terça-feira, 15 de maio de 2012

Galpão da Poesia Crioula de Santa Maria

No Galpão da Alma

Tenho um galpão na alma,
Onde abrigo os sentimentos,
Quinchado ao próprio relento,
Da noite que desce calma...
Tenho um galpão na alma,
Onde sorvo mates madrugueiros,
Recolhido à fé dum campeiro,
No frio de tantas invernias...
Quando esta xucra rebeldia,
Me traz cismas de estradeiro;

Galpão construído ao poucos,
Como quem faz um poema...
Quando a saudade tem pena,
Dos sentimentos mais loucos,
De um coração em sufoco...
Que, se dobra à nostalgia,
Deitado num catre de poesia,
No Santo chão de uma rima,
Onde o verso é obra prima,
Acompanhando-me dia a dia;

Galpão que fica de frente...
Para as portas de um coração,
Rodeado à luz da razão...
Das leis que guiam o vivente,
Aberto para um sol nascente,
Reponta as dores que trago,
Quando sonhos são amargos,
Com peito ardendo na dor...
Rebusca uma forma de amor,
Pra não se perder como vago;

E a noite quando silencia...
Solito em seu abandono,
Viajor das horas sem sono,
No lume de uma estrela guia,
Busca a pauta da melodia...
Para deitar parte dum verso,
Como se o tempo disperso...
Guardado pra uma ocasião,
Se moldasse a este galpão,
Cabendo todo o universo;

De tão grande que parece...
De tão sublime que seja...
Que aos pés do mundo rasteja,
Na forma rude da prece,
E quando solito emudece,
Guardando a fé dos que ora,
Que até a lua lhe implora,
No seu fadário crioulo,
E vem pedindo consolo,
Pra noite triste que chora;


Quem dera outros romanceiros,
Tivessem o mesmo galpão,
Com um fogo grande de chão,
Para aquecer o mundo inteiro,
Veriam, que ser galponeiro...
É ter mais do que aconchego,
É sorver da paz e do sossego,
Onde todos, são iguais...
Não existem os maiorais,
Quando o catre é de pelego;

Quando o galpão é o mesmo,
Sob a luz de um só candeeiro,
Quando o calor do braseiro,
Aquece a todos a esmo...
Quando o galpão é o mesmo,
Não existe essa diferença...
São filhos da mesma crença,
Do mesmo Pai celestial...
Crentes de um mesmo ritual,
Diante da mesma sentença;

Este é o galpão que trago,
É o meu abrigo predileto...
Sem chão, sem quincha, sem teto,
De portas abertas ao pago,
Quando os sonhos andam largos,
E a saudade se agiganta...
Trago ele para a garganta,
Para dizer versos terrunhos,
Escritos do próprio punho,
Que até um poeta se espanta;

Quem dera outros tivessem,
O aconchego deste galpão...
No calor de um fogo de chão,
Onde até os grilos emudecem,
Quem chega, jamais esquece,
De ter estado, aqui, um dia...
No atropelo da noite fria,
Quando a geada se derrama,
Para um poema fazer cama,
Neste galpão, da poesia!

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