sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Nossa história está se perdendo


O Sinuelo dos tauras, 
Bandeira dos livres, 
Eu sinto que vives 
Flaneando nas almas 
Inspira e acorda 
Com a luz que recorda 
O berço e a origem.

Não me fiz de rogado e como padre que vai a Roma não deixa de ir no Vaticano, dei um jeito de conhecer a casa onde nasceu o Jaime. o que, para mim, é a Catedral Missioneira do Verso Xucro.
Já Conhecia a Lápide em homenagem à Cenair, em Santo Ângelo e a Estátua do Jaime, no acesso a São Luiz Gonzaga.
Fiquei conhecendo o Túmulo-Monumento em homenagem ao Noel e, como disse anteriormente, procurei conhecer o Monumento ao Jaime, que em sua infinita sabedoria, o Arquiteto do Universo, sendo Justo e Perfeito e Sabedor do Ontem, do Hoje e do Amanhã, já, por meio dos homens, projetara.
Ao pisar naquele Santuário, a emoção foi realmente incomensurável.
Era sexta feira, dia dos finados, no meio da tarde. De repente, e não mais que isso, um vento sudeste, insistente e morno começa a varrer as coxilhas e levantar o pó da terra vermelha que se depositara sobre o lajeado, por causa das fortes chuvas da semana passada.
Para me proteger deste surpreendente fenômeno, caminhei em direção da porta, que nesta altura começava a bater fortemente no marco, e num upa estava eu, sobre o chão sagrado daquela morada.
Quando entrei, uma janela de folha arrevezada fazia o vento assobiar.
Até fiquei com uma dúvida: que estranho, eu conheço este assobio e não parece ser do vento.
O tempo foi passando e o tal do vento foi diminuindo, diminuindo, foi ficando num sussurro. De sopetão, recrudesce novamente e do quarto dos fundos, onde o Jaime nascera, eu juro que ouvi, como uma voz que surgia daquelas paredes: e a china, tchê??
Bueno, correu um arrepio que levantou os pelos da paleta até o fim do espinhaço. Me mandei a lá cria e, ainda meio assoleado, sentei num cepo de guajuvira e fiquei na sombra de um frondoso cinamomo sobrinha, que - soube depois - fora um dos que o Jaime plantou na adolescência.
Toda essa emoção me deixara de goela seca e como percebi que havia um poço, ainda mais velho que a casa, resolvi me refrescar e matar a sede.
Vi um monte de telhas e sobre elas, ajoujado a uma lonca de couro cru, uma cambona velha - provavelmente contrabandeada da Argentina por algum chibeiro - pois ainda se podia ler: Aceite Cocinero, Producto Argentino, producción 1947.
Peguei a dita, mandei prá dentro do poço e de lá retirei água fresca para me refrescar e beber. Quando fui botar a tal da cambona no mesmo lugar, senti curiosidade de saber de onde vinham as telhas.
Foi aí que o posteiro me disse: são da casa do Jaime. Então reparei que a casa estava coberta com telhas de amianto.
Na prosa com o peão, ele me explicou que haviam feito a troca no dia anterior, porque uma semana antes havia ventado e chovido muito e começaram a aparecer goteiras, e a dona resolveu o problema trocando a cobertura.
Ao retornar ao CTG Sombra de Carreteiro, comentei com os aparentados e percebi que eles não estavam ao par do acontecido.
Quando cheguei à Porto alegre, rememorando os fatos, foi que me dei conta do que estava acontecendo: A casa do Jaime - Catedral Missioneira do Verso Xucro, prá mim - estava desaparecendo e se algo não fosse feito, o Monumento, certamente inspirado pelo Criador, mesmo antes do Payador nascer, desapareceria.
E, de nada adianta a construção de mausoléus e estátuas, se deixarmos morrer o que ainda resta de original e verdadeiro. É como plantar um belo e florido jacarandá, sem raiz. Ele morre, assim como irá morrer o que ainda resta da Cultura Missioneira.
Ainda é tempo. Todo o material está em volta da casa e talvez se precise de algum esforço para recolocá-lo, mas se todos se unirem acredito que isso seja possível.
Reconheço que a casa é propriedade particular, bem como o terreno em que ela se encontra. Por isso entendo que não temos nenhum direito de meter a mão, mas temos todo o dever de exigir que a memória do Jaime seja respeitada e este respeito, sem dúvida, passa pela preservação das poucas coisas que ainda permanecem quase inteiras.
Para ilustrar o que te disse te envio duas fotos: uma, com as telhas originais, tirada há menos de um mês e a outra, que eu mesmo fotografei no dia 02/11, já com as telhas de amianto.
Se necessitares alguma confirmação, acredito que a patronagem do CTG - Srª. Soeli Antunes e seu esposo Carlos Antunes, (masoeli@hotmail.com) - não te negará, mesmo sendo parentes da atual proprietária a Profª. Ana Tereza.
Bueno, como o chasque tá mais comprido que discurso de gago, vou finalizar. E,sabedor que o teu blog retumba em todos os cantos deste estado, te proponho que, se achares por bem, iniciemos um movimento que grite, para impedir que esta devassa continue e que, se possível, permaneça em pé e sem qualquer descaracterização a Catedral Missioneira do Verso Xucro.

