quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Volmir Coelho algemado no palco da Moenda

Volmir Coelho sobe vestido de presidiário e algemado na Moenda da Canção e premia em 2º Lugar com a música Vinte e Dois Anos, de autoria de Carlos Reberto Hahn e música dele, Volmir Coelho.

VINTE E DOIS ANOS
Letra: Carlos Roberto Hahn
Melodia: Volmir Coelho
Músicos: Cristiano Cesarinho (violão-aço), Diogo Barcelos (piano), Edimilson Rodrigues (contrabaixo), Pablo Pacheco (percussão) e Volmir Coelho (violão e voz).
Ritmo: New milonga

Vinte dois anos.
Vinte e dois anos é muito pouco.

Uma bala, sem dó, fez o cara virar pó.
Aliás, ele gostava do pó e voltou ao pó.
Numa pedra escreveram seu nome.
Para sempre... nunca mais.
Terra, terra, cinza e pó.

Vinte e dois anos é muito tempo.
Alguns anos de escola, outros tantos de esmola.
Não me lembro da escola. Só lembro da esmola.
Fui humilhado com roupas usadas para ir na escola.

Depois, ah! Depois, o reconhecimento.
Sou da linha de frente. Mato sim, e daí?
Vai encarar? Vai encarar?
Agora sou da linha de frente. Sai da frente.
Quando a vida anda devagar. Se arrastando como lesma lerda.
Então a gente vai na carreira. A vida fica da hora.
A gente aspira, as mina pira.
É ligeiro. É maneiro. Cheiro, cheiro.

Mas é preciso dinheiro.
Pego o trinta e aponto pra pinta: “me passa a grana”.
Sou da linha de frente.
E daí? Vai encarar? Vai encarar?

Um dia ganhei um ponto, um ponto pra mim.
Era eu na linha de frente.
Daí chegou um cara. Tinha só vinte e dois.
Não quis pagar, não tinha grana.
Tava duro como pedra. Queria pedra, queria pó.
Uma bala, sem dó, fez o cara virar pó.
Não tinha grana, não tive pena.
Matei sim, e daí? Vai encarar?

Hoje cumpro pena.
Vinte e dois anos é muito tempo.

Muita gente me perguntando e eu pedi o Hahn que me explicasse o motivo de tais cenas, e veja o porque de tudo isso:


