O
chimarrão ou
mate é uma bebida característica da cultura do sul da
América do Sul, legada pelas culturas
indígenas caingangue,
guarani,
aimará e
quíchua. É composto por uma
cuia, uma
bomba,
erva-mate moída e
água a aproximadamente 80
graus centígrados. O termo
mate (oriundo do
quíchua mati)
[1] como sinônimo de chimarrão é mais utilizado nos países de
língua castelhana. O termo "chimarrão" é o mais adotado no
Brasil, sendo um termo oriundo da palavra
castelhana rioplatense cimarrón.
[2] O termo "chimarrão" pode, ainda, designar qualquer
bebida (
café,
chá etc.) preparada sem
açúcar; o
gado domesticado que retornou ao estado de vida selvagem; e o
cão sem dono, bravio, que se alimenta de animais que caça.
[3]
O Chimarrão
O chimarrão é montado com erva-mate moída, adicionada de água quente (sem ferver, aproximadamente 80°C). Tem sabor amargo, dependendo da qualidade da erva-mate. A erva pronta para o uso consiste em folhas e ramos finos de
Ilex paraguariensis (menos de 1,5 milímetros), secos e triturados, passados em peneira grossa, de cor que varia do verde ao amarelo-palha, havendo uma grande variedade de tipos, uns mais finos, outros mais encorpados, vendidos a diversos preços. O predomínio de folhas ou talos em sua composição, bem como sua
granulometria, variam de região para região.
Um aparato fundamental para o chimarrão é a
cuia, vasilha feita do
fruto da
cuieira ou do
porongo, que pode ser simples ou mesmo ricamente lavrada e ornada em
ouro,
pratae outros
metais, com a largura de uma boa caneca e a
altura de um copo fundo, no formato de um seio de mulher (no caso do porongo) ou no de uma esfera (no caso da cuieira). Há quem tome chimarrão em outros recipientes, mas a prática é geralmente mal vista.
O outro talher indispensável é a
bomba ou bombilha, um canudo de cerca de seis a nove milímetros de
diâmetro, normalmente feito em prata lavrada e muitas vezes ornado com pedras preciosas, de cerca de 25
centímetros de comprimento, em cuja extremidade inferior há um pequeno filtro do tamanho de uma
moeda e, na extremidade superior, um bocal, muitas vezes executado em folhas de ouro para evitar a oxidação de metais menos nobres.
Propriedades medicinais e nutritivas
Estudos detectaram, na bebida, a presença de muitas vitaminas, como as do
complexo B, a
vitamina C e a
vitamina D, e de
sais minerais, como
cálcio,
manganês e
potássio. Combate os
radicais livres. Auxilia na digestão e produz efeitos antirreumático, diurético, estimulante e laxante. Não é indicado para pessoas que sofrem de insônia e nervosismo, pois é estimulante natural. Contém
saponina, que é um dos componentes da
testosterona, razão pela qual melhora a
libido.
Análises e estudos sobre a
erva-mate têm revelado uma composição que identifica diversas propriedades benéficas ao ser humano, pois estão contidos, nas folhas da erva-mate, alcaloides (
cafeína,
teofilina,
teobromina etc.), ácidos fólicos e cafeico (
taninos),
vitaminas (A, B1, B2, C, e E),
sais minerais (
alumínio,
ferro,
fósforo,
cálcio,
magnésio,
manganês e
potássio),
proteínas (
aminoácidos essenciais), glicídeos (
frutose,
glucose,
sacarose etc.),
lipídios (óleos essenciais e substâncias ceráceas), além de
celulose,
dextrina,
sacarina e gomas.
O consumo da erva-mate está relacionado também ao poder que ela tem de estimular a atividade física e mental, atuando beneficamente sobre os nervos e músculos, combatendo a
fadiga, proporcionando a sensação de saciedade, sem provocar efeitos colaterais como
insônia e
irritabilidade (apenas pessoas sensíveis aos estimulantes contidos na erva-mate podem sofrer algum efeito colateral). A erva também atua sobre a circulação, acelerando o ritmo cardíaco e harmonizando o funcionamento bulbo medular. Age sobre o tubo digestivo, facilitando a digestão sendo
diurética e laxativa. É considerada ainda um ótimo remédio para a pele e reguladora das funções cardíacas e respiratórias, além de exercer importante papel na regeneração celular.
Assim, os pesquisadores concluíram que o mate contém praticamente todas as vitaminas necessárias para sustentar a vida, e que a erva-mate é uma planta indiscutivelmente especial, já que é muito difícil encontrar em qualquer lugar do mundo outra planta que se iguale ao seu valor nutricional.
[8]
No entanto, existem pesquisas que investigam a ligação entre a ingestão de chimarrão em alta temperatura e o
câncer de esôfago.
