domingo, 12 de agosto de 2012

Vida e morte de Adão Latorre



Tenente Coronel Adão Latorre foi um revolucionário Maragato (ou Gasparistas) que lutou na Revolução Federalista, refrega de bala e facão onde os Federalistas queriam apear do poder Júlio de Castilhos. Adão foi famoso, entre outras coisas, além da bravura mostrada em batalha, pela seu plantel de degolas, que era como na época se resolviam a questã dos indesejados e dispendiosos prisioneiros, pois balas e pólvora custavam caro é eram deixadas para as escaramuças "de verdade" e as cordas eram usadas para outros fins e aqui no sul, não é sempre que se acha uma adequada para enforcar (além de ser trabalhoso).

A história mais famosa do preto Adão foi a degola do Rio Negro, onde Adão degolou mais de 300 Chimangos (como eram chamados os governistas em 1923- Chimango - Milvago chimango Vieillot 1816 - é uma ave de rapina ocorrente no Rio Grande do Sul - antes eram chamados de Castilhistas ou Pica-paus) depois da Batalha do Rio Negro, no local chamado Potreiro das Almas, aqui pela volta de Bagé (aqui também Bagé) e Hulha Negra. 

E sim, correm histórias aqui em Bagé, que a noite, no Potreiro das Almas, os corajosos que lá vão conseguem escutar os lamentos dos degolados.

O troço, a degola do Rio Negro, ocorreu em 23 de novembro de 1893. Sim, é um episódio controverso, tanto na autoria quanto nos números. Tarcísio Taborda, historiador bageense, conta trinta execuções e alguns pesquisadores, concluem que Adão por ser "pobre e preto" (sic.) levou a culpa. O que podemos ter certeza, era que as degolas ocorriam de ambos os lados. Contam histórias que algumas eram até precedidas de castração e existia até a modalidade de corrida de degolados. Criativos. Mas uma certeza é que Adão Latorre morreu metralhado aos 83 anos durante a revolução de 1923 (falarei mais outra hora), próximo a Dom Pedrito. Sim, você leu certo. Ele morreu lutando aos 83 anos. Sejam 30 ou trezentos degolados, o sujeito era macho. Só de metranca mesmo para parar o preto Adão.




por: Luis Godinho 


[13H:25MIN] 30/12/2005 - PARAPEITO 



No ano de 1983 ao ler o livro A história de Bagé de Eurico Jacinto Sales, edição 1955, dei início a uma pesquisa sobre a vida de Adão Latorre, o que acabou em letra e música. Naquela época ainda não se dava muita importância à degola (combate do Rio Negro). Entendiam que o “Negro Adão” não passava de um covarde a mando do general Joca Tavares. Os anos se passaram e a música com letra de minha autoria e melodia de Luiz Carlos Camejo Cardoso (o Cardosinho de Bagé), interpretação de Wilson Paim, tornou mais popular e entendida a figura de Adão Latorre. Já no ano de 1993, Centenário da Revolução Federalista, a Urcamp Bagé, através do ilustre mestre, professor, pesquisador e historiador dr. Tarcísio Antônio da Costa Taborda, realiza um belo conclave em comemoração ao centenário da revolução, quando então anuncia que Adão Latorre era um tenente-coronel do Exército Uruguaio e que atuava como mercenário na dita revolução. Já no ano 2004, juntamente com o Núcleo de Pesquisa Históricas de Bagé, que tem o nome em homenagem ao dr. Tarcísio, visitamos o túmulo de Chico Diabo (na Guardinha) e logo a seguir o de Adão Latorre (cemitério de Santa Tecla) aproximadamente a oito quilômetros de Bagé. Mais adiante fomos informados por Eron Vaz Mattos do local onde moravam os pais de Adão Latorre (Rodeio Colorado) a partir da aí, então, é que entendemos o motivo da degola do Rio Negro, ou seja:
O coronel Pedroso depois de atear fogo na Estância do Limoeiro, cruza pelos “Olhos D’Água” e a poucos quilômetros, próximo a Encruzilhada, degola os pais de Adão Latorre e ateia fogo no seu rancho. Por esse motivo é que Adão Latorre se apresenta como voluntário aos revolucionários com o intuito de vingar o assassinato de seus pais por Manoel Pedroso, o que aconteceu com a sua degola e a seguinte narrativa, segundo o dr. João Maria Colares, em História de Bagé por Eurico Jacinto Sales, página 278:
MP - Adão, quanto vale a vida de um homem valente e de bem? 
AL - De bem... não sei!!! A vida de um homem vale muito, a tua não vale nada porque está no fio de minha faca e não há dinheiro que pague. 
MP - Pois então degola “negro filho da puta”. Dito isso segurou-se a um arbusto, levantando a cabeça para facilitar a tarefa ao inimigo. 
Assistiu essa cena Pedro Luis Lacerda que dizia ainda haver ouvido o pedido de Pedroso a Adão para que entregasse um anel de seu uso a uma filha residente em Pelotas, segundo informações foi cumprido o feito por Adão Latorre. Passou anos e segundo as pessoas que conviveram com Adão diziam que era um cidadão de paz, amigo e servidor.
Na minha passagem pelo Exército Brasileiro por quase 30 anos, conheci o Pedro Antônio de Souza Neto (tio Pedro), ferreiro do antigo 12º RC, hoje 3º Batalhão Logístico (Batalhão Presidente Médici), o qual, ao conhecer a música Adão Latorre e seu autor, confessou, que no ano de 1923, com a patente de 3º sargento do Exército, foi designado a integrar um pelotão para fazerem o translado do corpo de Adão Latorre do Passo da Maria Chica (Ferraria, Dom Pedrito) para Bagé, onde foi sepultado no cemitério de Santa Tecla onde se encontra até hoje, conforme registro fotográfico, juntamente com seu irmão, o major João Latorre. Segundo informações, Adão Latorre foi fuzilado pelos capangas do major Antero Pedroso irmão de Manoel Pedroso em uma emboscada. Pedro Antonio de Souza Neto, desempenhou suas funções no 3º Batalhão Logístico, até os 90 anos de idade, vindo a falecer com toda a sua lucidez, aos 93 anos.



Letra música
Adão Latorre
Bombacha de pano bom
Cinto com as iniciais
Cabo de relho prateado
Com traços de ouro puro
Faca de prata e espada
Num pulso muito seguro.



“93” foi tua época
e nela foste um taura
temido em toda a pampa
por causa da degolada
da faca fio de navalha 
E a gravata colorada.



Mais de trezentos foi teu número
Mais ou menos diz a história
Entre ganhas e perdidas
Tiveste mais foi vitória
Para uns tristeza e dor
Para outros, fortuna e glória.



Bom cavalo o teu tordilho
Os capangas eram dos bons
Com fletes do mesmo pêlo
Boas pilchas, bons aperos
Para uns era valente
Para outros covardão
Degolador de “93”
Coronel, negro Adão.



Corre a faca, corre o sangue
Tomba o homem na ladeira
Pois a morte é derradeira
Não dá mais pra atacar
Depois do pescoço solto
Não dá mais pra costurar.



Jota, jota, jota paisano
Cambalhota soldado clarim
Lagoa da música a bolapé
Negro Adão guarda a faca
“93” foi assim.



Arquivo/Luis Godinho

Sem comentários:

Enviar um comentário