quarta-feira, 16 de outubro de 2024

9ª TERTÚLIA MAÇÔNICA DA POESIA CRIOULA.

Acontecerá nesse Sábado, dia 19/10, a partir das 18h no Teatro do SESC, em Porto Alegre, a 9º TERTÚLIA MAÇÔNICA DA POESIA CRIOULA. Os INGRESSOS estão disponíveis no local e será 1KG DE ALIMENTO NÃO PERECÍVEL.
Link para a transmissão ao vivo da GORGS TV pelo YouTube https://youtube.com/live/vvfxHF7aFVk

Os poemas que concorrerão na 9ª Tertúlia Maçônica da Poesia Crioula são os seguintes:
CATEGORIA MAÇÔNICA
1. AS TRÊS LUZES
Autor: Alberto Sales - Caxias do Sul
2. O GRANDE GEÔMETRA
Autor: Edson Casagrande - Viamão
3. O MALHO E O CINZEL
Autor: Osmar Ransolin – Fraiburgo / SC
4. GAÚCHOS TEMPLÁRIOS
Autor: Cândido Brasil – Cachoeirinha
5. O ETERNO É UM INSTANTE
Autores: Edgar Paiva/Rômulo Chaves – Passo Fundo e Palmeira das Missões
Suplente:
6. DUALIDADE
Autor: Luiz Lima - Santa Maria

CATEGORIA NÃO MAÇÔNICA
1. ALÉM DA ALMA
Autor: José Dirceu Dutra - São Miguel das Missões
2. SEXTINA DA ENTRESSAFRA
Autor: Paulo de Freitas Mendonça - Taquara
3. A MARGEM DO RIO SENTEI E CHOREI
Autor: Alcindo Neckel - Passo Fundo
4. VAZIO DAS RECORDAÇÕES CASA A DENTRO
Autor: Athos Miralha da Cunha – Santa Maria
5. O QUINTO ELEMENTO
Autor: Rodrigo Bauer - São Borja
Suplente:
6. VIDA E GRATIDÃO
Autor: Caine Teixeira Garcia - Bagé

8º CANTO GALPONEIRO DE PASSO FUNDO

Tudo pronto para o 8° Canto Galponeiroo os apresentadores, Analise Severo e Zeca Amaral. que farão bonito no palco do Gran Palazzo, o espaço da Cultura em Passo Fundo nesse final de semana, de 17 a 19 de outrubro, em mais um grande evento da Cultura. Que terá transmissão ao vivo pelos Canais oficiais do evento e pelo YouTube na página do grupo LOUCOS POR FESTIVAIS - só clicar aqui https://www.youtube.com/live/WuTssvk9O9g



Veja quem estará no Palco nesses 3 dias de Festival.






















segunda-feira, 14 de outubro de 2024

ERVA MATE - COMO SURGIU?

