Muito mais do que apenas calçar um par de esporas...
Muito mais do que acreditar que tem coragem pra chegar até o palanque, e muitas vezes impulsionado pelo próprio medo, saltar no lombo de um cavalo aporreado e querer que aquele momento que parece uma eternidade, passe o mais rápido possível... Que seja solto...Que melhor que agüentar quatro ou cinco pulos, é cair no primeiro salto... E depois disso sentir um alivio...
Muito mais que charlar nas rodas de mate, nas rodadas de trago, nas reuniões de homens de à cavalo, usar pilchas surradas, acreditar que possa ser um modismo ou que o significado da palavra ginete, possa ser visto como algo que irá fazer um homem, mais homem do que algum que não gineteia...
Ser um homem ginete vai além disso tudo...Esta na visão daquele que olha um cavalo atado ao palanque, examina a sua estatura, as suas manhãs, e por ter respeito aos limites que deve ter, pensa na melhor forma de como lhe acomodar para ter uma “buena solta”... De como deve “encrina-lo”, de como deve se acomodar sobre o seu lombo, de como deve medir a “rédea”, de como e onde deve lhe tocar com as esporas, e acima de tudo o quanto lhe deve respeitar e admirar-lo por ser um cavalo velhaco.
Respeitar sempre, os amigos, tropilheiros, palanqueiros, amadrinhadores, organizadores, comissões avaliadoras, capatazes de campo, e tudo aquilo que esta destinado a ser parte de um campo de gineteada.
Ser um homem ginete é estar disposto a ginetear, fazer de um ato que para muitos parece barbaresco, um momento de uma “beleza baguala”, como diz Alex Silveira! É estar disposto e consciente do que precisa fazer nos poucos segundo que lhe tocam... É saber aproveitar os corcovos do aporreado, fazer por si e pelo animal, sem jamais deixar que a “falta” de um, seja ofuscada pela “sobra” do outro...
Um homem ginete sempre reconhece as suas fraquezas, e as virtudes de um aporreado. Sempre haverá um momento reservado para os dois, ou momentos distintos, onde um irá ser o melhor, mas quando a sintonia de ambos consegue unir os seus desempenhos, os dois são vencedores...
O tempo também tem a sua tropilha que anda pelos rodeios da vida... Reservados que levam da glória ao fracasso aqueles que se disponham a lhes desafiarem...Esses sim, muitas vezes metem medo no homem mais garronudo, no homem mais corajoso, mais desafiador que seja. Reservados que muitas vezes fazem este homem acreditar que é melhor dizer que não, que não é mais pra ele, que deve se reservar para si mesmo, e respeitar o que ele, embora não sabendo bem o porquê naquele momento, lhe diz para desatar as esporas dos pés e esperar que em algum momento o batido de uma campana, como se fosse um estalo em seus pensamentos, lhe sonorize os verdadeiros motivos de dizer que não...Que não vou mais ginetear!
Renô Freire Villagran, meu irmão, escutou a batida desta campana, e ela ecoou dentro dele como um despertar, que muito mais sonoro que escutar ela de longe, era escutar ela ali, dentro da cancha, junto do palanque, escutar ela em meio aos sons mais crioulos que possam existir para quem sempre gineteou por devoção...O sonido desta campana lhe fez entender que por dentro dele mesmo, jamais havia parado de ginetear, jamais havia tirado as esporas dos pés, e que tudo aquilo que lhe havia motivado a tomar a decisão de abandonar os campos de gineteada, não fazia sentido... Renô Villagran vai sortear novamente, que Deus lhe acompanhe sempre meu irmão, que Deus nos permita andar juntos por aí.
Reconhecer que tomou uma decisão errada é como aceitar um tombo... Levantar e esperar o momento de recomeçar é ser humilde, ser forte, é ser um homem ginete!!!!
Sorte sempre!!!!! Sempre!!!! E que venha cavalo prá o palanque!!!!
Renô Villagran continua gineteando!!!!
Texto de Rogério Villagran
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