CONHEÇA O BUGIO

A HISTÓRIA, QUE NINGUÉM CONTOU...

            São Chico de Assis, um chão pesado de história. Na minha infância e posteriormente na adolescência, estudando no Colégio Salgado Filho, em São Francisco de Assis, sempre ouvia dizer que: “São Chico era um chão pesado de história”...
            Tive a graça de ter um dos maiores professores de história, se não o maior, Professor Sebastião Oliveira, que nas suas memoráveis aulas de história, sempre tinha algum aspecto sobre São Chico. Sobre a revolução de 23 e a participação direta desta terra nos combates da praça, entre outras façanhas de assisenses que marcaram a ponta de lança e adaga a história deste chão.
            Posteriormente, quando já adulto, pude conhecer a expressão maior da cultura de São Francisco de Assis, Salvador Ferrando Lamberty. O qual já admirava por seus poemas, num livro que meu Pai havia ganho do autor e que tinha uma poesia que muito declamei nos meus dias felizes, lá naquele ranchinho pobre da minha Vista Alegre. Essa poesia falava de um amor que findou-se em morte, os dois “namorados” preferiram um copo de veneno do que a separação.
            Quando conheci pessoalmente o mestre Salvador, suas idéias e seu jeito fácil de transmitir o que pensas, fez brotar em meu peito uma ânsia louca de conhecer melhor a história e a cultura tão bem defendida por meu Pai, nos encontros de Patrões e Congressos Tradicionalistas, representando o CTG Tropeiro das Missões da velha e saudosa Vila Kraemer.
            O mestre Salvador nessa época estava finalizando a pesquiza sobre o reconhecimento do rítmo bugio e talvez fosse a empolgação de suas palavras que acordou em mim, esse sentimento tão belo de deixar alguma coisa, para um dia tornar-se história.
            Algum tempo depois, o mestre divulga sua pesquiza no ABC do Tradicionalismo Gaúcho e presenteia-me com um Livro autografado. Nesse período eu já fazia parte do movimento cultural, não só no Grêmio Estudantil do Colégio Salgado Filho, posteriormente chamado de Escola São Francisco, bem como, pelos fandangos do CTG Tropeiro das Missões, onde o meu tio Valterom era Patrão.
            A Tropeada da Cultura Rio Grandense, na sua primeira edição, no Clube Assisense e posteriormente nas suas edições no CTG Negrinho Pastoreio, com a primeira amostra de música, foi o início de uma caminhada rumo ao espaço que tanto sonhara. 
                     Depois vieram: o Festival da Música Crioula de Santiago, em 1988, com a participação do Grupo Pega de Arranque e a Salamanca do Jarau com a paricipação de “Os Mandurins”, que me ajudaram a sonhar um tanto mais alto.
            No ano de 1989, infelizmente, tive que me distanciar de São Chico. Após fazer parte da Criação do Grupo de Arte e Cultura Ana Terra, que fez uma das maiores apresentações no palco do CTG Negrinho do Pastoreio, com a encenação da Lenda do Pastoreio, onde apresentamos músicas memoráveis. Nessa noite, além da produção e dos efeitos, toquei “bombo leguero”, para a invernada de danças, ao lado de Nilton Ferreira, Eri Côrtes e Jader Berguemaier. 
              No fim desse ano fui morar em Santiago.
            A distância e a saudade dançavam de esporas no meu coração. Essa ausência da minha terra e de velhos parceiros, fui aos poucos substituído por grandes amigos, como Marco Antõnio Nunes, Jonas Diniz, Paulo Cardoso, Seu Severo, entre tantos outros. Mas me refiro à estes, porque foi com eles que fui ao Manacial Missioneiro da Bossoroca, Grito do Nativismo de Jaguari, Festival de mata e ao Canto dos Sete Povos de São Luiz Gonzaga.
           