Como a própria National Geographic já trouxe em outros artigos, a erva-mate (Ilex Paraguariensis) é uma árvore nativa da América do Sul que, na natureza, pode atingir uma altura de 12 a 16 metros e é cultivada na zona subtropical da região.
Suas folhas são usadas para fazer várias infusões muito populares e consumidas pelos povos sul-americanos, como o chimarrão, o tereré ou o mate cozido (semelhante a um chá). As origens da erva-mate remontam ao povo indígena guarani (que antigamente estavam presentes no território desde a Amazônia até o Rio da Prata) e sua história é muito antiga.
Acredita-se que o costume de consumir a erva-mate em infusões seja um legado direto do povo guarani que se estabeleceu na região ao longo do tempo, como diz a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Onde e quando a erva-mate começou a ser utilizada?
Como aponta um artigo publicado pelo Ministério da Cultura da Argentina em seu site oficial, os primeiros consumidores (e guardiões) da erva-mate foram os indígenas guarani.
Eles usavam suas folhas como bebida, objeto de adoração e moeda. "Para esses povos, a árvore da erva-mate era, acima de tudo, um presente dos deuses", reconhece a organização argentina.
Segundo a Unesco, é certo que a erva-mate era o elemento-chave da dieta dos guaranis, cuja tribo se estendia pelo território em torno dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai.
Os guaranis usavam uma cabaça para preparar as folhas de erva-mate e as filtravam usando os dentes ou um canudo perfurado (como um antecedente da atual “bombilla”), um tacuapi (cana de bambu) feito de cestaria de tacuara (varas de bambu) como filtro, explica Alejandra Lapietra, uma sommelier argentina especializada em mate em um artigo da National Geographic dos Estados Unidos intitulado “What is yerba mate-and is this caffeinated drink really good for you?” (O que é a erva-mate – essa bebida cafeinada é realmente boa para você?, em tradução livre para o português)
Outros grupos indígenas, como os charrúa do Uruguai e os tupi-guaranis do Brasil, mastigavam as folhas por seus benefícios fitoterápicos.
Quando os missionários jesuítas chegaram ao Paraguai no século 17, proibiram seu consumo por considerá-lo um hábito prejudicial à saúde. No entanto, a proibição terminou por volta de 1630, observa o artigo norte-americano.
A partir de então, acrescenta a Unesco, a extração e a venda da erva-mate tornaram-se uma das principais atividades socioeconômicas da então colônia onde hoje é o Paraguai.
A erva-mate nos dias de hoje
Atualmente, a erva-mate é um produto de grande consumo e que faz parte da cultura e da economia do Paraguai, Brasil, Uruguai e Argentina. No entanto, ela também é buscada em outros países da América Latina e, recentemente, foi exportada para países europeus e asiáticos, de acordo com a Unesco.
A organização destaca que a erva-mate é parte essencial da rotina alimentar das pessoas da região, independentemente de sua classe social e localização no território. Além disso, sua relevância para a população local se reflete em inúmeras manifestações culturais, como músicas, danças, poesias, histórias, mitos e lendas.
História da Erva Mate

No sul do Brasil, a erva mate é mais do que uma simples bebida; ela representa uma tradição rica e culturalmente significativa. A história da erva mate remonta a séculos e está intrinsecamente ligada à cultura gaúcha e ao modo de vida dos povos sul-americanos.

Origem e Cultivo
A erva mate, conhecida cientificamente como Ilex paraguariensis, é uma planta nativa da região subtropical da América do Sul, principalmente do Brasil, Paraguai e Argentina. A tradição de consumir a erva mate remonta aos povos indígenas guaranis, que acreditavam em suas propriedades medicinais e estimulantes.

O cultivo da erva mate requer condições específicas de clima e solo, preferindo locais com boa luminosidade e umidade. As folhas são colhidas e secas para a produção da erva mate, que pode ser consumida pura ou misturada com outros ingredientes, como a erva doce e o boldo. O processo de secagem das folhas é crucial para preservar seus sabores e propriedades.

Benefícios para a Saúde
A erva mate possui uma série de benefícios para a saúde, sendo rica em antioxidantes, vitaminas e minerais. Seu consumo está associado à melhora da digestão, aumento da energia e foco mental. Além disso, a erva mate contém compostos que podem ajudar na redução do colesterol e no combate a inflamações no corpo.

Por ser uma fonte natural de cafeína, a erva mate também pode proporcionar um estímulo semelhante ao café, sem os efeitos colaterais associados ao excesso de cafeína.

Tradição Gaúcha
No Rio Grande do Sul, a erva mate é parte integrante da cultura gaúcha, sendo consumida diariamente em rodas de chimarrão, uma prática social e ritualística. O chimarrão, preparado com água quente e a erva mate, é compartilhado entre amigos e familiares, fortalecendo laços e promovendo momentos de convivência.

A tradição do chimarrão está presente em diversas festividades gaúchas, como o churrasco e as danças típicas. O consumo da erva mate é um símbolo de hospitalidade e acolhimento, refletindo a essência calorosa e comunitária do povo gaúcho.

Processo de Produção
A produção da erva mate envolve várias etapas essenciais que garantem a qualidade e o sabor únicos dessa bebida tradicional.

Colheita e Secagem
A colheita da erva mate geralmente ocorre no inverno, quando as folhas atingem o ponto ideal de maturação. Os ervais são cuidadosamente selecionados para garantir folhas de alta qualidade. Após a colheita, as folhas passam pelo processo de secagem, que pode ser feito de forma tradicional, em secadores a lenha, ou de maneira mais moderna, em estufas controladas. A secagem é crucial para preservar o sabor e as propriedades da erva mate.

Benefícios da Moagem
A etapa de moagem da erva mate é fundamental para a liberação dos sabores e nutrientes presentes nas folhas. A moagem pode ser mais grossa ou mais fina, de acordo com a preferência do consumidor. Quanto mais fina a moagem, mais intensa será a infusão da erva mate. Além disso, a moagem influencia diretamente na textura e no aroma da bebida final.