[9]
Características
- Digestiva
- É um moderado diurético
- Estimulante das atividades físicas e mentais
- Auxiliar na regeneração celular
- Elimina a fadiga
- Contém vitaminas - A, B1, B2, C e E
- É rica em sais minerais como cálcio, ferro, fósforo, potássio e manganês
- É um estimulante natural que não tem contraindicações
- É vasodilatador: atua sobre a circulação, acelerando o ritmo cardíaco
- Auxiliar no combate ao colesterol ruim (LDL), graças a sua ação antioxidante
- Por ser estimulante, possui, também, poderes afrodisíacos, graças à vitamina E presente na erva-mate
- É rica em flavonoides (antioxidantes vegetais) que protegem as células e previnem o envelhecimento precoce, tendo um efeito mais duradouro pela forma especial como se toma o mate
- Segundo o médico pesquisador Oly Schwingel, é indicado o uso do chimarrão de duas a três vezes ao dia
- Previne a osteoporose, fortalecendo a estrutura óssea graças ao cálcio e às vitaminas contidas na erva-mate
- Contribui na estabilidade dos sintomas da gota (excesso de ácido úrico no organismo)
- É rico em fibras que contribuem para o bom funcionamento do intestino
- Auxiliar em dietas de emagrecimento
- Atua beneficamente sobre os nervos e músculos
- Regulador das funções cardíacas e respiratórias
- Segundo o Instituto Pasteur da França e a Sociedade Científica de Paris, a erva-mate possui praticamente todas as vitaminas essenciais à manutenção da vida humana[10]
Etiqueta
O chimarrão tradicionalmente é uma "bebida coletiva", hábito derivado da tradição indígena de compartilhar a bebida em rituais comunitários. Porém é comum alguns aficionados o tomarem durante todo o dia, mesmo a sós. Embora seja cotidiano o seu consumo doméstico, principalmente quando a
família se reúne, é quase obrigatório quando chegam visitas ou hóspedes. O chimarrão é símbolo da hospitalidade sulista: quem chega como visita em uma casa dessa região, é logo recebido com uma cuia de chimarrão. Então assume-se um ar mais cerimonial e ritualístico, embora sem os rigores de cerimônias como a do
chá japonês.
A água não pode estar em estado fervente, pois isso queima a erva e modifica seu gosto. Deve apenas esquentar o suficiente para "chiar" na chaleira. Enquanto a água esquenta, o dono (ou dona) da casa prepara o chimarrão na cuia.
Há quem diga que isso acaba estabelecendo a
hierarquia social dos presentes, mas é unânime o entendimento de que tomar chimarrão é um ato amistoso e agregador entre os que o fazem, comparado muitas vezes com o costume do cachimbo da paz dos índios norte-americanos. Enquanto você passa o chimarrão para o próximo bebê-lo, ele vai ficando melhor, mais suave. Isso é interpretado poeticamente como você desejar algo de bom para a pessoa ao lado e, consequentemente, às outras que também irão beber o chimarrão.
Nesse cenário, o preparador é quem é visto mais
altruisticamente. Além de prepará-lo para outras pessoas poderem apreciá-lo, é o primeiro a beber, em sinal de
educação, para testar a temperatura e o gosto do primeiro chimarrão que é o mais amargo. Também é de praxe o preparador encher novamente a cuia com água morna (sobre a mesma erva-mate) antes de passar cuia, para as mãos de outra pessoa (ou da pessoa mais proeminente presente), que, depois de sugar toda a água, deve também renovar a água antes de passar a cuia ao próximo presente.
Na
Região da Campanha do Rio Grande do Sul, a
roda do mate, começa com o preparador (geralmente o dono da casa ou estabelecimento, em locais mais informais, o dono dos apetrechos) tomando o primeiro e o segundo chimarrão, que depois é passado para o primeiro à sua esquerda, e assim sucessivamente. Pode-se entrar na roda de chimarrão a qualquer momento, mas depois de estar nela, o correto é esperar até que chegue sua vez novamente e ninguém deve ser
favorecido, passando o chimarrão fora da ordem. Após terminar o chimarrão, devolve-se a cuia com a mão direita para quem está servindo. Também não costuma-se agradecer a cada chimarrão consumido, pois quando alguém pronuncia a palavra "obrigado" na roda de chimarrão, ao final de um mate, devolvendo a cuia, é sinal que está satisfeito e não beberá mais o chimarrão naquela oportunidade.
Não se esqueça de tomar o chimarrão totalmente, fazendo a cuia "roncar". Se considera uma situação desagradável quando o chimarrão é passado adiante sem fazer roncá-lo porque o próximo da roda tem direito a um novo mate com água nova na temperatura certa.
Consumo
Influência na cultura popular
A cultura indígena da preparação e ingestão da erva-mate foi assimilada pelos colonizadores europeus, estando atualmente bastante arraigada na vida cotidiana das pessoas do sul da América do Sul. O hábito de se tomar o chimarrão passa de geração a geração, sendo iniciado já na infância.
A banda do
Rio Grande do Sul Engenheiros do Hawaii compôs uma
canção chamada "Ilex Paraguariensis", em homenagem ao chimarrão. No mesmo estado brasileiro, a
microcervejaria Dado Bier lançou uma
cerveja de mate, a "Ilex".
[11] Na
Alemanha, na cidade de
Berlim, também é produzida uma cerveja à base de mate produzida pela empresa Meta Mate.
[12] A chamada Mier já foi produzida em diversos países europeus graças à receita aberta,
[13] que permite que qualquer pessoa produza sua própria versão em qualquer cervejaria, através da licença
Creative Commons.
Fonte: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.