E foi nessa época que fortaleceu o sonho de fazer um Festival em São Chico. E o sonho foi tão grande que fiz o meu primeiro projeto e um desenho...
       Nesse desenho, brotava em meu peito a ânsia de ver o bugio voltando para a sua querência, à velha casa do Neneca, lá no Mato Grande... Nesses dias fizemos uma entrevista na Rádio Santiago, onde colocamos as possibilidades desse sonho.
            Todas as manhãs ou em quase todas, tive o grande privilégio de matear com um dos mais celebres poetas da velha Santiago, Dr. Valdir Amaral Pinto, que sempre de cuia na mão, me chamava para uns dedos de prosa, contando-me histórias de encharcar os olhos e lustrar o coração. Por diversas vezes me falou de São Chico e dos grandes amigos que havia por lá.
            Dr. Valdir com sua voz pausada e pensativa sempre tecia grandes elogios a arte e a cultura da minha São Chico, fazendo brotar em mim, além da imensa saudade, uma vontade louca de fazer algo por minha gente.
            Depois de três anos morando longe da terra Natal, tive a oportunidade de voltar. E nos peçuelos da memória, trazia rascunhos dos festivais por onde andei e um pouco mais de conhecimentos com os amigos que conquistei.
            Nessa época voltei a trabalhar na CIAL, imobiliária ali no beco de rua Ipiranga, enfrente a casa do Dr. Miltom, famoso médico assisense. Busquei a parceria e o companheirismo do grande amigo Eri Côrtes e mostrando-lhe o projeto que tinha para a criação de um Festival de grande porte, que viesse valorizar os músicos e a gente hospitaleira da nossa São Chico.
            Procuramos pelo prefeito da época, início do ano de 1992. O prefeito diante de sua arrogância além de nos deixar por horas esperando, no chegado momento da recepção, adentra em sua sala um grande estancieiro do município e o Sr. Prefeito preferiu recebê-lo. Comunicando-nos,a través de sua secretária,  que deveríamos procurá-lo numa outra ocasião, a qual  adiantando-se disse: que se fosse sobre o assunto do festival, ele que iria fazer.
            Sem êxito da nossa tentativa e com a “promessa” do Prefeito que ele iria fazer o festival, preferimos trabalhar silenciosamente no tal projeto. Procuramos algumas pessoas do comércio para nos ajudar, onde algumas, nem nos receberam e outras que recebiam, achavam que isso era uma enorme loucura, que não rínhamos capacidade para tamanho evento.
           
Nessa época havia um grupo chamado “Grupo de Arte e Cultura Candelária do Ibicuí”, o qual o Eri fazia parte. Grupo esse de pesquiza e que já havia feito alguns eventos anteriormente. Constituido de pessoas conhecidas, talvez isso pudesse facilitar nosso trabalho. 
 Foi marcado uma reunião, numa terça-feita, na casa de uma integrante do grupo,  na esquina das ruas Borges de Medeiros e Ernesto Alves, quase em frente ao local em que o Eri trabalhava, no Escritório Charrua. Nessa reunião pude expor o material que havia recolhido com a proposta de um fetival para São Franscisco de Assis. 
  Nascia aí a participação das pessoas que trabalharam na 1º Querência do Bugio.
           
           Nesse ano, era ano de eleição. A coligação da UPA – PDT e PMDM - as reuniões eram feitas no escritório que eu trabalhava, na CIAL, onde o seu Ciro Almeida era o Presidente do PDT. Pois foi numa ocasião dessas que o Canditado à Prefeito Paulo Roberto Carvalho, sempre educado e atencioso, ouviu-me atentamente sobre o prejeto de fazer um festival. 
           Certo dia convidaram-me para a reunião onde coloquei a possibilidade do projeto, dando-me o Prefeito a garantia de que se fosse eleito, nós faríamos o festival com o apoio da Prefeitura Municipal, fato que veio se confirmar com sua eleição dia 15 de Novembro de 1992.

             Após a eleição do Prefeito Paulo Carvalho e de algumas reuniões do G.A.C. Candelária do Ibicui na Câmara Municipal de Vereadores, com o apoio da CIMENSUL de Luiz Carlos Sudati – o Bica – fiz esse documento enviando para o comércio local, pedindo apoio para a realização do evento.

           






           Foi então criado pelo Francisco Ênio Cunha - Kiko -  o primeiro desenho do festival, já com matérias divulgadas pelos Jornais da região, conforme segue à baixo:   




            Em pouco mais de três meses, passados da primeira reunião, a CAPITAL MUNDIAL DO BUGIO começava entrar para a história dos festivais do Rio Grande do Sul e muitos músicos, poetas, compositores, arranjandores, o povo assisense começava a sair do anonimato cultural e entrava de vez para os anais da História.
            
            Desse que foi o primeiro rascunho de um regulamento que elaborei na solidão das noites santiaguenses, veio ser luz para o maior Evento de Cultura da minha terra.
                     RASCUNHO DO QUE DEPOIS TORNOU-SE REGULAMENTO DA QUERÊNCIA DO BUGIO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS  









        
        Esses foram alguns valores calculados para a época, valores  enxugados com muito trabalho e viagens com verbas colocadas do nosso bolso, dinheiro que não me fez falta, pois a cultura adquirida não há dinheiro que pague.