Tipos de Erva Mate
Existem diferentes tipos de erva mate disponíveis no mercado, cada um com suas características distintas. O tipo mais comum é a erva mate tradicional, que possui um sabor equilibrado e levemente amargo. Já a erva mate tostada passa por um processo de torrefação que confere um sabor mais intenso e adocicado. Há também a erva mate com adição de sabores, como limão ou menta, que proporcionam uma experiência de consumo diferenciada.

Curiosidades e Mitos
No universo da erva mate, além dos processos de produção e consumo, existem curiosidades e mitos que envolvem essa planta tradicional. Vamos explorar alguns aspectos fascinantes que permeiam a cultura da erva mate.

Consumo Tradicional
O consumo da erva mate está profundamente enraizado na cultura sul-americana, especialmente no sul do Brasil, Argentina e Paraguai. É comum encontrar pessoas compartilhando a tradicional cuia de chimarrão, uma prática social que fortalece os laços entre amigos e familiares. O ritual do chimarrão é considerado uma expressão de hospitalidade e amizade, onde a roda do mate promove momentos de convivência e troca de experiências.

Lenda da Erva Mate

A Lenda da Erva Mate remonta a tempos antigos, contando a história mística e simbólica por trás dessa planta. Segundo a lenda, a erva mate foi um presente dos deuses aos povos guaranis, concedendo-lhes energia e sabedoria. A tradição oral transmite a importância da erva mate como um elo entre a natureza e a espiritualidade, atribuindo-lhe propriedades especiais que nutrem o corpo e a alma.

Rituais e Superstições
Além do consumo tradicional, a erva mate está associada a diversos rituais e superstições que permeiam as comunidades que a consomem. Em algumas regiões, a preparação do chimarrão segue regras específicas, como não mexer a bomba após enchê-la ou passar a cuia com a erva mate no sentido anti-horário. Esses rituais são vistos como formas de respeito à tradição e à energia da erva mate.

Você sabia que o chimarrão não é igual em todos os países?
Cada região que cultiva e aprecia a erva-mate tem suas próprias tradições e costumes, o que resulta em sabores e experiências únicas!
Brasil: Nosso chimarrão é conhecido por sua cor verde intensa e sabor mais fresco. A cuia costuma ser maior e a tradição de tomar em roda é muito forte, promovendo a união e a conversa.
Argentina: O mate argentino é famoso por sua cor mais amarelada e sabor levemente amargo. A cuia é menor e a forma de tomar é mais individual.
Uruguai: Muito semelhante ao argentino, o mate uruguaio também apresenta uma cor mais amarelada e sabor amargo. A tradição é bastante similar à da Argentina.
Paraguai: No Paraguai, a erva-mate é utilizada para preparar o tereré, uma bebida gelada que é consumida com água fria e ervas aromáticas. A cuia é maior e a tradição é mais ligada à vida rural.
Além das diferenças na erva e na forma de preparar, cada país tem sua própria cultura em torno do chimarrão. É uma bebida que une as pessoas, conta histórias e faz parte da identidade de cada região.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Hoje é dia do Compositor Brasileiro

Uma reflexão mais profunda nos leva a meditar sobre inúmeros aspectos: em termos históricos, sociológicos, estéticos, filosóficos.

