quinta-feira, 16 de junho de 2011

COMO OS GAÚCHOS TOSAM SEUS CAVALOS


Solicitado por um amigo, procurei reunir nestas linhas, destinadas aos "Anais" da prestigiosa Associação dos Criadores de Cavalos Crioulos, o pouco que conheço sobre as diversas maneiras de tosar cavalos, em uso entre os gaúchos do Rio Grande.
Desconhecendo, em absoluto, a existência de qualquer trabalho ou literatura sobre o assunto, tratei de expor o que tenho visto e feito em quase vinte anos de vida de estância, nos municípios de Rosário, Livramento e Alegrete. Como verão os leitores dos "Anais", trata-se de simples conhecimento pessoal, limitado a pequena região da vasta campanha Rio-Grandense.
Outros criadores mais campeiros e que melhor conheçam os hábitos do gaúcho, poderão dar à revista da A. C. C. C. mais completas indicações, servindo-a melhor em seu desejo de reunir e publicar tudo o que se refere, aos usos e tradicionais costumes dos nossos gaúchos.
Clique na imagem para ampliarFig. 1 - Não é verdadeiramente um tôso. Devemos porém mencioná-lo por ser o primeiro que leva o bagual ao ser domado. Os gaúchos ao pegarem o pôtro para doma, conservam-lhe toda a crina, crescida pelos anos de potrilho, e a qual continua respeitada pela tesoura enquanto o animal é "de rédea". Ao receber o freio, tosanino pela primeira vez. O cavalo inicia, portanto, sua vida de serviço com toda a crina, sendo chamado "Quilinudo", quilina de potro ou bagual; ("Quilinia" é o que se ouve por crina).

Fig. 2 - "Côgotilho" é o tôso mais preferido, e apesar de ser um dos mais simples, é o mais bonito por dar graça ao contorno do pescoço. Nasce entre as orelhas com a altura de 1 cm.; segue elevando-se com harmonia (arco de barril), até ter de 4 a 5 cm de altura no meio do pescoço, e morre no " péga-mão " com a altura de 2 cm. Não é habito vir acompanhado da franja ou topete. É usado, geralmente por gaúchos de todas as idades.

Fig. 3 - "Ponta de lança", é um dos tôsos mais fáceis. Não leva topete. Começa entre as orelhas com altura de 1 ou 2 cm., continua em crescimento leve até ao "pega-mão", onde termina com uns 4 ou 5 cm. de altura. É pouco usado nos cavalos de montaria; encontra-se com mais freqüência em animais de carroça ou de andar de peães de estância. Para muitos este toso não dá graça alguma ao cavalo; até mesmo o faz representar mais feio de pescoço. Outros há que bastante o apreciam, usando.

Fig. 4 - "Meio-tôso", é feito com a repartição da crina de ponta a ponta; uma parte é tosada a côgotilho, e a outra deixa-se calda em toda a sua extensão, bem comprida e sem sinal de tesoura, ou então aparada à meia taboa do pescoço. Leva franja. É usado em cavalo de andar de mulher. É tôso bastante bonito e dá certa graça à cabeça do animal, principalmente quando esta é chimbé.

Fig. 5 - "Quilina aparada", conserva-se todo o cabelo da crina, que é somente aparado reto a meia altura da táboa do pescoço. Pode ser só de um lado ou de ambos, conforme a quantidade de crina do animal. Leva franja. Tôso preferido para, petiços de andar de crianças, e faz com que o animal represente ser menor. Também se vêm cavalos assim tosados, geralmente são de andar de pessoas velhas ou então cavalos de carro.

Fig. 6 - Não tem nome próprio. É o tôso cogôtilho com um negalho ou mecha de cabelo de 15 a 20 cm de comprimento, com uns 6 cm de largura na base da mecha. Leva franja. É freqüente ter um "passarinho" logo atrás das orelhas. Usado em cavalos recém enfrenados, quando os ginetes são solteiros e bem gaúchos.

Fig. 7 - "Tôso de passarinho", feito a côgotilho, sendo enfeitado com "passarinhos". Estes, são feitos a critério e gosto do tosador.


Fig. 8 - "Baianio", de origem militar, ou de fora do Estado, é tido entre os gaúchos como sinal de pouco gosto ou de não saber tosar. É cortado baixo, acompanhando todo o pescoço com a mesma altura de 1 ou 2 cm. Nada de topete.

Fig. 9 - "Meia quilina", leva franja, começa como o tôso de côgatilho e vai até o meio do pescoço; daí em diante fica a crina inteira e caída ao longo da táboa do pescoço. Esta modalidade é usada às vezes por domadores em baguais de rédea. Facilita o uso do buçal entre as orelhas e o resto da crina fica para tirar as cócegas do pingo.

Fig. 10 - "Tôso de égua de manada", usado em égua de cria e em cavalos velhos fora de serviço, dos quais se aproveita o cabelo para vender. É tosado rente ao couro, desde a cabeça até às cruzes (cernelha).


Fig. 11 - Vê-se neste desenho um tôso de passarinho, o pága-mão e o topete ou franja. Pega-mão é o nome dado à parte final da crina. Fica sobre as cruzes. Todo e qualquer tôso leva o pega-mão. Serve de auxílio ao pular em pelo no cavalo, sendo agarrado pela mão esquerda ao formar o salto para o lombo. A franja ou topete varia conforme o tôso ou gosto do tosador; usada somente para bonito, .não é muito freqüente.

Fig. 12 e 13 - Estas figuras, mostram que os passarinhos não abrangem toda a crina na largura; são feitos no meio da mesma. A crina varia de 6 a 2 cm de largura, conforme o cavalo seja Crioulo ou mestiço Inglês. Em cavalo Crioulo, o passarinho tem 1 ou 2 cm de largura no máxima, com 4 cm de altura. Nos mestiços será feito na largura de toda a crina, isto é 2 cm. Já não é tão bonito e nem bem ao gosto Crioulo. Finalizo esta pequena: descrição fazendo ‘votos para que outros criadores dêem aos "Anais" mais. detalhes sobre a arte de tosar os pingos na campanha sul riograndense.

                                                                                            Raul Annes Gonçalves
Fonte: Anais da ACCC,

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