domingo, 30 de março de 2014

CENAIR MAICÁ

Na foto Noel Guarany, Pedro Ortaça, Cenair Maicá, Chaloy Jara e Dedé Cunha

"Depois que deixou este mundo
Virou uma estrela pequena,
Com quatro pontas de luz,
Que nem a cruz de Lorena!..."
(DM-JS)

Se destacou em seu trabalho por cantar temas como natureza, água, terra e índios. Integra a cultura missioneira sulina formada por nomes como Noel Guarany, Jayme Caetano Braun e Pedro Ortaça. O grupo de amigos e artistas colaborou para que a identidade gaúcha se expandisse para além da região da campanha. Cenair Maicá nasceu em 3 de maio de 1947, em Tucunduva, mas passou a maior parte da sua vida em Santo Ângelo. Começou a carreira musical aos 10 anos, ao lado do irmão Adelqui, formando a dupla Irmãos Maicá. Morou com o pai, que era boiadeiro, durante uma década na Argentina. Foi vendedor de máquinas de escrever, administrou restaurante turístico em São Miguel. Participou de apresentações ao lado de José Mendes e chegou a ter música proibida pela censura. Em 1970, vence o Festival Correntino, em Santo Tomé, na Argentina, com “Fandango na Fronteira”. Cenair divide o palco com o parceiro da composição, Noel Guarany. A vitória no evento favoreceu a gravação, no mesmo ano, do compacto “Filosofia de Gaudério”. O primeiro disco solo, “Rio de minha Infância”, seria gravado oito anos depois. A produção e a direção foram de Noel Guarany, também autor de quatro das dez músicas do álbum. Com uma voz característica, ora forte, ora suave, foi autor e intérprete de sucessos como “Homem Rural”, “João Sem Terra”, “Rio Ibicuí” e “Da terra nasceram Gritos”. Cenair era um ativista. Cantava por uma causa. Um exemplo são os versos de um dos seus maiores sucessos, “Canto Livre”: “Se meu destino é cantar, eu canto / Meu mundo é mais que chorar, não choro / A vida é mais do que um pranto, não sonho / Como um matize sonoro / Hay os que cantam desditas de amores, / Por conveniência, agradando senhores. / Mas os que vivem a cantar sem patrão / Tocam nas cordas do seu coração.” Em entrevista ao Jornal Zero Hora, em 1985, disse: - "Eu canto o que vivo, não minto. O que não vivi, pego de outros poetas para cantar!" Em 1983, perde um dos rins. Na sequência, a saúde começa a ficar cada vez mais debilitada. Morre em 1989, aos 41 anos, na capital gaúcha. Como era de seu desejo, foi enterrado pilchado, de botas e lenço vermelho!

Pequeno causo sobre Cenair Maicá: "Contam que, numa triagem de um festival nativista em que ele era avaliador, outro jurado pressionava para a classificação de uma música muito ruim, insistindo que estava apenas mal gravada, mas que ao vivo, em palco, ficaria bem melhor e tal, etc, etc. Ao fim, Cenair respondeu: Companheiro, de bosta não se faz merengue nem com um caminhão de açucar. E essa história se incorporou ao folclóre dos festivais e do nosso cantor das águas!"


(Video do Galpão Crioulo - João sem terra: Tema de Jayme Caetano Braun e Cenair Maicá)

"Além de cantar coisas alegres, devemos cantar algo que nos sensibilize no sentido de resolver problemas. Temos a força, a oportunidade e os canais de comunicação. Temos o dever de sermos úteis!" (Cenair Maicá - 1983)

Texto: Diego Muller

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