O compositor é, deste modo, um repositório do seu universo sócio-cultural. Não apenas um reflexo, mas, sobretudo, um co-partícipe. Seja vislumbre, seja intenção, a sua arte antecipa os rumos da sociedade à qual pertence.
Nesse sentido, a música é uma filosofia; é uma linguagem subjetiva e profunda.
Paul Hindemith a ela se refere sabiamente afirmando: "... além de todo o conhecimento racional e de toda a experiência manual, existe uma visionária região de irracionalidade onde moram os supremos segredos da arte..."
Sejam quais forem os aspectos da música, ela é sempre manipuladora das mais íntimas sensações - individuais ou coletivas - e de todo o mecanismo das emoções. Nesse sentido, o compositor avoca uma posição de responsabilidade: a sua música tem o poder de despertar e canalizar energias.
A música eleva, inspira, comove; mas pode, inversamente, deprimir, agitar, conturbar.
Cabe ao compositor traçar caminhos. Sua meta mais sublime será a de despertar os mais nobres sentimentos, depurar as energias humanas, infundir o aprimoramento de seus semelhantes.
E o fará através do domínio da técnica, do estilo, da estética.
Doando a sua obra musical - fruto da criatividade - ao acervo da comunidade,
terá o direito à convicção de ter vivido plenamente e cumprido a sua missão no evoluir da humanidade.
Quando vimos um texto assim, não poderíamos imaginar que o Brasil esteja passando por tanto lixo musical, com composições bizarras, letras pobres, músicas e melodias quadradas. Não sei se devemos comemorar o dia do compositor, pois está, de certa forma ridículo dizer que somos compositores. Se bem que, composição é um termo muito vasto, e na mente de algumas pessoas, que só pensam em imediatismo, é quase que inexistente, basta escrever alguns termos pejorativos e dúbios, escrotando uma melodia pior e pagar os meios para que se tornem sucesso, repentino na verdade, imediatista e sem valor, mas é sucesso.
Parabéns a todos os que ainda escrevem e compõem com a preocupação da obra e da sociedade em que vive.

Origem do Dia do Compositor Brasileiro

Essa data foi criada em 1948 pelo cantor e compositor Herivelto Martins, que integrou a União Brasileira dos Compositores (UBC) na década de 40.

herivelto martins
Herivelto Martins, cantor e compositor

Segundo sua filha, Yaçanã Martins, o pai foi grande incentivador da música brasileira e colaborou grandemente para a valorização dos músicos no país. Ela disse, certa vez:

Ele não só criou a data como fundou a União Brasileira de Compositores e ajudou a regulamentar a profissão. Pixinguinha cruzava com ele na rua e dizia: ‘devo a minha aposentadoria a esse homem’. Ele foi muito importante, foi um grande político sem ser político.

8º Canto Galponeiro de Passo Fundo

O Festival de Música Gaúcha Canto Galponeiro chega a sua oitava edição consolidado, no cenário artístico e cultural do estado e além fronteiras, como um dos festivais mais autênticos do Rio Grande, por trazer em sua essência uma preocupação com a genuína tradição gaúcha, através do apreço à temática regional, com a apresentação de músicas preferencialmente galponeiras.

Pretende-se com isso contribuir para o resgate de uma consciência gaúcha, não só no público adulto, mas também do público infanto-juvenil. Por isso, em 2022, paralelamente ao evento principal, ocorreu a 1ª edição do Festival de Interpretação Piazito Galponeiro, o qual tem como objetivo oportunizar a revelação das potencialidades artísticas e culturais de crianças e adolescentes de Passo Fundo e região, buscando, dessa maneira, manter vivo o gosto pelo nativismo gaúcho e demonstrando emoções que traduzam, em versos, o amor pela nossa cultura e pela nossa terra, conforme almejava o idealizador Adão Cirinei da Cunha.

PROGRAMAÇÃO
QUINTA-FEIRA - 17/10/2024 - Início: 20h
▪ Abertura oficial do Festival
▪ Apresentação das concorrentes da categoria mirim do Piazito Galponeiro
▪ Apresentação das concorrentes fase Local
▪ Show de encerramento - MISSIONEIROS, com Érlon Péricles e Desidério Souza

SEXTA-FEIRA - 18/10/2024 - Início: 20h
▪ Apresentação da categoria juvenil do Piazito Galponeiro
▪ Apresentação das concorrentes da Fase Geral
▪ Show de encerramento com - JORGE GUEDES E FAMÍLIA

SÁBADO - 19/10/2024 - Início: 20h
▪ Reapresentação das ganhadoras do Piazito Galponeiro
▪ Apresentação das Finalistas
▪ Show de encerramento ANTIGOS, com NENITO SARTURI e MIGUEL MARQUES
▪ Entrega da Premiação

O FUNDADOR
 Adão Cirinei da Cunha sempre admirou e vivenciou a cultura gaúcha. Por isso, com muita coragem e determinação, junto dos parceiros que compõem a Associação Amigos do Galpão e apoiadores, idealizou o Festival de Música Gaúcha Canto Galponeiro, que hoje já é referência em nosso estado quando se fala de música autêntica. Apesar da sua partida repentina, em 2021, a família Cunha e amigos, liderados pelos herdeiros desse legado, Fabricio e Francielle Cunha, dão continuidade a esse empreendimento cultural, mantendo viva a memória do nosso eterno patrão em cada acorde musical que ecoa no palco do Gran Palazzo


JURADOS
Antonio Daniel Busch
Poeta, compositor e locutor de rádio, bacharel em Economia, é natural e residente em Passo Fundo/RS. Fundador e idealizador de diversos festivais de música gaúcha.
 
