As danças estão impregnadas do verdadeiro sabor crioulo do Rio Grande do Sul, são legítimas expressões da alma gauchesca. Em todas elas está presente o espírito de fidalguia e de respeito à mulher, que sempre caracterizou o campesino rio-grandense. Todas elas dão margem a que o gaúcho extravase sua impressionante teatralidade. Danças que sufoquem a teatralidade do gaúcho, ou que venham colidir com o respeito que o gaúcho nutre pela mulher, jamais poderiam ter vingado no ambiente gauchesco.
Estas danças são gaúchas não porque tivessem se originado inteiramente no ambiente campeiro, mas porque o gaúcho, recebendo-as de onde quer que fosse, lhes deu música, detalhes, colorido e alma nativa.
A música popular pode ser uma manifestação puramente individual. A dança popular sempre será uma manifestação coletiva.
A formação das danças populares obedece a fatores e influências distintas daquelas que se observam na formação da música popular. Na música prepondera a criação direta do indivíduo. Na dança, a força criadora mais potente se encontra no grupo social.
A origem das mais antigas danças populares brasileiras está escondida na Espanha dos séculos XVII e XVIII. E a origem imediata das danças gaúchas mais antigas se encontra nas velhas danças brasileiras. O Rio Grande do Sul iniciou seu processo de formação dois séculos e meio após a descoberta do Brasil; assim sendo, o Estado mais meridional da União sentiu, já em suas raízes, como principal força de influência, aquela profunda mestiçagem cultural que dois séculos de povoamento haviam elaborado no Brasil.
A mais típica representação tradicional do Rio Grande do Sul, no campo das danças, é o velho "fandango". Chamou-se "fandango', no antigo Rio Grande, a uma série de cantigas entremeiadas de sapateado. Estas canções, bem como o ritmo, a música, enfim eram essencialmente mestiças do Brasil; já o sapateado, amoldado ao ritmo regional, se originara das antigas danças de par solto, características da romântica Espanha. Estes bailados espanhóis constituíram o primeiro "ciclo" ou "geração" coreográfica que interessa ao estudo da formação das danças populares brasileiras.
Lançado da Corte de Luiz XIV veio o Minueto, mais tarde, dar origem a nova geração coreográfica: as danças graves, de pares ainda independentes uns dos outros.
Da Inglaterra surgiu a "country dance" - e esta gerou o ciclo das contradanças e quadrilhas, bailados de conjunto, sob comando, de pares absolutamente dependentes uns dos outros.
Finalmente, a valsa veio abrir caminho para uma última geração coreográfica, que chegou até nossos dias: as danças de pares enlaçados.
Uma página do tradicionalista Cezimbra Jacques, escrita em fins do século passado, resume - com referência ao Rio Grande do Sul - tudo o que poderíamos dizer sobre o processo de formação das danças gaúchas. Eis o tópico essencial: "O fandango, que até pelos anos de 1839 e 1840 ainda era muito usado, foi sendo substituído pelas danças vindas da Europa, como o ril, a gavota, o sorongo, o montenegro, a valsa e, mais tarde, as polcas, os chotes, as contradanças, as mazurcas e, finalmente, as lindas havaneiras, expressão musical do langor e dos requebros".
Fonte: Paixão Cortes e Barbosa Lessa
Nesse belíssimo texto escrito por Paixão Cortes e Barbosa Lessa, mostra o que o nosso gauchismo não quer ver, quase todas as danças, tão exaltadas nos concursos e apresentações, vieram da Espanha, ou melhor, dos grandes Salões da Burguesia Espanhola, e foi se infiltrando pelos rústicos CTGs, que naquela época era da mais pura autenticidade campeira. Só não consigo entender, como pode essa indumentária fantasiosa e esdrúxula pode permanecer dentro dos Centros de Tradições e uma bombacha que se diz "Castelhana" não. Porque não aceitar a boina e a alpargata, visto que ambas, também vieram da Espanha, só que essas das classes pobres.
Talvez um dia, alguém possa me ensinar essas coisas que não entendo, ou será que nosso Tradicionalismo é feito para os Burgueses?
Me ajudem ai, ô!
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