente da Estância da Poesia Crioula avisa que estão abertas as inscrições
para o 3º Concurso de Poesia gauchesca Jayme Caetano Braum; para o 3º Concurso
de Causo Gauchesco Apparicio Silva Rillo e também para o 4º Concurso Literário
Cristóvão Pereira de Abreu.
Ainda informa que todos os trabalhos deverão ser
inéditos e enviados, exclusivamente por e-mail, até o dia 30 de abril deste ano,
para o seguinte e-mail: estanciadapoesiacrioula@gmail.com.
No site www.estanciadapoesiacrioula.com.br, tu
encontras todas as informações que necessitas. Passa por lá, dá uma espiadita e
depois me conta, que tal?
Aproveitando o trote do flete, prá arredondar a
prosa, quero dizer prá vocês que ando mais feliz que filhote de lagarto
lambendo lichiguana. Isso porque, por meio da Charla de Peão, duas pessoas que
há muito tempo não se viam, acabaram se encontrando.
Isso é uma barbaridade! é ou não é, tchê?
O Eleutério, que por sinal tava quieto, mas não
porque tava trabalhando, e sim porque tava derrubando mais um pouco da minha
embutiazada, naquele copo de massa de tomate.
Tu conhece aquele copo de massa de tomate,
acinturado, que vem com o distintivo do inter e escrito embaixo Campeão do
Mundo 2006?
É aquele, tchê!
E o Eleutério diz que são só dois dedos. Mas que
cuera!
Pois, entonces, quando o Eleutério ficou sabendo da
olada, sobre o encontro dos dois - e da minha felicidade em ter promovido esse
encontro - me saiu com essa: Tu não te mete nesse assunto de encontro, tchê!
- Sai fora que é boca entaipada. Esses dois eu
conheço bem e tu sabe que jaguara conhece jaguara por causa da catinga.
Quando Rosna a Guaipecada
Lhes juro que fiquei meio chapetão com o chusque do
véio Eleutério, mas como eu já tava pongó mesmo, perguntei de donde ele tinha
tirado esse causo.
O Eleutério, sem se fazer de rogado e mais
empelegado que padre quando dá sermão, me sai com mais essa: tchê, puxa o
banquito e senta aqui perto do fogo, que eu vô te contá essa lorota.
- Antes me serve um amargo e me traz mais um poquito
de canha. Mas, só dois dedos, viu tchê?
Bueno, tu sabes que antes de eu ser changueiro por
estas bandas, já fui carreteiro. Eu carreteava lá pros lados de Alvorada. De
madrugadita, nas granjas do Passo do Feijó carregava a carreta com melancia,
mandioca e batata doce, entregava uma quarteada no Passo de Canoas e, no final
do dia, chegava nas Costa do Ipiranga.
De lá eu vinha, no outro dia, carregado de farinha
prá entregá nos bolichos do Aníbal, do Lothário e do Frederico. Como tinha que
passar a noite por lá, eu ia pro chinaredo.
Foi por lá que eu conheci os dois jaguaras. De china
eles não gostavam muito, mas de truco e vinho, o Italiano gostava uma
barbaridade e o Alemão se babava por um chope e por um arrasta pé.
Um dia os dois “tavum” junto e vinho vai, chope vem,
a jogatina correndo solta e a poeira tapando os óios, num xote bem sacudido, os
dois mais prá lá do que pra cá, resolveram montar um CTG. Pois não é que
“mexero” meio mundo e fizeram o Amaranto.
Mas, como calavera é mais liso que muçum na sanga,
eles inventaram os bailes. Na entrada do Amaranto tinha um cartaz dizendo que
não se podia entrar de tênis. Pois sabe o que o Alemão fazia: alugava sapato na
porta do salão.
As véias linguarudas contam que um dia uma guria e o
namorado foram num dos bailes, que a esta altura já tavam ficando famosos, só
que o rapaz não pode entrá porque tava sem sapato.
O alemão não teve dúvida. Deixou a moça entrá, carregou
o namorado dela prum canto e ofereceu um calçado condizente com a ocasião.
Mostrou um que não agradou, mostrou outro, outro e outro e aconteceu a mesma
coisa.
De repente o bailarino viu um par de botas bem no
feitio dele. O Alemão pegou o tênis e mais duzentos pilas e vendeu a bota pro
namorado da prenda.
Quando passou pela porta do CTG, se sentindo um
galã, ele enveredou pro lado da guria e, loco de faceiro, mostrou a nova
aquisição, aí é que a muchacha teve um faniquito.
O namorado, mais aperreado que rato embretado numa
guampa por causa do tal faniquito, pergunta prá moça: essa bota é tão bonita
assim prá todo esse fudunço?
Ao que a namorada lhe respondeu: até que nem é
bonita, mas que é a bota que o meu pai usava no dia do velório dele, ah! isso
é.
As fofoqueiras também falavam do Italiano. Diziam
que ele gostava de montá umas coisas. Diz que primeiro ele inventou um bolicho,
depois o tal do CTG e adespos falam que ele inventou de construir uma igreja.
Pois não é que a tal igreja saiu do chão.
O nome da igreja não lembro. É nome de santa, só não
sei qual. Mas diz que a festa de inauguração foi de rebentá a lonca da chincha.
Tinha prefeito, vereador, china - pobre e rica - borracho, vendedor de
casquinha, vendedor de cd sertanejo, crente da universal, madame, brigadiano e
até o padre, indicado pelo bispo, prá assumir a comunidade.
Depois de todo o palavrório, se seguiu uma
churrascada ao ar livre - lógico que a carne vendida prá igreja, tu já sabe de
quem é, né tchê? - e como não podia
“dexá de sê”, ensiguidita se armou um surungo. Diz que até a santa tossia com a
polvadeira e por detrás da sacristia o “Intalianu” se goleava num vinacho.
Lá pelo meio da tarde o Italiano já tava dentro da
guampa e assim no más, sem se esquece do seu papel de anfitrião, alçou a cola
e, mesmo com o silencio repentino, saiu marcando um vanerão bagual, pros lados
duma senhora mui distinta e toda emperequetada, dentro de um longo vestido
negro.
Chegando bem pertito, deu uma sofrenada, mandou um
bafo de vinho e se refrestelando todo, gentilmente soltou essa prá mui prendada
dama: madame, me permita essa marca, prá nos se lasca num vanerão?
E a resposta veio de sopetão: Eu não danço com o
senhor por três motivos. O primeiro motivo é que o senhor está podre de
borracho; o segundo é que a musica que diz: sirvam nossas façanhas de modelo a
toda a terra, é o Hino do Rio Grande do Sul e não um vanerão para sair dançando,
como o senhor fez, no meio do salão e a terceira razão de porque eu não danço
com o senhor é que eu não sou uma madame coisa nenhuma, eu sou é o padre dessa
igreja.
Isso é o que dizem lá pelo Jardim Algarve. Eu não
acredito. Prá mim tudo isso é lambança daquelas véia fofoquera.
Bueno tchê, depois de toda essa lenga-lenga, fiquei
com a goela mais seca que vassoura de guanxuma, entonces me bota aí mais dois
dedo da azulada, enquanto eu vou dá uma bombeada lá na porteira do corredor,
porque eu to ovindo o rosnido da guaipecada.
*Poeta
Nativista
juarezmiranda@bol.com.br
jornaljrcl@terra.com.br
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