sexta-feira, 20 de setembro de 2024

QUEM LEMBROU DOS LANCEIROS NEGROS?

 E os Lanceiros Negros foram lembrandos e homenageados ou ainda continuam na porta das senzalas limpando os escrotos dos brancos e trabalhando de graça?  

Não podemos esquecer aquele tempo em que a escravidão reinava nesse estado e das mentiras pregadas aos negros com promessas de liberdade, coisa que nunca chegou. 

Parece que Caxias do Sul, lembrou e homenageou os Lanceiros Negros, mas se tu não conhece a história desses bravos combatentes, deixo um vasto material para estudo e conhecimento.





Os Lanceiros Negros da Revolução Farroupilha

O maior conflito armado ocorrido em território brasileiro teve participação fundamental de um grupo de pessoas que, na época, jamais imaginariam que seriam tão importantes no conflito, tanto no desenrolar quanto na conclusão.
Os lanceiros negros, grupamento do exército farroupilha formado por escravos convocados para lutar ao lado dos revoltosos, desempenhou um importante papel durante os 10 anos da Revolução Farroupilha.

Escravos libertos (ou nem tanto) para lutar pelo Rio Grande!
A Revolução Farroupilha teve início principalmente pela revolta dos estancieiros gaúchos, descontentes com a política implantada pelo Império Brasileiro, que desfavorecia a produção e comercialização do charque e do couro gaúchos, enquanto favorecia a produção de nossos hermanos, pois o Império preferia comprar este produto na região do Prata.
Vários destes estancieiros usavam mão-de-obra escrava em suas fazendas. Ao aderir a revolta, o estancieiro convocava seus escravos para lutar ao seu lado, engrossando as fileiras farroupilhas contra as tropas imperiais. Como motivação para lutar, o escravos recebiam a promessa de que estariam livres após o conflito, com a definitiva implantação da República Rio Grandense.

Além disso, quando uma estância de uma pessoa favorável ao Império era invadida, os escravos que trabalhavam nesta estância eram “libertados” pelos republicanos e convocados para o exército farroupilha.

Em pouco tempo, o 1° Corpo dos Lanceiros da primeira linha, criado em 1836, contava com mais de 400 homens a serviço da Revolução. Já em 1838 foi criado o 2° Corpo de Lanceiros, desta vez com exatos 426 homens. A maioria era formada por ex-escravos, mas nas fileiras também contavam com mestiços e índios.

E não eram soldados comuns, por nunca terem feito parte de um corpo militar antes da Revolução Farroupilha. Muitos tinham grande habilidade em cima de um cavalo, pois já trabalhavam domando animais nas estâncias, enquanto outros eram exímios lutadores com as lanças e facas em punho, além de usarem muito bem a boleadeira.

Isto garantia ótima mobilidade ao batalhão e um grande poder destrutivo, o que transformava-os em uma espécie de batalhão de choque dos farroupilhas.


Cláudio Moreira Bento, em seu livro “O exército dos Farrapos e seus chefes”, refere-se aos lanceiros negros da seguinte forma:

Excelentes combatentes de Cavalaria entregavam-se ao combate com grande denodo, por saberem como verdadeiros filhos da liberdade que esta, para si e para seus irmãos de cor e libertadores, estaria em jogo em cada combate […] Manejavam com grande habilidade suas armas prediletas — as lanças. Faziam a guerra à base de recursos locais. […] A maioria montava a cavalo quase em pêlo. […] Eram armados também com adaga ou facão e, em certos casos, algumas armas de fogo […] Os seus grosseiros ponchos de lã — bicharás — , serviam-lhes de cama, cobertor e proteção ao frio e à chuva. Quando em combate a cavalo, enrolado no braço esquerdo, o poncho servia-lhes para amortecer ou desviar um lançaço ou um golpe de espada.[…] Eram habilíssimos no uso das boleadeiras como arma de guerra […]” [1]

As dúvidas quanto à libertação e os direitos dos negros no RS

Uma questão controversa e que chamou minha atenção quando eu pesquisava sobre o assunto foi justamente a liberdade prometida pelos farroupilhas e o tratamento dispensado aos escravos que lutavam pela independência do Rio Grande do Sul.

Pois não há um posicionamento claro de que a liberdade era de fato certa ao fim do conflito — no caso de vitória farroupilha — ou se a escravidão seria oficialmente abolida no Rio Grande do Sul. O que sabemos é que o Império venceu, então grande parte dos escravos que sobreviveram ao Massacre na Batalha dos Porongos (calma que já chegamos lá) voltaram a condição de escravos com o fim do conflito.

O que temos de certo é que na época o Império chegou a decretar que os escravos que lutavam ao lado dos farroupilhas estariam sujeitos à pena que variava de duzentas até mil chibatadas, caso fossem capturados. Enquanto isso, os farroupilhas publicaram uma declaração repudiando o decreto imperial e informando que o exército republicano mataria um soldado imperial para cada negro capturado e açoitado.

Deste ato podemos ter uma ideia de como os republicanos tratariam os escravos caso a Revolução tivesse êxito. Ou não, já que existe um certo desencontro de informações quanto à um acontecimento particularmente sangrento da Revolução Farroupilha…

A Batalha de Porongos

Em novembro de 1844, as lideranças farroupilhas e imperiais já costuravam o fim da guerra, com cenário totalmente favorável ao Império, mantendo o Rio Grande do Sul como província. Mas havia um ponto em particular que estava atrasando o acordo: a libertação dos escravos que lutaram ao lado dos farroupilhas.

O Império não aceitava a libertação destes escravos, pois temia que este fato desencadeasse movimentos abolicionistas Brasil afora. E algumas lideranças farroupilhas preferiam a libertação dos escravos, colocando inclusive como uma das exigências para o fim da revolta.

O impasse teria sido resolvido na Batalha de Porongos, quando soldados do exército imperial, liderados por Francisco Abreu, o Moringue, e autorizados pelo Barão de Caxias, atacaram de surpresa os farroupilhas que estavam aguardando ordens acampados na curva do arroio Porongos, que fica no município de Pinheiro Machado.

Além dos farroupilhas normais — que faziam parte de outros destacamentos do exército farroupilha —, faziam parte do grupo cerca de 100 lanceiros negros que estavam desarmados e foram dizimados pelos imperiais. Os poucos que restaram vivos foram vendidos no Rio de Janeiro.


Quanto às controvérsias a este fato, David Canabarro — um dos líderes farroupilhas — desarmou os lanceiros e piorou a situação de defesa do grupo. E depois de Porongos o grupo dos lanceiros negros deixou de ser um atraso nas conversas diplomáticas, e em fevereiro de 1845 o acordo pondo fim às disputas foi definitivamente costurado entre as partes e o Rio Grande do Sul deixou de ser considerado uma província revoltosa.
À custa dos bravos lanceiros negros…

Fontes

– Os Lanceiros Negros na Revolução Farroupilha, texto do Historiador e deputado Raul Carrion. A citação [1] eu tirei deste texto.
– “Os Escravos que lutaram em troca de liberdade, texto de Guilherme Justino para a UFRGS


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