  No final da primeira quinzana de Janeiro acontece a Gauderiada da Canção de Rosário do Sul e foi para lá que nos tocamos numa tarde chuvosa, bem na época que estavam construindo o asfalto entre Cacequi e Rosário do Sul. Num Opala Bege emprestado pelo pelo Fernandinho e com um pneu de estepe emprestado pelo Missionário Wlademir, largamos rumo à Riosário do Sul.
                      Em Rosário do sul tivemos um ótimo acolhimento por parte da Comissão Organizadora da Gauderiada, especialmente na pessoa do DR. Mário Eleú Silva que no tratou com uma cordialidade impar.
                      Com as comissões todas escolhidas e comprometidas com o evento, tudo estava pronto, só na espera do início do grande evento, que aconteceu pela manhã daquele feliz dia 12 de Fevereiro de 1993. O Ginásio Municipal de Esportes aos poucos foi recebendo o que de melhor havia na música e na arte musical do Rio Grande do Sul. Músicos, Poetas, compositores misturavam-se ao povo, onde soavam as mais belas melodias, acariciadas pelo sorriso largo e fraterno dos assisenses.
                Tudo foi magnífico... a recepção dos convidados, o credenciamento, a portaria, a copa, a cozinha, os diretores de palcos e jurados, tudos comprometidos faziam valer as histórias que o Dr. Valdir me contava, de um povo hospitaleiro e um chão pesado de história como São Francisco de Assis.
                Após ao término do festival, nas altas horas da madurgada o pessoal da limpeza, orquestrado pela maestro Percy da Rosa,  faziam seu show, deixando tudo limpinho e arrumado para o dia seguinte. Ao meio dia o manancial de comida servido pelos companheiros do CTG Negrinho Pastoreio, não deixava ninguém lembrar-se das casas...
                O paniel de fundo de palco, pintado pelo Francisco Ênio Cunha – Kiko – a Sonorização dos Grupo Piazitos do Fandango e Grupo Galpão. Os shows de Wilson Pain, Telmo de Lima Freitas, Adair de Freitas, Sabani Felipe de Souza, Darlene Hilbig, Piazitos do Fandango e gente da terra não dixaram um só momento de emocionar a todos que ali estavam.
                Nas três noites mais de duas mil pessoas passaram pelo Ginásio Municipal de Esportes Franklin Bastos de Carvalho e entre elas, muitas com credenciamento para livre entrada e saída, além dos melhores lugares para assistir o evento, e são elas:

                A comissão avaliadora composta por: Zézinho Fourquim, Salvador Lamberty, João Damásio Catelan, Sérgio Oliveira e Sabani Felipe de Souza, pensaram na grandeza do festival e deixaram para os anais da história um dos mais belos discos da arte musical Rio grandense.
                  Das centenas de músicas inscritas para o festival, 24 foram ao palco, que são elas:

                Para facilitar a apresentação de todas as composições que foram ao palco, os apresentadores receberam documentos como esse;
Foram classificadas para o disco as seguintes músicas, nessa ordem:
Após ao término do festival, muitas matérias divulgadas na imprensa com o resultado desse evento, que marcou a cidade e as pessoas de São Franscisco de Assis;


PREMIAÇÃO:








































 
                O Festival da QUERÊNCIA DBUGIO, hoje, é uma realidade que orgulha, não só São Francsico de Assis, mas certamente a Pátria Grande do Sul. A cultura tão bem executada pelos dedos ágeis de Neneca Gomes, somado a preocupação de Salvador Lamberty só poderia resultar nesse que é o maior evento da CAPITAL MUNDIAL DO BUGIO.

             Mas o tempo jamais poderá esquecer de olhar por àqueles que deram, suor e sangue para que esse evento fosse realizado. Não me refiro somente à minha pessoa, pois sei do que fiz e o trabalho de convencer as pessoas que nós eramos capazes, mas também de Pessoas como: Eri Côrtes, Gaspar Paines, Idarci Frescura, Francisco Ênio Cunha – Kiko -,José Walter Dorenlles, Zeli Érbice, Valdevi Maciel, Rogério Ayres, José Pedro Bellegamba, Perci da Rosa, além dos Grupos Piazitos do Fandango, Ases do Fandango, CTG Pedro Teles Tourem, CTG Negrinho do Pastoreio, Rádio difusão Assisense e mais O prefeito Paulo Roberto Carvalho, o Presidente da Câmara Municipal de Vereadores Vasco Carvalho, o Comandante da Brigada Militar, a Delegacia de Polícia, Rotary Clube Assisense, Moto Clube Assisense, Grupo de Escoteiros Ytajuru, Escritório Charrua na pessoa de Valterom Moreira e CIAL Negócios Imobiliários na pessoa do Sr. Ciro Vieira de Almeida, entre tantos outros anônimos que trabalharam incansável mente tais como: Fernandinho Cardoso, João Carlos Guedes da Luz, Paulinho Côrrea, José Roberto Côrtes.

             Assim mais uma página foi escrita, talvez o tempo e a falta de memória dos que tentam fazer a história de São Francisco de Assis, não deram a oportunidade de os mais novos conhecer o que tantos fizeram e ainda fazem pela cultura dessa terra. Que a vida não venha, mais tarde, cobrar aos esquecidos e quem sabe um dia possam tirar a venda que os cegueiam e assim possam ver a luz da cultura, que até se esconde, mas jamais se apaga.

              Depois de anos guardando esse material, sem nunca ser ouvido ou procurado, hoje, presenteio ao grande mestre Salvador Lamberty, para expor em seu Recanto Cultural, para que outras pessoas que interessarem, possam querer guardar uma memória desse evento e acima de tudo possam saber que nada acontece por acasado e nem nasce de susto, como muitos vinham falando, por não querer falar somente a verdade

Santa Maria, 12 de Dezembro de 2010

                                                                      Paulo Ricardo Costa
                                                                Criador da Querência do Bugio