Teixeirinha Filho
Natural de Taquara, é cantor, compositor, produtor cinematográfico, filho do cantor e compositor Teixeirinha. Atualmente está em dupla com o filho, Teixeirinha Neto.
 
Beto Caetano
Nascido em Unistalda, músico, arranjador, fundador do Grupo Som Campeiro, como gaiteiro, trabalhou por 12 anos com José Cláudio Machado.
 
Jaime Brum Carlos
Médico Veterinário, poeta, escritor e declamador. Natural de Cachoeira do Sul, reside atualmente em Restinga Seca/RS.
 
Anahy Guedes
Além de cantora e violonista, é compositora, realiza ao lado da família toda a parte de idealização, produção e realização dos projetos de Jorge Guedes & Família.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

‘Sentido da primavera’, uma crônica do poeta Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes - crônica

Ao acordar, naquele dia preliminar da Primavera, senti imediatamente que alguma coisa tinha acontecido de muito fundamental na ordem do mundo. Eu, homem de despertar difícil, pulei da cama tão bem-disposto e leve que, por um momento, assustei-me com a sensação indizível que sentia. Ao pegar o copo habitual para a minha água matutina, notei que se achava cheio de uma substância volátil, penetrada de uma linda cor violeta. E não sei por que bebi do copo vazio, estranguladamente, o ar da Primavera, de gosto azul e fragrância fria, com um peso específico de sonho.

Durante alguns minutos nada me aconteceu. Tomei meu café, fumei um cigarro e dei uma olhada nas coisas. Mas de repente senti que em mim a matéria começava a se transformar. Palpitações violentas confrangeram-me o coração e eu mal conseguia respirar. Vi minha filhinha Susana distorcer-se à minha frente como ante um espelho côncavo e logo em seguida penetrou-me um cheiro tão monumental que pensei se me tivesse enlouquecido a imaginação. Era um cheiro de menininha, um cheiro que eu conhecia bem, próprio de minha filha, mistura de talco, suorzinho, lavanda, xixi, sabonete, leite e sono; mas desta vez com uma tal amplitude que eu podia perfeitamente distinguir cada um dos subcheiros da sua composição. No talco, por exemplo, senti um cheiro de polvilho que não o abona, talco tão caro!, e senti também que no leite havia um cheiro de água, o que só vem corroborar a certeza geral de que o leite, nesta cidade do Rio de Janeiro, anda sendo fartamente batizado.

Depois senti milhões de cheiros. Não os descreverei todos para não ferir, com o desagrado de alguns, os ouvidos — diria melhor: os narizes — do leitor mais delicado. Como todo mundo sabe, a praia do Leblon não cheira a rosas — e caiba-me aqui mais uma vez chamar a atenção das autoridades competentes para o crime que é despejarem os esgotos naquelas águas onde se banha o que de mais inocente há no bairro: a criançada rica, remediada e pobre das ruas pavimentadas e da Praia do Pinto. Enfim, estou a fugir do meu assunto, mas valha-me a referência para registrar um cheiro enorme que senti na ocasião: um cheiro de miséria, que só poderia provir da dita Praia do Pinto, lugar, como todo mundo sabe, onde se comprime, em barracões infectos, a mais negra, sórdida e desamparada indigência da zona.

Mas até já ia me esquecendo: senti um cheiro de nazismo, súbito. Ora — direis —, como é esse tal cheiro de nazismo? Reconheço a dificuldade de descrevê-lo em toda a sua complexidade, mas penso que era um cheiro branco, inodoro, perfeitamente ortodoxo, no entanto, com laivos de salsicha, chope e cachorro policial, um cheiro de radiotelegrafia e talvez de cemitério. Não podia, porém, precisar de onde ele vinha, querendo me parecer, sem haver nisso qualquer insinuação, que chegava da rua Visconde de Pirajá, possivelmente, de algum café ou bar, desses onde se reúnem os nazistas conhecidos e desconhecidos que continuam a se aporrinhar mutuamente em grupos, pelos bebedouros de importação germânica que ainda existem nesta cidade hospitaleira.

