quinta-feira, 10 de maio de 2012

Reflexões de um campeiro só

Quero dedicar esse post aos declamadores, principalmente aos do Galpão da Poesia Crioula de Santa Maria, que de uma forma ou de outra também são referência para os demais declamadores. Quando os vejo falando de poesias e quando falo que é na simplicidade que está a beleza do verso, muitas vezes sinto que não sou ouvido. Pois tem gente que acha, que poesia tem que ser coisa de outro mundo, com uma linguagem metafórica e que ninguém entende, então, aos que "só" pensam assim, me explique o que faz um post que foi colocado no dia 14 de Abril numa rede social, hoje, à menos de 30 dias ter  983 compartilhamentos e 125 pessoas curtindo? - E não é só isso, entre e olhe as mensagens deixadas. Pois é, o que quero dizer é que poema, também é simplicidade, é linguagem simples, e de fácil aceitação, sem cair no banal, mas que pessoas simples quais à mim, possam ler, escutar e entender. 
Ai está mais uns versos modestos, que teimo em chamar de poema, e é inédito. Fiz numa dessas noites, mais ou menos frias de um 14 de Abril de 2012

Reflexões de um campeiro só
A madrugada boceja versos,
Na goela farta dos ventos...
Retrucando os sentimentos,
Que madrugaram comigo...
"Cosas" de um tempo antigo,
Que vão se apagando na memória,
Um dia, talvez, serão estórias,
Pra serem contadas aos amigos;

Os mates não são os mesmos,
A erva já perdeu o gosto...
E as rugas fartas de um rosto,
Faz o tempo não ter pena,
E a vida cruel nos condena...
Há um tempo de reflexão,
Onde os momentos de solidão,
São potros que a gente enfrena;

Já tive cismas de andejo...
E já andei por muitas distâncias,
Talvez, sem dar a importância,
Pois tudo é perto ao campeiro,
Quando um coração caborteiro,
Pateia dentro de um peito...
Qualquer horizonte é estreito,
Pra que tem alma de fronteiro;

As tropas sumiram ao longe...
Num grito de eira boi,
E o tempo bom que se foi,
Ficou perdido pela evolução,
Onde o poder e a razão...
Vão ditando normas e regras,
Que até o mais rude se entrega,
Meio de cabresto na mão;

Às vezes... fico cismado!
Com minha própria indagação,
E busco na fé de um galpão,
Meu templo, santo e sagrado,
Num terço bem caprichado...
Vou relatando meu calvário,
Tendo as esporas de rosário,
E o Criador ao meu lado!

Porque que a vida é assim?
Porque que a idade se aporreia?
E vai nos prendendo em maneias,
Com trança de oito tentos...
Só não prende os sentimentos,
Que a alma guarda de jeito,
Pra um dia repontar do peito,
Como nuvens no firmamento;

Sei que o mundo lá fora é outro!
E a vida, hoje, tem pressa!...
Ninguém sabe como começa,
Nem tão pouco quando termina!
O que a natureza nos ensina,
Ninguém consegue aprender,
Se há cada dia, há mais ser...
Morrendo pelas esquinas;

Me tiraram o pingo e o arreio,
Porque a idade me afronta...
Mas não estão se dando conta,
Que a morte é a própria solidão,
Ficou-me o silêncio, a reflexão,
E as madrugadas por regalo...
Pois um campeiro sem cavalo,
É um corpo sem coração;

Então não me resta mais nada,
Já me condenaram ao fim...
Pois todos olham pra mim,
Com olhos esbugalhados...
Mas esquecem que no passado,
Enfrentei a ira dos tiranos...
E corri com os castelhanos,
Que se adonavam do estado.

Mas isso pouco importa...
Herdaram uma Pátria livre,
E há cada um que aqui vive,
Ficou um pedaço de chão...
Faça uma breve reflexão,
Antes do corpo virar pó...
Não deixe um campeiro só,
Antes de fechar o caixão;

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