Paulinho, 

A foto em que aparece o Volmir Coelho vestido de presidiário foi tirada na Moenda da Canção, de Santo Antônio da Patrulha, realizada nesta final de semana. Ele foi o "canário" da composição VINTE E DOIS ANOS, de autoria dele e minha. Obtivemos o 2.º lugar, e ele, o prêmio de melhor intérprete. O trabalho teve no palco os seguintes músicos: PABLO PACHECO (bateria), EDIMILSON RODRIGUES (contrabaixo), DIOGO BARCELLOS (piano), CRISTIANO CESARINO (violão-aço) e VOLMIR COELHO (intérprete). 
COMO SURGIU ESTA OBRA:
Embora eu tenha 61 anos de idade, eu iniciei efetivamente a escrever letras há apenas uns quatro anos, instigado pelo meu compadre LEONARDO CHARRUA. No primeiro ano tínhamos apenas uma obra que por felicidade estreou em Butiá, vencendo a Linha Nativista da COXILHA NEGRA. A partir daí, criei coragem e comecei a escrever mais. Naquele festival, o mestre RÔMULO CHAVES, vencedor da outra linha do festival, a Linha Campeira, após o resultado, ele me convidou a enviar composições para o CANTO DOS ERVAIS, em Palmeira das Missões, que se realizaria dali a alguns meses. Eu respondi secamente: "Não vou mandar". O Rômulo, com sua característica educação e polidez, só faltou chorar. Então me perguntou: "Mas por que não, homem?" E eu respondi: "Porque eu só tinha esta composição". Caímos na risada.
O tempo foi passando e eu fui escrevendo a tentando fazer parceiros, mas, naquele início, praticamente só o Charrua musicava letras minhas.
Com o tempo surgiram, além de LEONARDO CHARRUA, parcerias com CRISTIAN SPERANDIR, MÁRIO TRESSOLDI, JEAN KIRCHOFF (saudoso vizinho, que morou a umas quadras de distância aqui em Nova Tramandaí, com sua adorável e insuperável cantora ANALISE SEVERO), ZULMAR BENITEZ, ITA CUNHA, ADRIANO SPERANDIR, NILTON JÚNIOR DA SILVEIRA, PIERO ERENO, JULIANO JAVOSKI, JULIANO MORENO, TIAGO MACHADO, ZÉ ALEXANDRE GOMES, ZEBETO CORREA, CATTULO CAMPOS, ODAILSO MACHADO, TIAGO MACHADO, LUÍS ROSADO, NENITO SARTURI, CHICO SAGA, DIEGO MACHADO, PAULINHO DICASA, RODRIGO MUNARI, ÉMERSON MARTINS, CAIO MARTINEZ, MAYKELL PAIVA, JOÃO BOSCO AYALLA RODRIGUES, NILTON FERREIRA, SÉRGIO ROSA, NIRION MACHADO, GERMANO REIS, BILORA, LENIN NUÑEZ, TIAGO CARLOTTO, CRISTIANO CESARINO, RAFAEL ZINHO, e VOLMIR COELHO. Espero não ter esquecido ninguém. 
Para organizar meus poemas, criei uma pasta onde os arquivo em envelopes plásticos. Levo a pasta para os festivais para fazer novas parcerias. Num destes festivais, não lembro qual, uma das letras eu retirei para algum destes meus parceiros. E ficou ali, um espaço vazio. Reservado pelo destino para a letra de VINTE E DOIS ANOS. 
Em meados do anos passado, ao ver na TV (num desses programas em que escorre o sangue no chão) uma mãe chorando a morte do filho, de 22 anos, que se envolveu com traficantes. Chocado com a cena, escrevi o texto. Mas não para ser musicado, apenas para escrever. Tenho mais alguns dessa linha. Imprimi o texto e deixei sobre a mesa. Uns dias depois, preparando-me para o IX Baqueria dos Piñares, em Vacaria, fui arrumar minha pasta de poemas. A coincidência fez-me colocar VINTE E DOIS ANOS no espaço vazio da pasta. Naquele festival, que, por felicidade, O Charrua e eu também vencemos, no domingo, no hotel, reunidos com músicos e jurados botei a pasta na mesa e convidei os presentes para parcerias. Naquele momento o VOLMIR COELHO, viu a letra e me disse: "Tu é loco. Eu não sabia que tu era tão loco." Fui ver qual a letra que ele tinha escolhido. Era VINTE E DOIS ANOS. Daí eu disse: " Tchê, mas isso não é para musicar, é muito longo, não tem estrofes definidas, nem métrica." "Deixa comigo", ele respondeu. Deu resultado. Compôs a melodia e me mandou a gravação. Ao ouvi-la, chorei emocionado. 
Inscrevi a obra no Reponte, mas não passou. Na segunda tentativa, passou na Moenda. Então, para caracterizar a personagem do texto, resolvemos teatralizar a apresentação. O Volmir vestiu roupa de presidiário e os músicos, fardamento de guardas de penitenciária. O Volmir subiu ao palco conduzido pelos "guardas", algemado. Sendo libertado das algemas para cantar. E cantou. Maravilhosamente. Foi o melhor intérprete. E marcamos presença num dos maiores festivais de nosso estado: a Moenda da Canção. 
Recebemos muitos abraços e felicitações. Também críticas por estarmos "fazendo apologia ao uso de drogas". Houve inclusive pessoas que acreditaram que o Volmir fosse um presidiário e nos perguntaram se ele teria que voltar à prisão. 
Nesta Moenda, além da felicidade de ser premiado, tive a honra de poder acolher em minha casa, junto a minha cachorrada, o Cristiano Cesarino, o Volmir Coelho, o Pablo Pacheco, meu compadre Leonardo Charrua, a Heleninha e a comadre Morgana (que é pé-quente). Fizemos os ensaios na casa do Diogo e da Perla Barcellos, em Santo Antônio. Ambos foram incansáveis em nos paparicar. Foram maravilhosos. 

Abraço

Carlos Roberto Hahn

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