Tudo isso constituía um fenômeno muito curioso. Os cheiros mais estranhos, os mais perversos, os mais doces, os do amor, os da solidão, perseguiam-me como outros tantos espíritos da Primavera. Um cheiro dolorosíssimo de morte chegou-me ao mesmo tempo que um odor de nascimento. Soube que alguém morria e nascia naquele instante particular do mundo e senti o cheiro da minha vaidade de me saber dono de um tão grande privilégio. Curioso também: só não conseguia sentir bem, em meio àquela sinfonia de cheiros, o aroma das coisas obviamente cheirosas como as flores e as mulheres em geral. O perfume do mar, por exemplo, eu o sentia em toda a sua frescura, verde, salso, infinito, e também o cheiro da areia que por sua vez cheirava a nuvem. Cheiro horrível era o de uma mosca que naquela ocasião voejava à minha volta: bicho imundo! Tive que fugir para a varanda, onde senti o vigoroso cheiro da madeira dos troncos, um rubicundo cheiro de sol e… ah, esses gatos miseráveis! Um dia ainda passo fogo num!

Ao sentir um cheiro de cachaça pensei comigo que meu amigo… (não, não o desmoralizarei) devia estar por perto: e efetivamente, pouco depois chegava ele com um queijo de minas debaixo do braço, cujo cheiro me deu vertigens. Mas eu acho o cheiro de queijo tão bom (contra, bem sei, a opinião de quase todo mundo, que, estou certo, irá rir de mim) que seria capaz de usá-lo no lenço, quando, naturalmente, não houvesse ninguém por perto. Aliás, poderia usar no lenço também cheiro de graxa ou gasolina, cheiro de torrefação de café ou mesmo cheiro de padaria de madrugada, quando o pão é feito.
Tantos cheiros, tantos… O cheiro do teu riso, minha adorada, de tua boca quente e sem malícia. O cheiro de tua pureza, coisa inefável, parecendo sândalo ou alfazema. O cheiro da tua devoção de cada instante, cheirando a alecrim ou mato verde, o cheiro da tua emoção constante, como o da terra viva molhada de chuva…

E depois senti um cheiro de sobrenatural, um gigantesco cheiro de sobrenatural, um cheiro de éter, um cheiro de cristal transparente em vibração, um cheiro de luz antiga, ainda fria dos eternos espaços por onde passara em seu caminho para a Terra. A Primavera cheirava toda para mim, só para mim, desnudada, a dançar na manhã azul perfeita, embriagante, toda olhos claros e sorrisos, a abrir com beijos de brisa a boca infantil das corolas nascituras. E dentro da Primavera senti um cheiro mágico de Paz.

(Novembro de 1944)

– Vinicius de Moraes, no livro “Para uma menina com uma flor”. [organização Eucanaã Ferraz] São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Por Revista Prosa Verso E Arte


QUEM GANHOU E QUEM PERDEU

QUEM GANHOU E QUEM PERDEU - Projeto do Cantor Eri Côrtes Contemplado pela Lei Paulo Gustavo - Lei complementar nº 195/2022 - de São Francisco de Assis - mostra uma síntese do que aconteceu na praça Coronel Manoel Viana em 1923 entre Chimangos e Maragatos - Conta com uma música com letra de Paulo Ricardo Costa e Esduardo Monteiro Marques e música de Eri Côrtes, na Interpretação de Eri Cõrtes e Nilton Ferreira - além da Gaita de Edson Machado e os violões de Halber Lopes. Também tem a Participação de Valdevi Maciel explanando sobre o tema e encenação de Jusselaine Guedes e Bruna Guedes.

Produção e Imagens de PRODUZA Produtora - Material todo gravado em São Francisco de Assis em Março de 2024.









FESTIVAL CANTO E TOSQUIA!

 Mais um Festival de Intepretes chegando, dessa vez em Santana do Livramento, no CTG Sinuelo do Caverá, nos dias 18 de 19 de outubro, com uma vasta programação, oportunizando aos artistas amadores da região com um belo espaço para mostrarem seus talentos e quem sabe, começar ai a caminhar pela estrada da música e da arte regional.

Mais informações nas Redes Sociais do CTG Sinuelo do Caverá ou com meu amigo, grande músico e professor Cristiano Cesarino.

Todos convidados à participar.