terça-feira, 3 de maio de 2016

Depois que a tropa se estende!

Paulo Ricardo Costa/Eri Cortes
Rasgam o silêncio as frases feitas dum par de esporas...
Retrucando a aurora de pêlo lobuno em campo vazio,
Roncos de mate de erva encharcada anuncia o final...
O mesmo ritual herdada no tempo, nesses dias de frio.
Lá fora o gateado de casco aparado na espera da encilha,
Bombeia a coxilha de orelha apontada pro fundo do posto,
O pêlo lustroso de pronto se enfeita na estampa dum basto...
Tenteando o pasto, branco de geada das manhãs de agosto.
O berro do gado anuncia que a tropa se vem pr’ao rodeio...
Cantigas de arreio, recitando versos no lombo dos pingos,
Um ruflar de palas me traz a melodia e a alma se rende...
A tropa se estende, num belo regalo, da manhã de domingo.
Sombras compridas rastejam na grama de trevo e capim,
E um som de clarim desponta no berro da tropa estendida,
Uma copla campeira retruca num verso de notas dolentes,
E a alma ainda sente, a dor de saudade, na hora da partida.
O rancho distante que emoldurado no azul das retinas...
E o perfume da china vem junto comigo nas dobras do pala,
Carícias guardadas em doces meneios de uma despedida...
Co’a tropa estendida, ponteando ao silêncio, a alma se cala.
O berro do gado quebra o silêncio de um fim de corredor,
E um zaino escarceador parece entender o fim da tropeada...
Pingos por diante de volta pra estância, seguindo na lida,
E a tropa estendida enfeitando pastos de outra invernada.

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