terça-feira, 23 de maio de 2023

Horácio Guarany - Lições de Vida!


 “Meu pai era um índio bastante bravo. Claro, ele trabalhava no monte, com o machado, aí teve seus 14 filhos. Não tinha tempo para brincar com a gente, além disso não tinha cultura nenhuma, pobre velho. Mas aos domingos ela sentava-se em uma cadeira daqueles que se hamacham, que minha mãe fazia com o machado (ela fazia todos os móveis da casa) e comprava um litro de vinho. Bebia e cantava e acariciava a minha mãe. E então podíamos brincar com ele, subir no upa, tocar nele. Quando eu era grande pensei: que magia tem o vinho capaz de devolver ao homem a ternura pelos filhos, pela companheira, a vontade de cantar? Eu amo o vinho porque o trabalhador, que não pode ir de férias, nem ter uma casa como as pessoas, toma um vinho, como fazia meu pai, e reencontra-se com ele. Por esse dia ele está feliz.”

“O canto está dentro de um, é o que brota quando você é artista. Não é algo que se conduz. Por isso planejar o que você vai cantar é como planejar como você vai fazer amor: impossível. Só os armazeneiros de arte pensam o que vão fazer em cima do palco: o artista canta, não pensa o que vai cantar, isso seria para ficar bem, para ganhar os aplausos. Os armazeneiros, minha mãe! Eles procuram aplausos, para eles triunfar é que eles os aplaudem muito.”

“Um dia perguntei a Eduardo Falú, que é um verdadeiro artista, quando ia voltar para Cosquín. Disse-me: quando pararem de dizer 'a ver as palmitas'. Se você pedir aplausos, você não ganhou, você pediu. Como quando você está cantando e as pessoas falam. Eles gostam mais do que te ouvir. Você tem que fazê-los calar com seu canto, não pedindo silêncio.”

“O que acontece é que o mundo, e claro o nosso país, estão estabelecidos em bases falsas; querem nos fazer acreditar que a alegria é ganhar dinheiro e poder. Isso não são valores, são meios para explorar as pessoas. O homem deve cultivar os valores do amor, do sentimento, da honestidade. A alegria está em compartilhar, não em acumular.”

“Minha riqueza e dos meus compatriotas são minhas canções. Por uma razão os canalhas que dirigem o mundo fazem de tudo para que cada povo esqueça suas músicas e assim impor a sua própria. Olhe para os EUA, que com suas músicas comerciais minam os sentimentos de outros países: antes eles nos fizeram dançar com o boogie-boogie, agora com o rock. Eles fazem os meninos saltarem como se fossem macacos para depois olharem para a própria cultura como uma coisa miserável e acabem amando a ali, a dos outros. Estes ianques fazem o mesmo com o dólar. A música de um povo sustenta seus sentimentos. Sua fidalguia está na sua música.”
Horácio Guarany
(Do muro de El Chango Diaz)

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