O Sinuelo dos tauras,
Bandeira dos livres,
Eu sinto que vives
Flaneando nas almas
Inspira e acorda
Com a luz que recorda
O berço e a origem.
Não me fiz de rogado e como padre que vai a Roma não deixa de ir no Vaticano, dei um jeito de conhecer a casa onde nasceu o Jaime. o que, para mim, é a Catedral Missioneira do Verso Xucro.
Já Conhecia a Lápide em homenagem à Cenair, em Santo Ângelo e a Estátua do Jaime, no acesso a São Luiz Gonzaga.
Fiquei conhecendo o Túmulo-Monumento em homenagem ao Noel e, como disse anteriormente, procurei conhecer o Monumento ao Jaime, que em sua infinita sabedoria, o Arquiteto do Universo, sendo Justo e Perfeito e Sabedor do Ontem, do Hoje e do Amanhã, já, por meio dos homens, projetara.
Ao pisar naquele Santuário, a emoção foi realmente incomensurável.
Era sexta feira, dia dos finados, no meio da tarde. De repente, e não mais que isso, um vento sudeste, insistente e morno começa a varrer as coxilhas e levantar o pó da terra vermelha que se depositara sobre o lajeado, por causa das fortes chuvas da semana passada.
Para me proteger deste surpreendente fenômeno, caminhei em direção da porta, que nesta altura começava a bater fortemente no marco, e num upa estava eu, sobre o chão sagrado daquela morada.
Quando entrei, uma janela de folha arrevezada fazia o vento assobiar.
Até fiquei com uma dúvida: que estranho, eu conheço este assobio e não parece ser do vento.
O tempo foi passando e o tal do vento foi diminuindo, diminuindo, foi ficando num sussurro. De sopetão, recrudesce novamente e do quarto dos fundos, onde o Jaime nascera, eu juro que ouvi, como uma voz que surgia daquelas paredes: e a china, tchê??
Bueno, correu um arrepio que levantou os pelos da paleta até o fim do espinhaço. Me mandei a lá cria e, ainda meio assoleado, sentei num cepo de guajuvira e fiquei na sombra de um frondoso cinamomo sobrinha, que - soube depois - fora um dos que o Jaime plantou na adolescência.
Toda essa emoção me deixara de goela seca e como percebi que havia um poço, ainda mais velho que a casa, resolvi me refrescar e matar a sede.
Vi um monte de telhas e sobre elas, ajoujado a uma lonca de couro cru, uma cambona velha - provavelmente contrabandeada da Argentina por algum chibeiro - pois ainda se podia ler: Aceite Cocinero, Producto Argentino, producción 1947.
Peguei a dita, mandei prá dentro do poço e de lá retirei água fresca para me refrescar e beber. Quando fui botar a tal da cambona no mesmo lugar, senti curiosidade de saber de onde vinham as telhas.
Foi aí que o posteiro me disse: são da casa do Jaime. Então reparei que a casa estava coberta com telhas de amianto.
Na prosa com o peão, ele me explicou que haviam feito a troca no dia anterior, porque uma semana antes havia ventado e chovido muito e começaram a aparecer goteiras, e a dona resolveu o problema trocando a cobertura.
Ao retornar ao CTG Sombra de Carreteiro, comentei com os aparentados e percebi que eles não estavam ao par do acontecido.
Quando cheguei à Porto alegre, rememorando os fatos, foi que me dei conta do que estava acontecendo: A casa do Jaime - Catedral Missioneira do Verso Xucro, prá mim - estava desaparecendo e se algo não fosse feito, o Monumento, certamente inspirado pelo Criador, mesmo antes do Payador nascer, desapareceria.
E, de nada adianta a construção de mausoléus e estátuas, se deixarmos morrer o que ainda resta de original e verdadeiro. É como plantar um belo e florido jacarandá, sem raiz. Ele morre, assim como irá morrer o que ainda resta da Cultura Missioneira.
Ainda é tempo. Todo o material está em volta da casa e talvez se precise de algum esforço para recolocá-lo, mas se todos se unirem acredito que isso seja possível.
Reconheço que a casa é propriedade particular, bem como o terreno em que ela se encontra. Por isso entendo que não temos nenhum direito de meter a mão, mas temos todo o dever de exigir que a memória do Jaime seja respeitada e este respeito, sem dúvida, passa pela preservação das poucas coisas que ainda permanecem quase inteiras.
Para ilustrar o que te disse te envio duas fotos: uma, com as telhas originais, tirada há menos de um mês e a outra, que eu mesmo fotografei no dia 02/11, já com as telhas de amianto.
Se necessitares alguma confirmação, acredito que a patronagem do CTG - Srª. Soeli Antunes e seu esposo Carlos Antunes, (masoeli@hotmail.com) - não te negará, mesmo sendo parentes da atual proprietária a Profª. Ana Tereza.
Bueno, como o chasque tá mais comprido que discurso de gago, vou finalizar. E,sabedor que o teu blog retumba em todos os cantos deste estado, te proponho que, se achares por bem, iniciemos um movimento que grite, para impedir que esta devassa continue e que, se possível, permaneça em pé e sem qualquer descaracterização a Catedral Missioneira do Verso Xucro.
Amigo, será que esta luta vale a pena?
Com Saudações Gaudérias.
Juarez (O Xirù)
Casa de Jayme Caetano com o telhado original - outubro de 2012
Casa de Jayme Caetano com o novo telhado - novembro de 2012
Não podemos deixar a história de um Homem morrer no marasmo de nossas autoridades. Escrevi aqui um dia, o que estão fazendo com a casa do grande Jaime Caetano Braun, lá na Timbaúva, interior de Bossoroca e não fiz nada mais do que me preocupar com o desleixo de gente que poderia e que ainda podem fazer alguma coisa. Hoje recebi um e-amil do Xiru e fiquei muito feliz, pois vou postar na integra, por sei que ele é tão ou mais preocupado com esse fato e que juntos poderemos, quem sabe dar um sopro no mente dos poderosos e quem sabe eles acordem para esse fato triste.