terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ÚLTIMO ADEUS A UM CAMPESINO

Belíssima matéria escrita pelo Léo Ribeiro, que foi se despedir desse, que pela sua obra, é imortal e que certamente viverá nos corações mais saudosos!
Telmo de Lima Freitas, um dos poucos artistas que compareceram à cerimônia fúnebre, reza aos pés do imortal José Cláudio Machado

O céu segurou seu pranto... Quando saí de Porto Alegre, em riba das sete e quinze, rumando a Guaíba, histórica cidade do revolucionário Gomes Jardim, o tempo estava osco, cinzento, com nunvens que mais pareciam pelegos de chumbo estaqueados no firmamento. Uma "Milonga Abaixo de Mau Tempo"!

Fui dar meu - até um dia, a José Cláudio Machado, o Cantor Galponeiro, um dos últimos galos-dourados da musicalidade rio-grandense.

Quando estacionei o carro defronte a Câmara de Vereadores de Guaíba, local das encomendações, um bugre gaúcho de barba e melena brancas pitava um cigarro de palha com os olhos marejados. Pensei comigo: A coisa é por aqui mesmo.

Enquanto trancava minha condução, um fiat Sena, com placas de Tapes, volteava o prédio com o rádio a toda a goela, com canções do "Zé" Cláudio. Uma homenagem solitária de um fã já saudoso.

Lá em cima, após três lances de escadas, o salão do legislativo guaibense mais parecia um galpão de terra batida, em face da peonada que proseava em voz telúrica e respeitosa. No centro, o ataúde com o maior cantor terrunho do Rio Grande. Sorriso debochado, boina na testa, bombacha e jaleco cinzas, camisa azul, lenço grená e o inseparável chapéu preto preso entre os dedos.

Fiz minhas orações agradecendo a Deus, e ao Zé, por todo o atavismo, xucrismo, gauchismo, e outros "ismos" mais que ele nos regalou. Posso dizer que sou feliz por ter sido contemporâneo deste taura que jamais se dobrou e que fazia em vida o que cantava nos versos.

Ao sul do caixão o pala preto, a bandeira do Rio Grande, de Tapes e de Guaíba. Ao sul do sul, uma legenda orava em silêncio por um de seus pares que abria o pingo e se ia... Telmo de Lima Freitas. Aliás, muitos eram os artistas que admiravam e seguiam os passos deste monarca pampeano mas poucos foram levar seu apreço ao cantador. A rigor, além do Telmo, lá estavam o Joca Martins, Elmo Freitas, Paulinho Pires, Carlos Madruga, Dorotéo Fagundes e Mauro Moraes. Erival, Bertolini, Presidente do MTG, também se fez presente representando a entidade.

Na verdade, o que importava ao Zé Cláudio era a gente simples e humilde, a peonada, e esta, marcou terreno com suas preces.

Perto das onze o padre (ou pastor) todo pilchado fez as derradeiras e bonitas orações. Após diversos pronunciamentos, reverências, saudades expressas com sentimento, num cortejo, longo e triste, aos 63 anos de idade, no dia em que nascia o escritor Barbosa Lessa, o Patrão de todas as querências levava para junto de si o mestre dos mestres da cantoria: José Cláudio Machado!

E o céu... Segurou seu pranto!

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