Amigo, será que esta luta vale a pena?

Com Saudações Gaudérias.

Juarez (O Xirù)


Casa de Jayme Caetano com o telhado original - outubro de 2012

Casa de Jayme Caetano com o novo telhado - novembro de 2012


Não podemos deixar a história de um Homem morrer no marasmo de nossas autoridades. Escrevi aqui um dia, o que estão fazendo com a casa do grande Jaime Caetano Braun, lá na Timbaúva, interior de Bossoroca e não fiz nada mais do que me preocupar com o desleixo de gente que poderia e que ainda podem fazer alguma coisa. Hoje recebi um e-amil do Xiru e fiquei muito feliz, pois vou postar na integra, por sei que ele é tão ou mais preocupado com esse fato e que juntos poderemos, quem sabe dar um sopro no mente dos poderosos e quem sabe eles acordem para esse fato triste.

Caro Paulo,

Andei ciscando no quintal do teu Blog e fiquei mais inzibido que guri quando ganha "as deva" num Campeonato Mundial de Bolitas, disputado num repecho de coxilha.

Esta alegria tem um fundamento só: A tristeza que senti ao ver o rumo que o vento da ignorancia e da menos valia dava à Casa do Jaime Caetano Braum - no meu entender a Catedral Missioneira do Verso Xucro - já tinha um alento.

Este ânimo, me faz ver, e ter a certeza, que eu não estou solito. Que há outros taitas, repontando comigo o mesmo amor pelas coisas terunhas do meu Pago. Vi meu grito quero-querear e parceiros, como tu e o Léo, me estribaram, carregaram na garupa e, principalmente deram eco ao meu chamamento.

Como digo no chasque que engarupaste: "de nada adianta a construção de mausoléus e estátuas, se deixarmos morrer o que ainda resta de original e verdadeiro", mas, quando parceiros, que de forma expontânea, batem estribo ou vem sorver um amargo e, principalmente, ombrear conosco na luta pela preservação da nossa memória cultural e da nossa mais autêntica e verdadeira história, sentimos que nem tudo está perdido.

Ainda há esperança. Podemos, pelas circunstância, não fazermos muita coisa, mas certamente estaremos, todos juntos, fazendo carga lança na peleia pelos ideais gaudérios, que, afinal de contas, são essência que mantém viva a nativa imagem e a tradição do Povo Gaúcho.

Por tudo, Parceiro - permita-me assim chamá-lo - Muitíssimas Gracias e Saludos.

Com Gauchescas Saudações,

Juarez. (O Xirú)

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